Amor Expirado

Quando tudo estava resolvido e voltei para casa, já era noite.

A luz prateada da lua entrava pela janela da sala, deixando o ambiente ainda mais solitário.

Subi as escadas arrastando o corpo cansado. No quarto, os grandes ideogramas vermelhos de "dupla felicidade" ainda estavam colados na parede. Aquilo parecia uma piada de mau gosto.

As pétalas sobre a cama continuavam lá. Só empurrei com o braço, deixando-as cair no chão, e me joguei na cama macia.

Enquanto colocava o celular para carregar, vi coincidentemente uma nova postagem de Gabriel Silva.

[Sortudo por ter você. Não desperdiçarei a juventude.]

Na foto, ele abraçava Beatriz Oliveira. Os dois se olhavam com tanta ternura que pareciam prestes a se beijar. Usavam pulseiras de casal.

Antes, eu teria corrido atrás dele exigindo uma explicação. Mas agora, simplesmente desliguei o celular e virei para dormir.

Nos dias seguintes, Gabriel não me mandou nenhuma mensagem. Mas suas postagens apareciam com frequência: fotos com ela, os dois se divertindo, rindo, abraçados.

Ignorei tudo. Em vez disso, entrei em contato com meu advogado para iniciar o processo de divórcio.

Gabriel e eu estávamos juntos havia seis anos, desde o ensino médio. Apesar de termos feito a cerimônia apenas agora, já éramos casados no civil desde o fim da faculdade, num impulso apaixonado.

Na época, não houve festa, mas teve dote, joias... E muito amor.

Só que agora, tudo aquilo havia desaparecido, restando apenas um vazio amargo.

Duas semanas depois, eu estava em casa analisando o rascunho do divórcio preparado pelo advogado, quando ouvi o som da porta se abrindo.

Olhei na direção do barulho e vi Gabriel entrando de mãos dadas com Beatriz.

Nossos olhares se cruzaram. Um traço de pânico passou pelos olhos dele. Ele soltou a mão dela rapidamente e falou com um tom forçado:

— A Bia nunca saiu do país... Então eu a levei. Você estava cheia de trabalho, de qualquer forma...

Antes que ele terminasse, desviei o olhar e voltei ao rascunho à minha frente. Assenti com indiferença:

—Tá bom.

— Eu só...

As palavras se engasgaram na garganta dele. Vendo que eu continuava sentada em frente ao computador, sem sequer levantar os olhos, ele pareceu mais irritado e perguntou com frieza:

— Sério isso? Eu já te expliquei! A Bia nunca viajou, por isso a levei. E qual o problema? Lua de mel pode ser em qualquer momento. Que drama é esse? Já te falei mil vezes que eu e a Bia somos só...

Como ele não parava, resolvi interromper:

— Eu sei. Ela é como uma irmã para você.

Olhei para ele com uma expressão tranquila. Sem raiva, sem ressentimento.

Ele ficou ainda mais tenso. Franziu a testa e respondeu com frustração:

— Então por que essa atitude?

— Estou ocupada.

Voltei minha atenção à tela do computador, ignorando sua presença.

Beatriz deu um passo à frente, agarrou o braço dele e disse com a voz doce, mas cheia de veneno:

— Kari, não fica chateada. Você sabe que eu e o Gabi crescemos juntos. Mesmo ele não tendo ido com você, trouxe um presente da viagem só para você. — Ela então se virou para ele com um olhar carinhoso. — Gabi, mostra logo para Kari.

Gabriel apressou-se em pegar uma caixinha da mochila. Abriu e me estendeu com um sorriso satisfeito:

— Escolhi com carinho. Abre para ver.

Parecia acreditar que aquilo seria suficiente para me comover.

Levantei os olhos. Dentro da caixinha havia um par de brincos delicados, com pérolas e pedras azuladas em forma de flor. Bonitos, sim. Mas apenas olhei por um segundo e empurrei de volta.

— Não, obrigada. Não coleciono brindes.

O ambiente congelou. Gabriel foi o primeiro a reagir.

— Karine, que papo é esse?

Olhei diretamente para o relógio caríssimo no pulso dele e depois encarei seus olhos.

— Foi o que eu disse. Você deu os brincos para ela e me trouxe o brinde? É isso que acha que eu mereço?

Gabriel claramente não esperava que eu fosse tocar nesse ponto. Ficou sem reação, visivelmente constrangido.

Beatriz, por outro lado, foi rápida em responder, com tom fingido:

— Ai, Kari... Não fica assim. O Gabi me deu porque eu amei quando vi. Mas se você quiser tanto, eu te dou. Não vale a pena brigar por isso, né?

Apesar das palavras, ela não fez menção de devolver nada. Lançou um olhar sarcástico para mim, e outro cheio de pena para ele.

Gabriel, ao notar a atitude de Beatriz, imediatamente segurou o pulso dela, olhando para mim com um ar irritado.

— Bia, deixa pra lá. Se eu te dei, é seu. Ela é assim mesmo, vive contando cada centavo. Tão mesquinha...

Fiquei olhando para os dois por alguns segundos, sem dizer nada. Voltei para o computador.

Gabriel, vendo minha reação, ficou ainda mais irritado. Abraçou Beatriz e saiu andando. Ao passar pela porta, fez questão de abri-la com força, como se esperasse que eu corresse atrás.

Mas eu sabia exatamente o que ele queria. Sempre foi assim. Eu cedia, e ele pisava mais fundo.

Dessa vez, nem me movi. Apenas acrescentei na planilha de divisão de bens o valor dos brincos que ele comprou para Beatriz.

Pouco depois, ele bateu a porta com força e foi embora.

Alguns minutos depois, meus pais ligaram, pedindo que eu fosse jantar com eles.

Aceitei.

Mas, ao chegar na porta da casa dos meus pais, dei de cara com... Gabriel.