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Capítulo 2

Author: Solano
A voz de Thiago veio pelo celular, com aquele tom arrogante que ele sempre usava quando queria impor algo:

— Letícia, venha aqui imediatamente e cuide do bebê. A Laura Silva não está se sentindo bem, e eu vou levá-la a um leilão para que ela relaxe.

"Ele realmente perdeu o juízo. Acha mesmo que eu vou cuidar do filho que ele teve com outra mulher?" Pensei, sentindo uma onda de indignação subir pelo meu corpo.

— Thiago, eu não sou empregada da sua família, muito menos babá. Você ligou para a pessoa errada. — Respondi friamente.

Do outro lado da linha, ele ficou em silêncio por alguns segundos antes de soltar um suspiro cansado:

— Letícia, a Laura passou por tudo isso por você, pela família Monteiro. Ela sofreu para trazer ao mundo o herdeiro da nossa família. Como futura Sra. Monteiro, você não seria sua obrigação aprender a cuidar de uma criança?

Aquelas palavras eram tão absurdas que por um momento achei que tinha ouvido errado.

Eu soltei uma risada irônica:

— Thiago, sua lógica é nojenta. Me dá ânsia de ouvir. Estou arrepiada de puro desgosto. Nós já terminamos. Quem você escolhe para ter filhos ou quem cuida deles não é problema meu. E, por favor, não me ligue mais para isso.

Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, desliguei o telefone sem a menor hesitação.

Deitei de volta na cama, mas quanto mais eu pensava, mais irritada ficava. Peguei o celular para tentar distrair a mente lendo as notícias, mas uma notificação chamou minha atenção:

[Presidente do Grupo Monteiro gasta milhões em joias para celebrar o amor verdadeiro!]

Abri a notícia, e lá estava: uma foto de Thiago segurando Laura nos braços durante o leilão.

Na foto, ele olhava para ela com uma ternura e devoção que eu nunca tinha visto em seus olhos durante os cinco anos que passamos juntos. Nem nas ocasiões mais especiais.

Meu coração parecia ter sido levemente perfurado por algo invisível, deixando uma dor sutil. Durante todos esses anos de relacionamento, nos meus aniversários, o máximo que Thiago fazia era mandar para seu assistente comprar uma bolsa qualquer ou alguma joia comum.

Thiago nunca escolhia os presentes pessoalmente, muito menos se dava ao trabalho de pensar em algo especial para me agradar.

"Dinheiro vai para onde está o amor." Pensei. "Fica claro agora que Thiago nunca me amou de verdade."

Decidida a mudar de ares, resolvi ir experimentar meu vestido de noiva. Talvez aquilo me ajudasse a esquecer tudo por um momento. Mas, quando abri a porta da loja, a cena que vi me fez congelar no lugar.

Diante de um grande espelho, Laura estava vestindo o meu vestido de noiva. Ela girava lentamente, examinando cada detalhe enquanto insatisfeitamente apontava para o decote, dizendo à vendedora:

— Aperte um pouco mais aqui. Ah, e a cauda... Acho que ficaria melhor se fosse três centímetros mais longa.

Aquele vestido era o resultado de meses de trabalho. Eu e o designer havíamos discutido cada detalhe, e ele foi costurado à mão, fio por fio. Ele não era apenas um vestido, e era a materialização dos meus sonhos para o futuro.

Senti a raiva crescer em mim como um incêndio. Respirei fundo, tentando controlar o tom de voz antes de me aproximar e dizer friamente:

— Tira isso agora. Esse vestido é meu.

Laura tremeu ao ouvir minha voz e, como uma criança assustada, se escondeu atrás de Thiago, que estava ao lado dela.

— Precisa ser tão agressiva? Está assustando a Laura. — Thiago disse, com um tom de reprovação que me fez sentir como se eu fosse a vilã da situação.

Eu quase ri de puro ódio:

— Thiago, esse é o meu vestido de noiva! Passei seis meses projetando e costurando esse vestido com o designer, fio por fio! Por que ela está usando meu vestido?

O olhar de Thiago ficou carregado de uma culpa mal disfarçada e complicada. Ele hesitou antes de responder:

— Letícia, ela tem todo o direito de usá-lo. Ela é a noiva. Esse vestido agora é dela.

Fiquei paralisada, sem entender completamente o que ele queria dizer.

— Eu vou me casar oficialmente com você. A aliança entre a família Barbosa e a família Monteiro continua de pé. — Ele fez uma pausa e olhou para Laura, com uma expressão ainda mais suave. — Mas a Laura passou por tanto para me dar um filho. Eu não quero que ela seja tratada como nada. Então achei que seria justo ela participar da cerimônia como a noiva. É o mínimo que ela merece.

Aquelas palavras me atingiram como uma onda de gelo.

— O quê? O que você acabou de dizer? — Gritei.
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