Decisão de Partir

— Gerente Batista, no próximo mês vou fazer um curso de especialização no exterior. Este é o meu pedido de demissão.

O gerente me olhou, surpreso.

— Por que tão de repente?

Usei a desculpa que já havia preparado.

— O pai do meu filho está na Austrália. Pretendo levar nosso filho para lá, para reunirmos a família.

O gerente assentiu.

— É uma boa ideia. É muito difícil para você criar um filho sozinha aqui. Todos nós pensávamos que você era mãe solteira.

Eu sorri. Antes não era, mas em breve seria.

Ao sair da sala, dei de cara com Patrick Morais e Amanda Paiva vindo em minha direção.

Patrick era meu chefe e também o pai do meu filho.

Sete anos atrás, eu era sua secretária pessoal.

Depois de uma noite confusa e embriagada, tivemos um filho.

Este era o sexto ano do nosso casamento secreto.

E também o sexto ano em que ele não deixava nosso filho chamá-lo de pai.

Patrick andava devagar, como se estivesse cuidando da mulher ao seu lado.

Amanda segurava um relatório em uma mão e, com a outra, a barra do paletó de Patrick. A cena era de uma doçura que me feria os olhos.

No instante em que passamos um pelo outro, meu coração disparou, e não consegui evitar de falar:

— Patrick...

O homem parou, com uma expressão gélida.

— Sra. Chaves.

O tratamento formal e distante era um aviso, como se me lembrasse: estamos na empresa, somos apenas chefe e subordinada.

Eu entendi a mensagem e reprimi todas as emoções.

— Diretor Morais.

Patrick murmurou um "sim" e continuou andando, como se tivesse passado por uma estranha.

Sorri com autodepreciação, engolindo a notícia da minha demissão que queria lhe dar.

De qualquer forma, ele não se importaria.

A tela do celular acendeu. Era uma mensagem do meu filho, enviada pelo relógio inteligente.

[Mãe, o papai vai voltar para comemorar meu aniversário?]

Parei por um momento e, instintivamente, olhei para trás.

Vi Patrick se inclinando para falar com Amanda, atencioso.

Alguém passou por eles, e ele instintivamente a protegeu em seus braços, com uma ternura inconfundível nos olhos.

Reprimindo a amargura no peito, ainda assim mandei uma mensagem para Patrick.

[Hoje é o aniversário do nosso filho. Você estará livre à noite?]

Do outro lado do corredor, vi Patrick pegar o celular, olhar por menos de três segundos e colocá-lo de volta no lugar, com a expressão inalterada.

Olhando para a conversa sem resposta, sorri com desdém.

"Estela Chaves, você ainda não acordou?

Você sempre soube que esse coração era de pedra, o que ainda espera?"

Guardei o celular no bolso, respirei fundo e continuei meu caminho.

Patrick, em breve você estará livre.

Saindo da empresa, fui direto buscar meu filho na escola.

Ao me ver, a primeira coisa que meu filho disse foi:

— Mãe, hoje é meu aniversário.

A segunda foi:

— Mãe, o papai vai comemorar comigo?

No meio da rua movimentada, meus olhos se encheram de lágrimas.

— Seu pai, ele...

Antes que eu pudesse terminar, o celular tocou.

Patrick finalmente teve tempo de responder.

[Estarei. Vou para casa.]

A alegria tomou conta de mim, e eu assenti quase que imediatamente.

— Felipe, pode ficar tranquilo, seu pai vai para casa.

Meu filho bateu palmas e se jogou em meus braços, animado.

Em seis anos de casamento, era a primeira vez que Patrick se dispunha a passar o aniversário com o filho.

À noite, preparei um belo jantar, e meu filho terminou a lição de casa cedo.

Uma hora, duas horas, três horas...

Enviei mensagem após mensagem, perguntando.

Mas, como sempre, não obtive resposta.

Meu filho pareceu entender algo e me olhou com cautela.

— Mãe, o papai está muito ocupado?

Meu coração doeu. Queria dar uma desculpa, mas nenhuma palavra de justificativa saía.

No final, tudo o que consegui dizer foi:

— Não se preocupe, a mamãe sempre estará com você.

Meu filho não perguntou mais nada e pegou o chapéu de aniversário.

— Mamãe, você pode colocar em mim?

Assenti e, quando estava prestes a fazê-lo, vi de relance a nova postagem de Amanda no Instagram.

[Hoje foi um dia ótimo. Adorei o dia de hoje.]