Capítulo 2

Quando Valentina chegou em casa, já estava quase amanhecendo.

Assim que abriu a porta, Henrique agarrou seu braço:

— Onde você foi? Por que não atendeu minhas ligações?

A voz dele estava preocupada, mas no rosto não havia sinal de preocupação por ela ter passado a noite fora. Só tinha acusação.

Ela tinha machucados no rosto e no pescoço, mas ele simplesmente não os via.

Antes, Henrique conseguia perceber até se Valentina cortasse um pouco a franja.

No fim das contas, quando o homem amava ou deixou de amar, os olhos eram os primeiros a denunciar.

Na verdade, tudo já dava sinais há muito tempo. Por exemplo, no mês passado, quando ela ficou doente de cama, ele não ficou nem um dia ao lado dela, e ela teve que ir ao hospital sozinha.

Valentina não reclamou, porque sabia que Henrique estava realmente ocupado. A empresa estava prestes a abrir capital.

Ela era tão apaixonada, tão envolvida naquele relacionamento.

Valentina puxou o braço dele e disse:

— E você? Ontem à noite você estava mesmo ocupado? Se não fosse pelas notícias na internet, eu nem saberia que no nosso aniversário de casamento você não teve tempo para mim, mas arrumou tempo para transar com a secretária no carro!

O rosto de Henrique mudou na hora, explicou ansiosamente:

— Você entendeu tudo errado. Eu e a Yasmin não somos o que você pensa. Ontem fomos a uma festa, alguém mexeu nas nossas bebidas, e os jornalistas estavam lá porque alguém armou isso contra a gente. A empresa vai abrir capital em um mês, cresceu rápido demais, e tem gente querendo nos derrubar justo agora.

Nem Henrique nem Yasmin imaginaram que aquilo pudesse ter sido obra da Valentina.

Principalmente Yasmin.

Ela não achava que Valentina, que tinha visto o marido traindo mas não teve coragem de confrontar, tivesse aquela ousadia.

Além do mais, mesmo que tivesse, não teria capacidade.

Ela não passava de uma coitada que só sabia cozinhar, lavar roupa, esperando Henrique com um olhar triste.

Olhando para a cara falsa de Henrique, e os olhos de Valentina ficaram frios:

— Se quer que eu acredite em você, então demite a Yasmin.

— Impossível! — Henrique percebeu que falou demais, se corrigiu rapidamente. — Quero dizer... A empresa vai abrir capital e ela está cuidando de todos os projetos. Não dá para achar alguém para substituir ela agora.

— Eu posso! — Valentina respondeu. — Eu já fui sua secretária antes e conheço bem todos os projetos.

— Valentina, estamos juntos há dez anos. É só isso que você confia em mim? — Henrique disse, fazendo uma cara de decepção.

— Se não quer demitir Yasmin... — Valentina respondeu, manteve o olhar fixo nele, sem emoção. — Então eu saio.

Henrique ficou ainda mais irritado:

— O que você quer dizer com isso?

Ela sorriu de lado e continuou:

— A gente pode se divorciar. Aí você e a Yasmin fazem o que quiserem.

De repente, Henrique agarrou o queixo dela com força:

— Valentina, eu já expliquei tudo para você. Pode acreditar ou não, mas divórcio, nem pensar!

Ela não só pensou naquilo como já tinha feito planos para que ele saísse de mãos vazias.

Talvez por culpa, Henrique ficou em casa a manhã toda, e quase na hora do almoço veio até o quarto de Valentina:

— Ontem eu não pude ficar com você, hoje eu compenso. Quer comer o quê? Depois a gente vai.

Mas assim que falou, o celular dele tocou.

Valentina reconheceu aquele toque diferente, já não era a primeira vez que ouvia.

Ele disse que a mãe dele estava ficando velha e doente, e por isso colocou aquele toque especial para sempre atender rápido quando fosse ela.

Era mesmo um filho da... Puta.

Ele não atendeu e desligou na hora. Depois disse para ela:

— A minha mãe não está bem, o que aconteceu ontem a abalou muito. Eu vou ver ela agora, depois te levo para almoçar.

Sem deixar ela responder, ele virou as costas e foi embora.

— Henrique, eu vou com você. Mesmo que sua mãe não goste muito de mim como nora, eu não posso deixar de cumprir meu dever com ela. — Valentina tentou se levantar da cama.

Ela não tinha dormido a noite inteira. Queria descansar, mas simplesmente não conseguia pegar no sono.

— Ela... Ela está de mau humor, é melhor você não ir. Eu volto logo.

Depois de falar isso, Henrique saiu apressado, com passos largos, com medo de que Valentina fosse atrás.

Ele disse que voltaria rápido, mas sumiu por dois dias, sem ligar ou mandar mensagem.

Quem não parava de mandar mensagens era aquele número anônimo, com várias fotos de Henrique e Yasmin juntos.

Eles iam ao trabalho, saíam do trabalho, jantavam à luz de velas, dormiam abraçados...

Valentina ficou olhando aquelas fotos, uma por uma, até a visão ficar embaçada pelas lágrimas.

Quando as lágrimas estavam prestes a cair, ela levantou a mão e as enxugou com força.

Daquele momento em diante, ela não derramaria mais uma lágrima por Henrique.

Quanto às fotos, ela nem pensou duas vezes antes de enviar para o paparazzi da noite anterior.

Se Yasmin tinha se jogado na mão dela, ela com certeza ia aproveitar.

Afinal, o detetive particular que tinha sido enviado para seguir eles nunca tinha conseguido provas tão fortes.

Por que ela simplesmente não mandou direto para Henrique, para ele ver com os próprios olhos que tipo de pessoa a Yasmin era?

Ela ia fazer aquilo sim, só não naquele momento.

Depois de ajeitar os sentimentos, Valentina se maquiou de leve e saiu no fim da tarde.

Ela tinha marcado um jantar com alguém.

Se queria acabar de vez com a reputação de Henrique, só os escândalos não bastavam, precisava de aliados.

Aquela era uma guerra silenciosa, e ela tinha que vencer.

O jantar foi super agradável. Na saída, Valentina passou perto de uma sala que estava com a porta entreaberta e ouviu uma conversa sobre ela.

— Enquanto o casamento estiver firme em casa, fora ele pode fazer o que quiser. O Henrique tem a esposa em casa e a amante fora há mais de um ano, me digam, se ele pudesse escolher, quem ele escolheria?

— Isso é óbvio, né? Seis meses atrás ele fez a Valentina abrir espaço para Srta. Yasmin, foi bem claro o recado. Yasmin agora é o xodó dele, nem dez Valentinas juntas dão conta.

— Pois é, tem mulher para caramba no mundo. Com o status do Henrique hoje, ele pode dormir com quem quiser só de estalar os dedos. Por que perder tempo com a Valentina?

De repente, palmas soaram, fazendo todos olharem para a porta. Era Valentina, com expressões diferentes no rosto.

— Que discurso maravilhoso! — Valentina cruzou os braços e se encostou na porta, falando de um jeito descontraído, mas com o olhar totalmente diferente do de antes. — Quem fala uma coisa dessas, só pode estar pensando igual, talvez até tenha feito a mesma coisa que o Henrique. Já que é assim, daqui a pouco vou avisar suas esposas para elas saírem de cena, assim não perdem tempo à toa.

Eles ficaram ainda mais sem graça. Valentina sorriu para eles.

— Pode deixar, eu passo o recado. E se elas continuarem insistindo, eu ajudo vocês a convencer, tá bom?

Mal terminou de falar, uma voz feminina surgiu atrás dela.

— Eles só estavam brincando, Srta. Valentina, não precisa levar a sério...

Quando ela virou para olhar, era Yasmin, e Henrique estava do lado dela.

Devia ser combinado com aquele grupo. Aquele ano todo que ele não levava Valentina para lugar nenhum, era porque Yasmin estava junto. Até nas reuniões dos amigos.

Eles a traíram por mais de um ano.

Sem hesitar, Valentina deu um tapa na cara de Yasmin, emitindo alto um som de "pá".