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Capítulo 7

Author: Sofia Braga
Valentina não olhou para o documento. Em vez disso, segurou a papelada e encarou Cecília.

— Diga ao Lucas que o meu advogado entrará em contato para tratar do divórcio.

Depois de falar, ela se virou, prestes a sair.

Cecília se levantou rapidamente.

— Valentina, o Gabriel está com você?

Valentina parou de andar e lançou um olhar de soslaio para ela.

A voz de Cecília saiu suave, carregada de um tom quase suplicante.

— Faz alguns dias que não vejo o Gabriel. Será que eu poderia subir para vê-lo?

Valentina não queria, de jeito nenhum, que Cecília pisasse em seu estúdio. Aquele era o único espaço onde ela ainda tinha algum controle, um refúgio que Cecília não deveria invadir.

Mas, no fim, Gabriel era filho de Cecília. E, depois do divórcio, Valentina sequer teria o título de mãe adotiva. Ela não tinha o direito de bloqueá-la.

Antes que ela pudesse responder, uma voz infantil soou alto e clara ao longe:

— Mamãe!

Valentina se virou, surpresa. Gabriel já corria em direção a ela.

O menino se jogou nos braços de Valentina, que o segurou automaticamente. Com um gesto instintivo, ela bagunçou os cabelos dele, como sempre fazia.

— Por que você desceu sozinho?

— A Ana veio comigo no elevador, mas foi embora quando viu que eu entrei no café.

Gabriel abraçou Valentina com força, esfregando o rostinho no peito dela, em um gesto cheio de carinho.

— Mamãe, por que você demorou tanto? Eu já estava com saudade!

Valentina não conseguiu evitar um sorriso, ainda que cansado. Gabriel sempre soubera como derreter seu coração com esses pequenos gestos.

A cena entre os dois caiu como uma facada no coração de Cecília. Ela observava a interação, imóvel, enquanto seu corpo magro parecia vacilar. A expressão de Cecília ficou ainda mais pálida, e sua fragilidade se acentuou.

— Gabriel… — A voz dela saiu baixa, quase trêmula.

O menino levantou o rosto ao ouvir seu nome e, de repente, seus olhos encontraram o olhar ferido de Cecília. Ele congelou imediatamente, o pequeno corpo ficando rígido.

Valentina também ficou surpresa, mas logo percebeu o desconforto de Gabriel. Ela estava prestes a soltá-lo quando ouviu passos firmes se aproximando.

— Cecília.

Valentina virou o rosto e viu Lucas. Ele usava um longo casaco preto, que destacava sua figura alta e imponente. Sua expressão era fria e séria, como sempre.

Lucas caminhou diretamente até Cecília. Sem dizer nada a mais, ele tirou o casaco e o colocou cuidadosamente sobre a cabeça dela, cobrindo-a completamente. Ele a envolveu em seus braços, protegendo-a com firmeza.

Valentina ficou parada, observando a cena sem conseguir desviar o olhar. Uma dor surda começou a se espalhar por seu peito, crescendo a cada segundo.

Lucas inclinou a cabeça e sussurrou para Cecília:

— Tem alguém tirando fotos.

Cecília arregalou os olhos, claramente assustada. Instintivamente, ela agarrou o casaco de Lucas com força, escondendo o rosto no peito dele. A mulher que era conhecida por sua beleza estonteante agora parecia vulnerável, buscando conforto e segurança.

Lucas a segurou ainda mais firme e começou a levá-la para fora. Ao passar por Valentina, ele disse apenas:

— Leve o Gabriel para casa. Vou buscá-lo mais tarde.

Ele não esperou resposta. Não era um pedido. Era uma ordem.

Valentina ficou parada, com Gabriel ainda em seus braços, enquanto observava pela janela do café. Ela viu Lucas ajudar Cecília a entrar no carro, protegendo-a como se ninguém mais no mundo importasse. Ele cuidou para que nenhum fio de cabelo dela ficasse exposto, escondendo-a completamente debaixo do casaco.

Quando o Maybach finalmente partiu, Valentina baixou os olhos. Ela olhou para os papéis do divórcio que segurava em suas mãos, apertando os lábios com força. As lágrimas ameaçaram cair, mas ela as conteve mais uma vez.

— Mamãe, você está bem? — Perguntou Gabriel, preocupado, ao perceber o silêncio dela.

Valentina piscou algumas vezes e levantou o olhar, encontrando os olhos inocentes e cheios de preocupação do menino. Ela respirou fundo e forçou um sorriso.

— Estou bem, meu amor.

Gabriel a observou por alguns segundos. Como o sorriso dela parecia o de sempre, ele se tranquilizou.

Valentina estava tentando seguir em frente, mas Gabriel ainda se lembrava claramente do rosto triste de Cecília. Ele sentia um peso no coração, como se fosse sua culpa por ter deixado Cecília tão abatida.

Valentina olhou para o relógio. O horário da consulta que havia marcado com Lívia estava se aproximando. Ela passou a mão pelos cabelos de Gabriel e disse:

— Gabriel, eu preciso sair para resolver algumas coisas. Você pode voltar para o estúdio e esperar por mim, tudo bem?

— Não! — Gabriel respondeu rapidamente, mexendo os olhos de um lado para o outro, como se procurasse uma desculpa. Ele queria ver Cecília, mas tinha medo de que Valentina descobrisse.

Depois de pensar por um momento, ele disse:

— Mamãe, você não acha que o papai quer falar algo importante com você? Ele pediu para você me levar para casa…

Valentina sabia que Lucas não tinha nada de importante para falar com ela, além do divórcio. Mas ela não podia explicar isso para Gabriel. Esse era um assunto entre adultos, e ela não queria que o menino fosse afetado por isso.

— Mamãe, vamos voltar para casa primeiro! — Gabriel segurou a mão de Valentina, fazendo manha. — Por favor! Faz dias que eu não vejo o papai, estou com saudades dele!

Valentina suspirou, sem ter como resistir.

— Tudo bem, vou te levar para casa.

— Oba! — Gabriel comemorou, radiante. — Mamãe, você é a melhor!

Valentina bagunçou os cabelos dele com carinho e, ao olhar para o rostinho inocente e adorável de Gabriel, suspirou silenciosamente.

Depois de cinco anos de casamento, parecia que a única coisa verdadeira que restava eram o carinho e a dependência de Gabriel por ela.

Fora isso, tudo era mentira. Tudo não passava de uma ilusão.

Meia hora depois, Valentina e Gabriel chegaram à Villa Monteverde.

Lucas ainda não estava em casa, e Gabriel, depois de esperar apenas dez minutos, já começou a se impacientar.

— Mamãe, liga para o papai e pergunta quando ele vai chegar?

Valentina também achava que Lucas voltaria logo, já que ele havia pedido para trazer Gabriel. Ela planejava ir ao hospital assim que ele chegasse.

No entanto, ao ligar para Lucas, o celular dele chamava, mas ninguém atendia. Tentou mais duas vezes, mas o resultado foi o mesmo.

Sem ter o que fazer, Valentina suspirou e tentou tranquilizar Gabriel.

— Seu pai deve estar ocupado.

Gabriel franziu a testa, desconfiado. Será que Cecília estava chorando e Lucas tinha ficado para consolá-la? Será que era por isso que ele não atendia o celular?

O menino começou a se sentir culpado. Se ele não tivesse abraçado Valentina antes, talvez Cecília não estivesse triste agora. Gabriel pensou cada vez mais nesse cenário e, irritado consigo mesmo, olhou para Valentina com um leve toque de ressentimento nos olhos.

Valentina, distraída enviando mensagens para Lívia, não percebeu o comportamento de Gabriel.

Valentina: [Acabei me atrasando. Podemos remarcar o exame para amanhã?]

Lívia: [Estou de plantão cedo amanhã. Pode vir direto.]

Valentina: [Combinado.]

Lívia: [E aposto que você ainda não fez o teste de gravidez, né?]

Valentina olhou de canto para sua bolsa, sentindo-se um pouco culpada. Ela respondeu rapidamente:

[Vou fazer agora.]

Lívia mandou um emoji de martelo e, em resposta, Valentina enviou um emoji com uma carinha chorosa. Depois, ela se levantou, pegou a bolsa e disse:

— Gabriel, vou ao banheiro rapidinho.

Gabriel, ainda pensativo, não respondeu.

Valentina achou que ele estava de mau humor por causa de Lucas e não deu muita atenção. Com isso, virou-se e subiu as escadas em direção ao segundo andar.

Assim que ouviu o som da porta do quarto principal se fechando, Gabriel correu para o seu quarto e pegou o relógio de telefone que Cecília havia lhe dado, escondido debaixo do travesseiro.

No relógio, o primeiro número na lista de contatos era o de Cecília. Gabriel discou imediatamente.

O telefone tocou algumas vezes antes de ser atendido.

— Gabriel? — A voz grave de Lucas soou do outro lado, acompanhada de uma leve respiração ofegante.

Gabriel ficou surpreso.

— Papai? Por que é você que está atendendo? E a mamãe?

— Sua mãe estava cansada e acabou de dormir. O que foi?

Gabriel sentiu o coração apertar.

— A mamãe estava chorando, né?

Lucas não negou.

— Mas agora está tudo bem.

— Eu não estou tranquilo, papai. Já voltei para casa. Você pode vir me buscar? Quero ir ficar com a mamãe!

— Tudo bem. Estou indo para casa te buscar.

Assim que desligou, Gabriel ficou tão animado que mal conseguia se conter. Ele escondeu o relógio de telefone no bolso do casaco e desceu as escadas correndo.

No andar de baixo, ele sentou no sofá, ligou a televisão e começou a assistir desenhos animados, feliz, enquanto esperava Lucas chegar.

No banheiro da suíte principal, Valentina segurava o teste de gravidez nas mãos.

Ela apertava o objeto com tanta força que seus dedos estavam ficando brancos.
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