Margens Gêmeas

Eu e Joana realizamos nosso casamento no mesmo dia.

Nossos maridos, um Capitão Bombeiro e o outro um policial, eram amigos de infância e, por isso, compraram apartamentos no mesmo andar para serem vizinhos.

Pouco tempo depois, eu e Joana descobrimos que estávamos grávidas.

Porém, dez dias antes da minha data do parto, o Edifício Aurora pegou fogo de repente.

A casa estava cheia de fumaça e, rapidamente, comecei a ter contrações devido à inalação de fumaça, enquanto o sangue escorria pelas minhas pernas e minha consciência oscilava.

Tremendo várias vezes, consegui finalmente ligar para o meu marido em busca de ajuda.

Mas ele, impacientemente, me repreendeu: — Isabela Silva, você está louca? Precisava ligar justo quando estou em uma missão de resgate?

— Você não sabe que a Camila foi sequestrada por um criminoso misterioso e está amarrada no topo do prédio, correndo risco de vida?

— Todo dia é um problema novo com você!

Sem me dar chance de explicar, ele desligou o telefone.

Quando tentei novamente, estava desligado.

À beira da morte, foi Joana quem, sem hesitar, entrou no fogo para me carregar escadas abaixo, mas isso a deixou com sinais de aborto iminente.

O segurança do prédio mencionou que poderia ter sido um incêndio criminoso.

Pois, os fios de aterramento da Sala Elétrica foram cortados intencionalmente.

Joana imediatamente ligou para o marido policial, mas também foi recebida com uma bronca:

— Você e sua irmã perderam a cabeça?

— O sequestrador da Camila ainda não foi capturado, parem de ligar e atrapalhar meu trabalho!

— Eu e Rafael estávamos loucos quando decidimos nos casar com vocês!

O telefone também foi desligado.

No fim, não consegui chegar ao hospital e dei à luz um natimorto.

O filho de Joana também não sobreviveu.

Choramos juntas, decidindo ambas pelo divórcio.

*

Após o parto, meu corpo estava muito fraco, eu sentia muita dor e tremia sem parar.

Até mesmo ações simples como procurar um número no celular e ligar, me faziam suar frio e ficar sem fôlego.

— O que você quer agora!?

Finalmente, na quinta tentativa, Rafael Costa atendeu, tentando conter sua raiva: — Ainda não cansou de ser repreendida?

Ao fundo, ouvi um choro suave e delicado.

Era Camila Santos.

Ri amargamente. — Vamos nos divorciar. Desejo felicidade a vocês.

— Isabela, se está tão desocupada, vá procurar uma pedra para brincar!

Rafael ficou em choque por um momento, antes de gritar de novo: — Já disse que eu e Camila somos apenas amigos, além disso, ela tem fobia de altura e foi amarrada no terraço do vigésimo quarto andar!

— Você entende o que isso significa? É uma questão de vida ou morte!

— Pare de reagir como uma louca sempre que ouve o nome da Camila!

— Estou avisando pela última vez, se continuar com essas birras, vou te deixar, mesmo que esteja grávida!

Ele desligou após essas palavras.

Minhas lágrimas caíram sem parar, molhando a tela do celular.