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Capítulo 9

Author: Sofia Braga
No início do ano, Valentina havia comprado um apartamento no condomínio Paz do Monte, que ficava ao lado do seu estúdio.

O imóvel tinha 140 metros quadrados, com três quartos. Um era para ela, outro para sua mãe, e o terceiro, menor, foi transformado em um escritório.

Era um apartamento bem decorado, e Valentina havia contratado uma empresa de design de interiores para ajustar a parte de decoração. A reforma havia sido concluída três meses antes, e o espaço estava pronto para morar, bastando apenas levar seus pertences.

Depois de levar suas malas para o novo lar, Valentina voltou para o estúdio.

Ela trabalhou na sala de restauração até de madrugada, até chegar ao limite de suas forças. Exausta, arrastou o corpo cansado até a sala de descanso.

Após tomar banho, ela deitou-se na cama e, assim que fechou os olhos, mergulhou em um sono profundo. Mas aquela noite não foi tranquila. Valentina teve vários sonhos confusos e, ao acordar, não conseguiu se lembrar de nenhum deles.

Com a cabeça pesada, ela massageou as têmporas e foi ao banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes.

Ao sair, viu o celular vibrando em cima da mesa de cabeceira. Era Lucas.

Valentina não atendeu.

Ela tinha uma boa ideia do motivo pelo qual Lucas estava ligando: era por causa de Gabriel. Mas agora que havia decidido se divorciar, ela achava melhor cortar todos os laços de forma limpa e definitiva.

Gabriel, no fim das contas, era filho biológico de Cecília. Valentina acreditava que, com o tempo, Gabriel transferiria sua dependência emocional para a mãe verdadeira.

Depois de trocar de roupa, Valentina guardou o celular na bolsa e saiu em direção ao hospital.

No consultório de Lívia, no setor de ginecologia obstetrícia do hospital.

— De acordo com a data da sua última menstruação e o ultrassom, você está com 5 semanas e 4 dias de gestação. — Lívia entregou o relatório para Valentina.

Valentina pegou o documento, mas, ao olhar para a imagem preto e branco do ultrassom, sentiu o coração apertar.

— E aqui… — Lívia apontou para o pequeno saco gestacional na imagem. — Parece que são gêmeos.

Valentina ficou atônita. Ela levantou os olhos para Lívia, surpresa.

— Você tem certeza?

— Ainda estamos na quinta semana. Por enquanto, só conseguimos ver dois sacos gestacionais. — Lívia explicou. — Quando chegar por volta da sétima semana, se ambos apresentarem batimento cardíaco, poderemos confirmar que são gêmeos. E, pelo que parece, são bivitelinos, o que significa que podem ser um casal de gêmeos!

Valentina segurava o relatório com força, apertando os lábios pálidos. Ela queria responder, mas nenhuma palavra saía.

Lívia percebeu que Valentina estava hesitando. No fundo, ela sabia que a amiga estava balançada. Afinal, eram seus próprios filhos. E mais, poderiam ser gêmeos. Quem seria capaz de tomar uma decisão tão difícil?

Além disso, esses bebês eram filhos de Lucas. Lívia conhecia bem os sentimentos de Valentina por ele.

Por cinco anos, Valentina havia amado Lucas de forma incondicional e silenciosa, como uma dívida de gratidão que ela nunca questionou. Mas, na verdade, essa relação sempre foi unilateral. Valentina amou de forma humilde e consciente, enquanto Lucas, provavelmente, jamais havia se envolvido emocionalmente.

— Vou pensar. — Finalmente, Valentina quebrou o silêncio. Ela levantou os olhos para Lívia, com um olhar perdido e lágrimas acumulando nas bordas de seus olhos. — Quando eu decidir, te aviso.

Lívia suspirou, com o coração apertado ao ver a amiga naquele estado.

— Você tem até a 12ª semana para fazer uma escolha.

— Certo. — Valentina colocou o relatório na bolsa. — Por favor, não conte a ninguém sobre a gravidez.

— Pode deixar.

Lívia tinha pacientes esperando, e Valentina não quis tomar mais o tempo da amiga. Após se despedir, ela deixou o consultório e seguiu para o elevador.

No térreo, ao sair do elevador, Valentina levantou os olhos e, para sua surpresa, viu Lucas entrando pela porta principal do hospital, carregando Gabriel nos braços.

Ao notar o adesivo de febre na testa de Gabriel, Valentina sentiu o coração apertar.

Gabriel, ao vê-la, abriu um sorriso, mesmo com o rostinho abatido pela doença.

— É a mamãe!

Lucas parou de andar e também olhou para Valentina.

— Mamãe! — Gabriel chamou novamente, animado.

Lucas se aproximou dela, carregando Gabriel.

Valentina, que realmente amava Gabriel, imediatamente colocou a mão no rosto do menino. Ele ainda estava com febre.

— O que aconteceu? Por que ele está com febre? — Ela perguntou, preocupada.

Lucas respondeu com um tom calmo e indiferente:

— Ontem à noite, ele comeu um pouco de sorvete.

Gabriel, ouvindo isso, ficou imediatamente envergonhado e começou a mexer nos dedos, nervoso.

Na verdade, ele tinha comido uma caixa inteira de sorvete. Era a primeira vez que sua mãe, Cecília, comprava algo para ele, e ele achou que não podia desperdiçar.

Mas Gabriel não tinha coragem de contar a verdade. Ele sabia que, se Valentina descobrisse que ele havia comido tanto sorvete, ela ficaria brava com Cecília. E Gabriel não queria que Valentina brigasse com sua mãe. Afinal, Cecília era tão gentil e amorosa com ele.

Gabriel, com medo de que Valentina continuasse perguntando, estendeu os braços em sua direção.

— Mamãe, você pode me pegar no colo?

Valentina, por instinto, quase levantou os braços, mas, ao lembrar que estava grávida, parou o movimento no mesmo instante.

Ela acariciou os cabelos de Gabriel e disse:

— A mamãe não está se sentindo muito bem. Deixa o papai te segurar, tá bom?

Ao ouvir isso, Gabriel fez um bico de insatisfação. Era a primeira vez que Valentina recusava pegá-lo no colo.

Mesmo quando estava doente, Valentina nunca deixava de abraçá-lo. Será que ela estava brava com ele?

Gabriel começou a observar Valentina com cuidado. Quando viu que ela realmente parecia cansada, uma onda de preocupação tomou conta dele.

— Mamãe, você está brava comigo? — Ele perguntou, com os olhos grandes e brilhantes, cheios de arrependimento. — Me desculpa… Eu não devia ter escondido que comi sorvete. Eu prometo que nunca mais vou comer sorvete!

Desde pequeno, Valentina não permitia que Gabriel comesse sorvete ou qualquer outro alimento gelado. Ele tinha asma congênita e um sistema digestivo fraco, e os médicos sempre recomendaram que doces e alimentos frios fossem evitados.

Valentina estava prestes a explicar isso para ele, mas Lucas falou antes, com um tom firme e confiante:

— Sua mãe nunca ficaria brava com você.

A segurança na voz de Lucas a surpreendeu, fazendo com que suas pálpebras tremessem ligeiramente. Ela apenas apertou os lábios, sem dizer nada.

Gabriel olhou para Valentina, em busca de confirmação.

— Mamãe, você não está brava mesmo?

Valentina sorriu levemente para ele.

— Claro que não, meu amor.

— Então… — Gabriel continuou, com os olhos vermelhos e a voz cheia de emoção. — Mamãe, você pode ficar comigo hoje? Eu estou me sentindo mal… Eu queria tanto tomar a sua canja de galinha.

Valentina hesitou por um momento, mas acabou assentindo.

— Tudo bem, vou fazer para você.

Depois de passar pelo médico, Gabriel foi diagnosticado com inflamação na garganta.

O médico prescreveu alguns remédios e recomendou repouso, muita hidratação e uma alimentação leve.

De volta à Villa Monteverde, Lucas levou Gabriel para o quarto e o colocou na cama para descansar. Valentina foi para a cozinha preparar a canja de galinha que Gabriel havia pedido.

Depois de meia hora, Valentina subiu as escadas com uma bandeja nas mãos, onde estava o prato quente de canja.

Quando chegou ao quarto de Gabriel, a porta estava apenas entreaberta, e a voz do menino podia ser ouvida:

— Mamãe, não precisa se preocupar. O médico disse que é só tomar o remédio que eu vou melhorar… Não foi culpa sua, viu? Se você não tivesse comprado o sorvete, eu nem ia saber que sorvete é tão gostoso! E os biscoitos, as batatas e os pirulitos também são deliciosos! Eu nunca tinha comido tantos doces e salgadinhos assim antes!

Valentina parou no meio do caminho, segurando a bandeja, seus movimentos congelados.

A voz de Gabriel continuava:

— A mamãe Valentina não vai ficar brava comigo. Ela só vai ficar preocupada porque eu estou doente. Na verdade, agora mesmo ela está lá embaixo preparando canja de galinha para mim! Mamãe, você também precisa se cuidar. Eu não vou te visitar esses dias porque tenho medo de passar o resfriado para você… Mas não se preocupe, a mamãe Valentina vai cuidar de mim direitinho!

Valentina ficou parada na entrada do quarto, segurando a bandeja, seus dedos apertando com mais força o prato.

Cecília havia dado tantos doces e comidas inadequadas para Gabriel!

Mas o que realmente a incomodava era perceber o quanto Gabriel já havia se apegado a Cecília em tão pouco tempo.

Ela sabia que não tinha o direito de se sentir assim. Afinal, Cecília era a mãe biológica de Gabriel. Mas ouvir o menino chamar Cecília de "mamãe" tantas vezes ainda era doloroso.

Por mais que Valentina tivesse se dedicado a Gabriel de todo o coração, no final, o laço de sangue sempre falava mais alto. Não importava o quanto ela tentasse, ela sempre seria uma estranha.

Depois de terminar a ligação com Cecília, Gabriel finalmente lembrou de Valentina.

Ele chamou por ela do quarto:

— Mamãe!

Mas Valentina não respondeu.

Gabriel decidiu descer as escadas para procurá-la. Ele foi até a cozinha, mas não a encontrou lá.

Quando saiu da cozinha, seus olhos caíram sobre a mesa de jantar. Sobre ela, havia uma tigela de canja de galinha quente, deixada ali por Valentina.
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