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CAPÍTULO 4

Author: Caramelo de Leite
Uma casa nova, um novo ambiente.

O condomínio de mansões era silencioso, mas cada detalhe exalava luxo.

Inês se atrasou um pouco no caminho e, quando chegou, já era madrugada.

Mesmo assim, as luzes da casa ainda estavam acesas.

Assim que empurrou a porta, uma mulher de aparência madura, mas com um rosto amável, veio recebê-la com um sorriso.

Atrás dela, havia uma fileira de funcionários.

— Você deve ser a Inês, certo? Entre logo, querida, a noite está fria. Já preparei uma sobremesa de leite e frutas, bem leve e saudável. Vou servir agora mesmo.

— As malas que você mandou trazer durante o dia já estão no seu quarto. Eu não sabia dos seus costumes, então não mexi em nada.

Inês arqueou uma sobrancelha. Suas malas continham muitos pertences pessoais, se alguém tivesse aberto, por qualquer motivo, ela teria de repensar seriamente sua relação com Duarte.

— Obrigada. Como devo te chamar?

— Pode me chamar de Dona Célia, sou a governanta daqui. Estas três pessoas são os chefs, vão cuidar da sua alimentação, sabem preparar qualquer tipo de prato, e estes outros são os responsáveis pela limpeza...

Dona Célia segurou a mão de Inês, apresentando-lhe um por um os funcionários da mansão.

Por fim, fez um sinal com os olhos.

Todos se curvaram em respeito e disseram em uníssono:

— Boa noite, Srta. Inês.

Inês não conteve um sorriso:

— Obrigada. Já está tarde, podem ir descansar.

— Sim, sim, a Srta. Inês tem razão. Ficar acordado até tarde faz mal.

Depois de tomar a sobremesa, Inês subiu as escadas sob o olhar atencioso de todos.

Dava pra ver que aquela gentileza vinha das instruções diretas de Duarte.

As roupas novas e outras coisas foram entregues diretamente pelo shopping.

Mesmo assim, quando terminou de organizar tudo, já era madrugada.

As oito da manhã eram o pesadelo de qualquer trabalhador, mas, depois de tantos anos, o corpo de Inês já estava acostumado.

Por mais tarde que dormisse, aparecia sempre impecável na empresa no dia seguinte.

Mesmo durante o período de transição, não permitia nenhum erro em seu trabalho.

Como secretária-chefe de Miguel, quando ele não estava, havia muitas decisões que dependiam dela.

E, quando ele estava, principalmente com Lígia também presente na empresa, o volume de tarefas só aumentava.

A noite mal dormida não afetou seu desempenho, apenas deixou olheiras que nem a maquiagem conseguiu esconder direito.

Seu semblante estava pálido.

A ponto de, quando Miguel foi à empresa para a reunião, o olhar dele cair de vez em quando sobre ela.

Ela tinha traços delicados, pele clara, raramente usava maquiagem, um simples batom já bastava para se destacar.

Hoje ela estava com uma maquiagem leve, os olhos um pouco inchados e, sob eles, um leve tom arroxeado.

Ele pensou que a ausência dele na noite anterior a havia abalado. Deve ter ficado acordada esperando por ele.

Miguel olhou o celular. Nenhuma mensagem dela.

Antes, sempre que sabia que ele estava bravo, Inês mandava várias mensagens pedindo que voltasse pra casa.

Mas, nos últimos dias, ela estava cada vez mais estranha.

Talvez fosse o ciclo menstrual.

Inês percebeu o olhar dele, mas nem se deu ao trabalho de responder.

Todos os trâmites já estavam prontos, depois do processo de divórcio, bastaria que os dois fossem juntos ao cartório assinar os papéis do divórcio.

Quando a reunião terminou, Inês estava prestes a se levantar, mas ouviu Miguel chamá-la:

— Espere.

— O Sr. Miguel precisa de algo?

— Como está o seu texto de reflexão sobre o que aconteceu ontem?

Ontem?

Inês, ocupada com o divórcio e a mudança, tentando cortar qualquer vínculo com ele, ficou sem reação diante da pergunta inesperada.

Mas logo percebeu, ele raramente se preocupava com ela.

O que queria saber era sobre Lígia.

Ela o encarou de lado.

— Reflexão sobre o quê? Se o Sr. Miguel quer discutir assuntos pessoais no horário de trabalho, infelizmente não posso acompanhá-lo.

Estava ocupada com a transição e o andamento dos projetos.

Não tinha tempo a perder.

Virou-se e saiu sem olhar pra trás.

Logo na saída, esbarrou diretamente em Lígia.

Lígia franziu a testa, prestes a explodir, mas ao ver quem estava diante dela e o homem sentado na sala de reuniões, engoliu a raiva que já lhe subia à boca.

Com expressão ofendida, segurou os próprios braços.

— Inês, eu vim trazer almoço pra você e pro Miguel. Se você não gostar, podia ter dito, não precisava...

As lágrimas caíram antes das palavras terminarem.

Ao ouvir o choro, Miguel se levantou e veio correndo.

Sem pensar, empurrou Inês para o lado.

A força dele foi grande, empurrando Inês com tudo contra a parede. O impacto na testa a deixou atordoada por um instante.

— Inês, o que deu em você? Lígia veio aqui com boa intenção, precisava tratá-la assim?

— Desde quando você ficou tão cruel? Agora até a própria irmã você ataca!

As acusações caíram sobre ela uma após a outra, cada palavra piorando a dor que já latejava em sua cabeça.

Com o olhar frio, Inês observou Miguel e Lígia. Ela, protegida nos braços dele, segurava apenas uma marmita nas mãos.

Dizia ter vindo trazer comida pros dois, mas todos sabiam muito bem qual era a real intenção.

Ela levou a mão ao lugar onde tinha batido, já havia um galo ali.

O corpo demorou a se recuperar, e ela ficou encostada na parede por um bom tempo, tentando se recompor.

— Miguel. — Chamou, em voz baixa.

Ele respondeu com impaciência:

— Não tente mudar de assunto. Hoje você vai pedir desculpas à Lígia!

Ontem ele ainda tinha sido tolerante, e agora ela estava cada vez mais ousada!

— Não precisa, Miguel. A Inês deve estar sensível por causa da gravidez, com o humor instável. Mesmo que ela não goste de mim, eu não a culpo. — Disse Lígia, com um ar delicado, puxando a manga da camisa dele. — O mais importante é que ela esteja de bom humor.

— Lígia, você é boa demais. — Miguel, cheio de pena, a protegeu com o olhar. — Inês ficou mimada demais com o quanto eu a deixei à vontade, agora não respeita mais ninguém. Ela tem que te pedir desculpas, tem que entender que errou, senão vai continuar causando confusão!

— Tá ouvindo? Vem aqui pedir perdão pra Lígia. Fica aí parada olhando o quê?

Inês observava os dois interagindo.

De repente, soltou uma risada.

— Olhando vocês se entendendo tão bem, quem não souber até pensa que são marido e mulher.

— Já que sou a intrusa, acho melhor eu sair, não é?
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