Capítulo 1

A viagem de negócios de Olívia pela Zênite Tecnologia foi interrompida abruptamente.

Ela havia recebido uma notificação de que seu marido, Leonardo, estava em estado crítico.

Ele quase perdeu a vida ao resgatar uma jovem daquele lugar infernal.

Olhando a data no documento, ela viu que já havia se passado meio mês.

Quando Olívia retornou à Capital e chegou ao hospital no meio da noite, uma chuva fina caía do céu.

A porta do Maybach foi aberta pelo assistente.

— Sra. Olívia, chegamos. O Sr. Leonardo já acordou e está fora de perigo.

Olívia assentiu levemente.

Ela vestia um longo vestido lilás acinturado que chegava aos tornozelos.

Seu rosto era sereno e frio, e gotas de chuva pairavam em seus cílios escuros como as asas de um corvo.

Ela pegou o guarda-chuva que o assistente lhe ofereceu, desceu do carro com seus saltos de oito centímetros e caminhou sob a chuva.

Dirigiu-se ao elevador e entrou.

Enquanto observava os números subirem, a expressão em seus olhos permaneceu distante.

Quanto mais distante ela parecia, mais receoso o assistente ao seu lado ficava de falar.

Qualquer outra mulher, cujo marido quase morrera para salvar uma garotinha, estaria desesperada.

Mas Olívia agia como se nada a abalasse.

Olívia parou em frente à porta do quarto do hospital.

Sua mão mal havia tocado a maçaneta.

Através da janela de vidro, ela viu a cama de Leonardo.

Uma jovem chorava debruçada sobre o peito dele, seus ombros tremendo incessantemente.

E Leonardo, com uma expressão de pura compaixão, acariciava suavemente as costas da garota.

— Por que está chorando de novo? — Disse ele, com um tom de voz extremamente gentil. — Eu já estou me recuperando.

Olívia há muito controlava suas emoções.

No entanto, ao ver aquela cena, seu rosto ficou pálido de uma forma que ela não pôde conter.

Sua mão apertou a maçaneta com força.

Ela e Leonardo tinham um casamento arranjado.

O homem era um poço de formalidades, e por isso, durante os seis anos de casamento, a relação deles sempre foi de respeito mútuo, como se fossem dois estranhos educados.

Mas apenas Olívia sabia a verdade.

Na realidade, ele simplesmente não se importava.

Era por não se importar que ele conseguia ignorá-la por completo.

Ela não ocupava lugar algum em seu coração, nem mesmo conseguia despertar qualquer emoção nele.

Leonardo só sabia que aquele casamento arranjado era algo que nenhum dos dois desejava.

O que ele não sabia era o quanto Olívia havia se esforçado nos bastidores.

No dia do casamento, ela esperou cheia de alegria pelo homem que amava.

O que recebeu foi uma única frase de Leonardo.

— Eu sei que você não quer isso, e eu também não quero. Nossa união é puramente por interesses. Não vou interferir na sua vida e espero que você faça o mesmo.

Na noite de núpcias, ele passou a noite inteira no escritório.

Nos seis anos de casamento, ele nunca a tocou.

Ela pensou que viveriam assim para sempre, como dois estranhos respeitosos.

Até o quinto aniversário de casamento, quando ela testemunhou o lado descontrolado de Leonardo.

Ele, que sempre prezava pela etiqueta, brigou violentamente com outras pessoas por causa daquela garotinha, e o caso acabou na delegacia.

Olívia correu para a delegacia no meio da noite para tirá-lo de lá.

A cena que encontrou foi a mesma de agora: ele, abraçando a garota com ternura e compaixão, consolando-a.

Naquele instante, Olívia ouviu o som de seu próprio coração se partindo, sem chance de reparo.

Mais tarde, ele contrariou a família e insistiu em contratar a jovem para ser sua assistente pessoal na empresa, para que pudesse protegê-la de perto.

Quando surgiam falhas nos projetos, Leonardo a perdoava repetidamente.

E Olívia, seguindo atrás, consertava os erros, um por um.

Ela observava a ternura que Leonardo dedicava a outra, ignorando o mundo ao redor, e seu coração doía como se estivesse sendo rasgado.

Como ela queria poder dizer: "Leonardo, se você olhasse para trás por um instante, veria que meu coração está tão quebrado que não pode mais ser remendado."

Olívia fechou os olhos com força, a testa franzida.

Seu peito parecia obstruído por uma tonelada de algodão.

A voz da garotinha soou novamente.

— Leonardo, nunca mais se arrisque assim! Se não valorizar sua própria vida, eu...

Leonardo soltou uma risada baixa, o olhar terno, a voz um pouco fraca.

— Você o quê?

— Eu vou fazer você dizer na frente de todas as redes sociais que você é um idiota!

Uma aposta insignificante.

Mas para alguém como Leonardo, que tinha a etiqueta gravada na alma, seria extremamente difícil.

Certa vez, ficou furioso com Olívia apenas porque ela escolheu o vestido errado para uma festa.

Por isso, Olívia pensou que, por mais especial que a garota fosse, Leonardo não concordaria.

No segundo seguinte, suas expectativas foram frustradas.

— Certo, farei tudo o que você disser.

Olívia parou, sentindo uma dor aguda e latejante no coração.

Um sorriso amargo brotou em seus lábios.

Parece que ela havia se enganado.

Se Leonardo estava disposto a arriscar a vida por ela, por que se importaria com algo tão trivial?

Deixe para lá.

Olívia enxugou uma lágrima e abriu a porta.

Os dois olharam em sua direção.

O rosto de Eunice mudou.

Ela se levantou imediatamente, mas Leonardo a segurou pelo pulso, fazendo-a sentar novamente.

O olhar de Olívia escureceu.

Então, Leonardo já não se importava mais em esconder o relacionamento deles por causa dela.

Sua visão ficou um pouco turva.

— Eu estou bem. Não precisa vir. Volte, a empresa precisa mais de você do que eu.

A voz de Leonardo não tinha a ternura de antes.

Era fria e distante, como se eles fossem os mais íntimos dos estranhos.

Que piada.

Seu marido em estado crítico, e ela só foi notificada meio mês depois.

Isso significava que, durante todo esse tempo, foi Eunice quem cuidou dele.

Qualquer coisa que tivesse acontecido entre eles seria perfeitamente compreensível.

As unhas cravaram na palma da mão.

Olívia ergueu a cabeça e olhou diretamente nos olhos profundos do homem.

— Leonardo, preciso falar com você.

Ao ouvir isso, o assistente, compreendendo a situação, saiu discretamente e fechou a porta.

Eunice também se levantou, como uma garota muito educada.

— Sr. Leonardo, Sra. Olívia, então eu também vou me retirar.

Leonardo olhou para Olívia.

— Se tem algo a dizer, diga agora. Eunice não é uma estranha.

O coração de Olívia estremeceu.

Leonardo ainda não sabia o que ela ia dizer.

E se fosse um segredo da empresa?

Mesmo assim, ele não pediu para Eunice sair.

O relacionamento deles já havia chegado a esse nível de intimidade?

Olívia recompôs-se e olhou calmamente para Eunice.

— Você também pode ouvir.

Ela fez uma pausa, depois tirou um documento da bolsa, abriu-o e o colocou na mesa de cabeceira de Leonardo.

Quando ergueu o olhar novamente, seu rosto estava frio, sem qualquer emoção.

— Leonardo, vamos nos divorciar. Eu quero vinte por cento das ações da Zênite Tecnologia. É o resultado do meu esforço. Não quero a casa nem os carros. Se você não quiser me dar as ações, posso vendê-las para você. Que tal?

Assim que Olívia terminou de falar, a atmosfera no quarto tornou-se subitamente pesada.

Eunice pareceu surpresa e imediatamente olhou para Leonardo.

Os olhos do homem escureceram, sua expressão tornou-se severa.

Naquele momento, não havia nenhum traço de emoção em seu rosto.

Uma pressão baixa se espalhou pelo quarto.

Eunice, percebendo o clima, levantou-se.

— Vou ao banheiro.

Ela era esperta.

Sabia que em uma situação como essa, falar demais seria um erro, então escolheu se afastar.

A porta se fechou novamente, deixando apenas ela e Leonardo no quarto, encarando um ao outro.

Olívia esperou que ele falasse primeiro.

Depois de um tempo, Leonardo abaixou a cabeça e riu baixinho.

— Olívia, você acha que falar sobre isso em uma situação como esta é apropriado?

Apropriado de novo.

Olívia fechou os olhos.

Ela já estava cansada de ouvir essa palavra da boca dele.

Uma onda de irritação cresceu em seu peito.

— E quando você estava com a Eunice, você pensou se isso era apropriado?

Leonardo ficou em silêncio por um momento, recostando-se na cabeceira da cama.

Ele ergueu uma sobrancelha, e pela primeira vez, seus olhos mostraram algo além de frieza.

— Você está com ciúmes?

Olívia não respondeu, apenas o encarou fixamente.

— Ela é apenas uma garota que acabou de entrar no mercado de trabalho. Eu cuidei um pouco dela, por que isso te incomoda tanto?

Leonardo endireitou-se, um leve sorriso surgindo em seus lábios.

— Olívia, se você está preocupada que sua posição como Sra. Mendes seja abalada, pode ficar tranquila. Você é a melhor candidata para Sra. Mendes, escolhida pessoalmente pelo velho senhor. Sem imprevistos, você sempre será a Sra. Mendes.