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CAPÍTULO 5

Author: Caramelo de Leite
Miguel ficou rígido. Logo em seguida, reagiu como se tivesse levado uma ferroada:

— Que absurdo é esse que você tá dizendo?!

— A Lígia é sua irmã! Ela nem casou ainda, e você vem inventar essas histórias sujas sobre ela? Que tipo de irmã faz isso?!

Lígia parecia não aguentar as acusações. Encostou-se no peito de Miguel e começou a chorar desesperadamente.

— Chega, Miguel, por favor... é culpa minha. Eu nem devia ter vindo, sou só um estorvo, é melhor eu ir embora, não quero que vocês briguem por minha causa...

Mas, enquanto falava em ir embora, o corpo dela se apertava ainda mais contra o dele.

Inês deixou escapar um riso carregado de ironia.

— Tá bom, se não quer ir, não se force.

Ela massageou o abdômen, apoiando uma mão na parede para se manter de pé. O olhar frio pousou sobre o casal diante dela, tão íntimo que pareciam dois amantes perfeitos.

— Quem deve ir sou eu. Não quero atrapalhar o amor de vocês.

Foi então que Miguel percebeu o quão pálida ela estava. Ao lembrar do empurrão que havia dado, um lampejo de culpa atravessou seu rosto.

Soltou Lígia e se aproximou de Inês.

A Lígia, pegada de surpresa, perdeu o equilíbrio e quase caiu.

— Miguel. — Chamou, manhosa, mas não teve resposta. A mágoa ficou estampada no rosto.

— Você se machucou? — Miguel estendeu a mão, tentando tocar o abdômen dela. — E a barriga? Me diga, por que tá sendo tão descuidada agora que tá grávida?

Inês soltou uma risada de puro deboche.

Deu um tapa na mão que Miguel estendia e respondeu, irritada:

— Não foi alguém que me empurrou contra a parede? E agora vem bancar o preocupado?

Um traço de culpa passou pelo olhar de Miguel.

— Eu só tava nervoso! Se você não implicasse com a Lígia, eu teria ficado calmo. Ela é sua irmã! Vocês sempre se deram bem, por que agora tem que brigar por tudo?

Inês quis retrucar. Será que ele realmente não sabia o motivo?

Mas uma pontada forte no abdômen a fez perder o ar.

— Ah...

Ela segurou o ventre e, instintivamente, agarrou o braço de Miguel.

— Minha barriga...

— A culpa é minha! Se eu não tivesse vindo, nada disso teria acontecido. A Inês sempre foi saudável desde que engravidou, deve ser porque eu não sou querida... toda vez que apareço, ela passa mal. Eu vou embora!

E, dizendo isso, saiu correndo da sala de reuniões.

— Lígia! — Miguel chamou, desesperado, e, sem pensar, largou o braço de Inês para correr atrás dela.

A dor apertava tanto que o suor frio escorria pela testa de Inês.

Ela se esforçou para bloquear o caminho de Miguel, a voz tomada pela dor:

— A minha barriga... me leva pro hospital primeiro...

Miguel explodiu de raiva.

Ele arrancou o braço dela com força e despejou insultos:

— Para de fingir! Eu realmente me enganei com você, Inês! Achei que fosse uma mulher sensata, mas agora inventa qualquer mentira pra chamar atenção! A Lígia tem razão, sua gravidez sempre foi ótima, e eu mal encostei em você! Agora vem dizer que tá com dor?

— E não ache que tá imune só porque tá grávida! Eu prometi pros seus pais que ia cuidar da Lígia, e olha o que você faz, com ciúmes da própria irmã! Não tem vergonha?

Depois de jogar tudo isso, Miguel se virou bruscamente e saiu correndo atrás de Lígia.

Sem apoio, Inês despencou para frente.

— Inês! — O assistente, Bruno, correu até ela e a segurou antes que batesse no chão.

Inês ergueu os olhos, prestes a agradecer, mas sentiu uma umidade quente escorrer pelas pernas.

Assustada, abaixou os olhos e viu o sangue escorrendo pelas pernas.

— Inês, o que houve?! — Bruno entrou em pânico.

— Liga pro 192... — Foi tudo o que Inês conseguiu dizer antes de perder completamente a consciência.

No outro lado do prédio, Miguel alcançou Lígia na escada.

A garota estava de pé no parapeito da janela, o corpo frágil balançando perigosamente.

— Lígia, não faz uma loucura dessas! — Miguel gritou e se lançou em direção a ela.

Agarrou-a pela cintura, como se tivesse resgatado um tesouro perdido, e a puxou de volta.

— Miguel! — Lígia chorava descontrolada nos braços dele. — Por que me impediu? Ninguém gosta de mim, sou só um peso!

O coração dele se partiu. Mesmo com as mãos ardendo de dor, enxugou as lágrimas dela com delicadeza.

— Não diga isso. Como assim ninguém gosta de você?

Lígia o encarou com os olhos marejados:

— De verdade?

Miguel beijou-a nos olhos:

— Eu não conto? Fiz tanta coisa por você... ainda duvida de mim?

Ela fez um bico de mágoa.

— Mas você me empurrou por causa dela...

Miguel soltou uma risada curta.

— Então é por isso? Menina teimosa...

Tocou o nariz dela e a pegou no colo.

— Eu só fiquei preocupado com o nosso bebê. Não quer mais o nosso filho?

O rosto de Lígia corou:

— Mas quem sou eu, afinal? Mesmo que a Inês dê à luz ao nosso bebê, eu nunca vou poder aparecer. Ela sempre vai ser sua esposa.

— Eu vou resolver tudo. Não quero te ver triste, tá bem? Quando você chora, meu coração se parte.

Lígia se aninhou no peito dele e assentiu, aliviada.

Vendo-a finalmente calma, Miguel sorriu também.

— Olha só pra você. Perde a cabeça por qualquer coisa. Me machuquei pra te salvar, e agora? Como vou trabalhar?

Lígia se alarmou:

— O quê? Se machucou mesmo? Então vamos pro hospital agora!

Puxou-o pela mão, apressada.

Uma imagem de Inês, pálida, piscou na mente de Miguel.

Segurou a mão de Lígia, hesitante:

— E se a gente passar lá pra ver sua irmã? Ela parece que se machucou de verdade. Já que vamos pro hospital, podemos ir juntos.

Ao ouvir que ele ainda pensava em Inês, Lígia abaixou os olhos, escondendo o brilho sombrio neles.

— Mas... ela não gosta de mim.

— É melhor você ir sozinho. Eu espero no hospital.

Diante da expressão abatida dela, Miguel logo desistiu.

— Esquece, vamos nós dois. Senão ela vai fazer mais drama. Ela precisa refletir.

Só então Lígia ficou satisfeita.

Os dois entraram no carro e seguiram direto para o hospital.

Naquele mesmo instante, dentro de um quarto de hospital, Inês abriu os olhos.

A dor ainda latejava no abdômen. Franziu o cenho e olhou ansiosa para o médico que acabara de entrar.

— Doutor, como está o meu bebê?
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