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Efeito dominó
Efeito dominó
Author: Bráulio Euclides

Homens também têm sentimento

Ao além da compreensão humana, muitas vezes nos deparamos

com uma

experi
ência sensorial desagradável denominada dor, ela

é revestida de uma enorme grandeza que nos impossibilita de

compreend
ê-la

ou até

mesmo descrevê-la. A dor quando sentida não pode ser explicada. Existem vários tipos de dor, nesta obra limito-me a falar do sofrimentos e decepções

que são

causados por ela

Acredito que já foi magoado(a) e se realmente foi, após isso você criou um mecanismo para se proteger de passar por aquilo uma outra vez, a isso eu chamo de barreira ou limitação emocional. Não sou contra e nem a favor, na verdade, penso que as barreiras emocionais são necessárias e até inevitáveis durante um curto espaço de tempo, mas, infelizmente o conforto é tão sedutor que de uma maneira indireta obriga-nos a viver em estado defensivo por muito tempo. E como se diz em física toda a ação tem uma reacção” , deste modo, viver por muito tempo dentro de uma concha protetora pode transformar-nos em pessoas insensíveis. Neste caso, mesmo sendo seres racionais preferimos não fazer o uso desta qualidade que nos diferencia de outros seres e optamos por nos relacionar com outras pessoas dispostas a dar 100% numa relação onde a nossa entrega é de apenas 40%, Isso porque alguém nos magoou e agora por medo de demonstrarmos as nossas fraquezas e sermos magoados novamente entramos em modo defensivo e sem nos apercebermos acabamos por magoar pessoas inocentes que infelizmente, também magoarão outros e assim sucessivamente até gerarmos um efeito dominó.

Essa analogia leva-nos a uma pergunta que serviu de incentivo para escrever esse livro: 

“ Por que é que os homens são tãinsensíveis? “

Na maioria das vezes, existem algumas verdades jamais reveladas por de trás de certas posturas e comportamentos humanos e os homens apelidados de insensíveis sendo humanos, não fogem da regra. Por que sãinsensíveis? É muito improvável a possibilidade de alguém ter uma resposta definitivamente certa para isso, até porque no meu entendimento a resposta para essa pergunta varia de acordo a região e cultura em que este mesmo indivíduo está inserido. Sendo angolano, optei por me basear no modus vivendi  da nossa sociedade. 

Antes de mais, é importante salientar a grande influência do machismo na cultura e no seio social angolano. Deste modo afirmo que, o homem angolano é desde cedo visto e criado para ser o membro principal e mais forte da famíliaindiretamente não lhe é ensinado a sentir ou até mesmo a demonstrar afeto, isso porque estes atributos na nossa realidade são conotados como fraquezas.

A medida que vamos crescendo nos deparamos com n situações que de alguma forma chocam com as nossas índoles, isso porque, a educação masculina é muito rígida, fechada e limitada. Nesta educação o diálogo raramente se faz presente e nãé segredo para ninguém que o mesmo chega a ser a base de sustentabilidade de uma relação, a ausência dele faz dos jovens os únicos responsáveis pelo seu descobrimento e até pela sua compreensão.

Desde pequenos nos é ensinado que homens têm de ser insensíveis/fortes, mas depois de atingirmos a adolescência, o panorama muda totalmente e pela primeira vez nos é despejado uma carrada de sentimentos e emoções mais fortes do que nós e até impossíveis de controlar, que chocam ou entram discordância com a educação que recebemos ao longo da nossa vida. 

Óbvio que na adolescência os sentimentos sobrepõem os nossos ensinamentos e aí sim nos tornamos rebeldes ao ponto de ir contra o pouco que aprendemos. 

Depois de nos abrimos para novos sentimentos e sensações, que por sua vez são bons, a vida mostra-nos que ela é agridoce, então junta aos bons os seus piores sentimentos e sensações, como é o caso das mágoas e decepções.

O amor é um sentimento muito bonito de se falar ou até mesmo de se sentir, mas isso só acontece quando somos correspondidos, o inverso desencadeia em nós outros sentimentos que podem nos transformar em pessoas frustradas ou até mesmo amargas.

No caso dos homens, decepções desencadeiam comportamentos que nos foram impingidos na infância, ou seja, depois de decepcionados

fechamos
-nos novamente ao amor. Sem mais rodeios, irei responder a pergunta principal, por

que que os homens sãinsensíveis?  

Eu fiz uma pesquisa com uma amostra de 40 homens angolanos, a mesma indicou que 60% tornaram-se insensíveis devido à uma educação rígida desde a infância, outros 30% defendem que essa insensibilidade masculina é por culpa do conjunto de decepções amorosas e a percentagem restante defende que a insensibilidade é resultado ou consequência da influência de outros homens que já foram decepcionados e após esta experiência passam a vender a ideia de que insensibilidade é algo normal. Essas pessoas na sua maioria são músicosactores, jogadores, escritores, etc. 

Então, podemos concluir que todo o homem insensível hoje é fruto de uma educação rígida ou influências causadas por decepções amorosas. Para dar uma melhor sustentabilidade ao meu argumento irei partilhar uma história.

Há 14 anos, por razões que eu desconhecia na época, os meus pais decidiram trocar de moradia, apesar de na altura eu ser muito jovem, aquilo chocou-me imenso, porque vivíamos num bairro nobre e numa casa grande, onde eu tinha o privilégio de ter um quarto com diversos brinquedos. Tive de deixar a minha antiga escola, onde frequentava desde o berçário e que já tinha vários amigos, para passar a frequentar outra que eu detestava e viver num bairro que tambédetestava mas não mais do que a minha nova casa, onde eu tinha que partilhar o quarto com o meu irmão mais velho. 

A adaptação foi muito difícil, até que então encontrei um menino que tinha gostos e alguns problemas parecidos aos meus, esse rapaz era carinhosamente chamado de Kiluange. Ele foi meu vizinho, além disso, era um jovem estudioso, calmo e um doce de pessoa, o contrário da maioria dos rapazes do meu bairro e da escola. Por culpa do destino ou de alguém que não sou eu, a minha família teve que mudar outra vez de casa, isso foi na altura que concluímos o segundo ciclo escolar, então, eu e o Kiluange nos distanciamos e perdemos a conexão desde essa data, até que nos reencontramos no ano passado, 7 anos depois. 

De uma forma negativa estranhei-o, isso porque depois de uma breve convivência notei que a doçura e carisma que o mesmo tinha, o tempo e as experiências vividas simplesmente os levaram.

Naquele momento, eu nãacreditava que aquele jovem Playeramargo e insensível era o meu amigo Kiluange, por isso, acabei por julga-lo e

optei por distanciar-me dele, acusando-o de má influência. Felizmente o tempo não levou todas as qualidades do meu grande amigo, inclusive a que nele eu mais apreciava, que era

a sua inteligênciaentão, como o ser inteligente que ele continuava a ser, o mesmo notou o meu afastamento e se apercebeu logo do porquê,  por esse mesmo motivo ele procurou conversar comigo e contar a sua história e trajectória.

Tudo começou há muito tempo, quando eu e o Kiluange estudávamos a sexta classe. Como qualquer outra escola a minha era dividida em grupos, de um lado estavam os adolescentes FIXES,  grupo esse que albergava rapazes e raparigas bonitos, charmosos, esportistas e mais desejados da minha escola, de outro lado existiam os NERDS, presumo que todos saibam como são essas pessoas, por isso, vou poupar esforços até porque os mesmos não precisam de apresentação. Vocês acham que éramos FIXES

ou

NERDS

Acredito que a maioria optou em classificar-nos por nerds, baseando-se nas qualidades do Kiluange que foram mensuradas ou até mesmo porque o seu subconsciente o conduziu a fazer essa escolha, mas não, para a vossa infelicidade eu e o Kiluange não fazíamos parte dos NERDS, mas também nãéramos FIXES, então o que éramos? 

A verdade é que eu e o meu amigo Kiluange ascendemos a categoria nerds, aparentemente éramos pessoas excessivamente intelectuais, obcecados por assuntos que até os nerds não se interessavam, tínhamos uma grande dificuldade de integrar-nos socialmente e também tínhamos uma aparência e apresentação arrojada, éramos muito sem graça e mais algumas coisas além da minha compreensãactual. De tão sem graça que éramos acabamos despercebidamente por criar outra categoria que fazia os nerds parecerem normais e quando realmente nos apercebemos desse nosso magnífico feito decidimos então nomear essa categoria por DOPE, palavra essa que tem um significado semelhante ao FIXE, fomos ousados em nos apelidar dessa forma, mas tambéninguém nos dava a mínima, ou seja, éramos inexistentes para os FIXES e ignorados pelos NERDS, estranho né?

Voltando ao que realmente nos interessa, Kiluange tinha um crush por uma ex colega nossa, na altura eu pensava que era apenas uma ilusão, até porque a menina pertencia à categoria dos “FIXES e de certeza que não tinha a mínima noção que ele existia ou se tivesse, acredito que não passava nem nos sonhos dos seus amigos menos próximos à possibilidade dela ter alguma coisa com o meu pobre amigo. Afinal, enganei-me! Enganei-me quanto aos sentimentos do Kiluange, porque parece que o que ele sentia era muito mais que um simples crush, mesmo com todas as probabilidades indicando que ele não seria correspondido o cabeça dura acabou se apaixonando pela rapariga que as únicas vezes que entrava em contacto com ele, era para pedir que ele resolvesse as tarefas dela.

Kiluange estava cego de amor e em partes era culpa da Helga, que lhe tratava diferente da maioria das colegas com intuito dele continuar a fazer os seus trabalhos de casa, até o momento que ele confundiu as coisas. Cinco meses após essa aproximação com a Helga, Kiluange estava completamente apaixonado e iludido. Iludido porque cogitava a possibilidade do sentimento ser recíproco, então, como fruto dessa dedução, o mesmo passou a enviar cartas de amor e até levava presentes para essa menina, ela recebia os presentes e as cartas com a maior normalidade, toda a mulher gosta de ser presenteada, amada e conquistadasensações essas que ela não esperava receber dos rapazes FIXES.  Sem se aperceber ela alimentava os sentimentos dele dia após dia, até que os mesmos o sufocaram, isso o motivou a deixar de lado a sua timidez e pedi-la em namoro, afinal como dizem, amar é para loucos, mas antes, quando estávamos em um banco do jardim na escola a relaxar,  subitamente ele virou pra mim e disse:

— Mano, estou a gostar da Helga e quero pedir-lhe em namoro, o que achas??— cocei a cabeça apreensivo antes de responder.

Eu não concordo com essa ideia, acho que essa miúda está só a usar-te.

Disse, com medo de como ele reagiria.

Ele respirou fundo antes de responder, notava-se que as minhas palavras não lhe caíram bem:

 — Deixa de ser invejoso wi, só estás a dizer isso porque estás com inveja, tu não vês a forma que ela me trata, se visses, saberias que esse sentimento é recíproco, por isso vou mesmo pedir-lhe em namoro e se realmente fosses meu melhor amigo estarias feliz por mim.

A conversa foi longa, infelizmente não concordamos em muita coisa, em ocasiões normais a minha opinião influenciava 60% nas decisões do Kiluange, mas naquele dia a minha opinião foi nula, o teimoso resolveu seguir com o seu plano e pedir a Helga em namoro.

Eu optei por não testemunhar o acto, mas sendo ela uma das jovens mais lindas da nossa escola, de certeza que o Kiluange foi rejeitado e até mesmo humilhado, porque ele fez o pedido de namoro via carta em plena aula, após ler na aula, a Helga enviou um bilhetinho respondendo que não e que só lhe vê como amigo, por azar dele, aquilo caiu nas mãos erradas, ou seja, nas mãos das mais fofoqueiras da sala e aquilo foi motivo suficiente para o Kiluange ser o motivo de chacota durante muito tempo. Apesar de já estar familiarizado com a rejeição das meninas aquela dor era bem mais intensa porque era um sentimento novo e inigualável, também pelo facto de saber que foi somente usado. Doeu muito e por muito tempo, mas felizmente cicatrizes saram, reconheço que é um processo penoso, mas graças ao tempo a dor vai sarando dia após dia até um dia já não sentires mais nada.

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