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Capítulo 6

Author: Clara Dourado
Ao sair pelo portão da mansão da família Duarte, a primeira coisa que Valentina fez ao entrar no carro foi pegar o celular e ligar:

— Mande os repórteres ficarem na porta da família Duarte, agora mesmo.

Se eles não tinham mais vergonha, ela ia ser a responsável por arrancar o último pano de silêncio deles.

Depois de desligar, Valentina dirigiu até a casa nova.

O condomínio Jardim Solaris ficava bem no coração da cidade, na área mais movimentada e valorizada.

Era um apartamento duplex de quase duzentos metros quadrados.

O lugar era bom, então o preço não era barato.

Mais de trinta milhões, e Valentina pagou tudo à vista.

Usou aquela reserva de emergência que Henrique sempre insistia para ela guardar, e que ela nunca tinha tocado.

Henrique era uma pessoa muito cuidadosa, não só estrategista, mas também prevenia problemas antes que eles acontecessem.

Desde que fundaram a empresa, ele fazia questão de guardar um valor todo ano para qualquer imprevisto. O dinheiro estava no nome dela, o valor dependia do lucro da empresa, e em quatro anos tinha acumulado nada menos que quinhentos milhões.

Se algo acontecesse, aquele dinheiro poderia ajudar Henrique a recomeçar.

Só que, infelizmente, ele já não teria aquela chance.

Assim que terminou de arrumar as coisas que levou, ela soube que algo estava acontecendo lá na mansão da família Duarte.

Quase duas da tarde, Henrique e Yasmin saíram finalmente pela porta, com Gabriela e Cecília os acompanhando até a saída.

Estavam naquele momento de despedida, quando uma multidão de jornalistas apareceu de repente.

— Sr. Henrique, você fala que com a Srta. Yasmin é só uma relação de trabalho, mas veio aqui com ela para se reunir com a família. Está mesmo planejando abandonar sua esposa, que passou tantos anos ao seu lado nas dificuldades?

— E a Sra. Duarte e a Srta. Duarte, vocês não só não têm nada contra as atitudes do Sr. Henrique, como parecem até apoiar!

— Ah, gente, mesmo que seja só uma relação de trabalho, eles não podem nem almoçar juntos? — Cecília já se levantou para defender. — A Yasmin foi convidada por mim, meu irmão só deu sorte de encontrar ela ali...

— E nessas horas, a Srta. Duarte não se importa com os boatos, ainda recebe a tal da Yasmin em casa para almoçar? E a Sra. Duarte, onde fica nessa história? Ou será que você está torcendo que seu filho e a Srta. Valentina se divorciem?

As perguntas dos repórteres foram afiadas, e Cecília, que já não tinha as intenções mais puras, ficou visivelmente desconcertada.

— Quem mandou vocês? Por que ficam grudados no meu irmão? O que querem afinal?

Henrique ficou curioso também, e respondeu firme:

— Voltem e digam ao chefe de vocês que eu Henrique vou até o fim, seja o que for que ele queira fazer!

Valentina sabia que, além de Henrique estar desafiando aquele inimigo imaginário que criou, o que ele queria mesmo era mostrar para todo mundo que acompanha o caso que ele e Yasmin eram inocentes, que estavam sendo armados.

Vendo aquilo, Valentina deu uma risada leve:

— Henrique, se você quer provar, vou te dar essa chance!

Assim que saiu da live, Valentina mandou uma mensagem para alguém, largou o celular e foi até a cozinha preparar um macarrão rápido. Comeu tudo e subiu para tirar uma soneca.

Nos últimos dias, ela não vinha se sentindo muito bem.

Mesmo dizendo para si mesma que já não ligava mais, às vezes a cabeça simplesmente não obedecia.

Principalmente à noite, bastava fechar os olhos que aquelas lembranças indesejadas vinham todas de uma vez. Pessoas, situações... Tudo o que ela mais queria esquecer.

Achou que teria dificuldade para dormir, ainda mais por estar num lugar novo. Mas, para a própria surpresa, dormiu direto até às oito da noite.

Foi a ligação da Catarina que a acordou.

Catarina Soares, sua melhor amiga, queria chamar ela para ir ao bar.

Valentina trocou de roupa, vestiu um cardigã branco de tricô, uma calça jeans azul clara, prendeu o cabelo de qualquer jeito e nem se deu ao trabalho de passar maquiagem.

Era só um encontro com a Catarina, então foi no modo mais confortável possível.

Na entrada do Paraíso Celestial, ela encontrou Catarina já toda produzida.

Assim que a viu, Catarina já soltou uma bronca:

— Pelo amor de Deus, que roupa é essa?

Valentina deu uma risadinha.

— Não lembro de ter visto dress code para entrar aqui…

— Ah, vai se ferrar! Olha em volta, vê se tem alguém que não está mostrando tudo o que pode? E você vem vestida de freira?

Sem dar chance de resposta, Catarina pegou Valentina pelo braço e arrastou ela até uma loja feminina do outro lado da rua.

Assim que entrou, ela foi direto e pegou para ela um vestido vermelho, tomara que caia e até o joelho, e empurrou para cima dela:

— Vá lá, experimente esse aqui.

Valentina fez uma careta. Nunca tinha usado uma roupa assim, então hesitou:

— Não tem outro?

— Que outro, menina? Vai com esse mesmo. Rápido... — Catarina estreitou os olhos e falou com um sorrisinho torto. — Ou você quer que eu te ajude a vestir?

Valentina ficou sem palavras.

No fim das contas, ela entrou no provador mesmo. Lá fora estava frio, de qualquer forma ia usar casaco por cima.

Quando saiu do provador, Catarina a olhou de cima a baixo, visivelmente satisfeita:

— Agora sim! Essa é a Valentina que eu gosto de ver! Já que aquele canalha não soube te valorizar, então feche o coração e viva do jeito mais livre possível. Dane-se o resto!

Valentina compreendia perfeitamente o carinho por trás das palavras de Catarina. Ela sorriu, emocionada, e assentiu:

— Tá bom. Combinado.

Na verdade, ela sempre admirou muito Catarina, tão livre, tão segura de si, nunca deixava ninguém controlar sua vida.

Talvez estivesse mesmo na hora de aprender um pouco com ela.

As duas saíram da loja de roupas e voltaram para o Paraíso Celestial. Assim que entraram, Catarina viu de relance Luiz Barbosa, que estava sentado em uma das mesas VIP bebendo com seus amigos.

Os dois se odiavam desde crianças.

Na mesma hora, o rosto da Catarina fechou:

— Merda! O desgraçado está aqui. Que azar! Val, ele não vai te reconhecer assim. Entre primeiro, eu espero mais um pouco aqui fora! — Antes que Valentina dissesse qualquer coisa, Catarina completou. — Só para deixar claro: não é medo dele, tá? Só não quero olhar para cara daquele desgraçado mesmo.

Valentina deu de ombros, sem comentar nada:

— Beleza, vou para o camarote te esperar.

— Tá bom.

Enquanto Catarina voltava para o carro, Valentina seguiu sozinha pelo corredor. Estava quase chegando no camarote quando alguém a agarrou de repente.

A pessoa vinha correndo e colidiu com ela com tanta força que a empurrou contra a parede, jogando todo o peso do corpo em cima dela.

Tudo aconteceu tão rápido que Valentina demorou alguns segundos para entender o que estava rolando. Estava prestes a empurrar a pessoa para longe:

— Me ajuda...

A voz era fraca, quase como um sussurro de mosquito.

Só então Valentina percebeu que o homem respirava com dificuldade e exalava um forte cheiro de sangue.

Ela não fazia ideia do que estava acontecendo, e não ousava se meter. Vai que ele era alguém perigoso...

Não era que ela tivesse medo de confusão, mas já tinha Henrique para lidar. Não podia se dar ao luxo de arrumar outro problema naquele momento.

Além disso, em um lugar como aquele bar, cheio de gente estranha, quem podia garantir se ele era alguém do bem ou do mal?

Com aquele pensamento, Valentina o empurrou com força e disse:

— Procure outra pessoa. Eu não posso te ajudar.

— Desculpa por incomodar.

O homem não insistiu. Apertando a barriga, que já havia manchado toda a camisa branca de vermelho, continuou andando cambaleante pelo corredor.

Valentina desviou o olhar e se virou para abrir a porta do camarote...

De repente, o som pesado de um corpo caindo no chão.

Ela olhou em volta. O corredor não tinha câmeras.

No fim das contas, o bom senso de Valentina perdeu para a compaixão que insistia em aparecer nas horas erradas.

Ela o levou para dentro do camarote e o deitou no sofá.

Ao ver o rosto pálido dele, Valentina hesitou por um momento antes de levantar a barra da camisa dele.

O ferimento ficava na parte inferior esquerda da barriga. Um corte longo, mas nada muito grave, era superficial.

Ela procurou a caixa de primeiros socorros no camarote e começou a estancar o sangue e fazer os curativos.

No processo, acabou apertando um pouco demais e ele se encolheu de dor, puxando o ar com força. Seus olhos, antes fechados, se abriram de repente.

Quando seus olhares se cruzaram, Valentina sentiu uma estranha sensação de familiaridade.

Parecia já ter ele visto em algum lugar... Mas por mais que tentasse lembrar, não conseguia.

Foi o som repentino de batidas na porta que a tirou do transe.
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