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CAPÍTULO 7

Author: Caramelo de Leite
Miguel seguiu o olhar da enfermeira e virou a cabeça, viu Lígia atrás dele, puxando de leve a manga de sua camisa como uma esposa tímida.

— Ah... — Miguel, um tanto constrangido, soltou a manga das mãos dela.

Diante de estranhos, ainda tentava manter alguma postura.

— Ela é minha cunhada.

O espanto da enfermeira só aumentou.

Cunhada? Tão próxima assim do cunhado? Ela quase juraria que os dois eram um casal!

Sob aquele olhar, Miguel ficou irritado e respondeu com grosseria:

— E você, o que tem a ver com isso? Onde está a paciente, me diz logo!

A enfermeira ficou ofendida com o tom dele, retrucou já irritada:

— Você é o marido e nem sabe pra onde sua esposa foi? E ainda vem gritar com a equipe médica? Onde você estava quando ela chegou aqui sangrando? Onde estava quando ligamos pra você como contato de emergência?

— Engraçado... a esposa quase perde a criança, tá internada, e o marido aparece por último, com a cunhada do lado! E ainda tem coragem de levantar a voz pros outros.

Depois disso, a enfermeira se virou e foi embora, sem se importar com a cara que Miguel fez.

Lígia também ficou sem graça com as palavras, mas logo se aproximou, tentando acalmar o homem com voz doce:

— Talvez a Inês já esteja em casa, Miguel. Você sabe como ela é... sempre faz essas coisinhas pra te provocar.

Um lampejo de consciência tardia passou pelo olhar de Miguel.

— Impossível. Sua irmã se importa muito com o bebê, ela nunca brincaria com algo assim.

O rosto de Lígia se contorceu por um instante.

— Então eu vou atrás dela! — Disse ela, chorosa. — A culpa é toda minha! Se eu não tivesse ido levar o almoço pra você, ela não teria ficado irritada, não teria se machucado... Eu vou pedir perdão pra ela, ajoelhar se for preciso, desde que me perdoe!

Miguel se alarmou, segurando-a antes que ela saísse.

— Que bobagem é essa agora? Como é que isso pode ser culpa sua?

— Mas você acabou de dizer que a culpa era minha. — Lígia olhou pra ele, sentida.

Miguel levou a mão à cabeça, exasperado.

Não sabia onde Inês estava, e agora Lígia começava a chorar. Ainda por cima, precisava manter a calma e confortá-la.

Naquele instante, sentiu até saudade de Inês.

Ela nunca fazia escândalo, sempre o compreendia, sempre guardava tudo pra si, tão sensata, tão tranquila.

A pontada de culpa mal surgiu e logo foi sufocada pela compaixão por Lígia.

Ele a puxou até a escada de emergência e a envolveu nos braços, murmurando:

— Chega, o que aconteceu hoje não foi culpa sua. Para de chorar, tá bem?

— Agora o mais importante é encontrar sua irmã. O bebê ainda é nosso filho.

Ao perceber o peso daquelas palavras, Lígia conteve o choro.

— Então vamos pra casa, ela com certeza já voltou.

— Certo, certo, vamos. — Respondeu Miguel, animado.

Os dois voltaram correndo para casa.

Ao entrar, Miguel se deu conta de que as coisas de Inês tinham desaparecido.

— O que é isso? — Perguntou, com os olhos vermelhos, encarando o vazio do quarto. — Onde estão as coisas da minha esposa?!

A empregada o olhou, surpresa:

— A senhora mandou a gente empacotar tudo e jogar fora, faz um tempo já.

— Ela não avisou o senhor?

Miguel ficou parado, atônito.

Inês tinha jogado fora todas as próprias coisas?

Por quê?

— Quando foi isso? — Lígia perguntou, e ao saber que Inês tinha se mudado, um brilho de satisfação passou por seus olhos, logo substituído por uma expressão de falsa preocupação. — Mas foi só um empurrãozinho, não foi? Ela precisa fazer todo esse drama com o Miguel? Ele vive tão ocupado, não tem tempo pra ficar mimando ela!

A empregada engoliu em seco, quase dizendo que Inês tinha saído de casa dias atrás, não naquele dia.

Mas ao ver o olhar sombrio de Miguel, achou melhor ficar calada, quando os deuses brigam, é melhor os mortais não se meterem.

— Que ela faça o escândalo que quiser! — Miguel gritou, furioso, balançando o braço. — Se for corajosa, que nunca mais volte! E que não apareça na empresa também!

Logo em seguida, agarrou a mão de Lígia.

— Anda, você não vivia querendo ir naquele restaurante panorâmico? Eu te levo! Hoje mesmo vou reservar o lugar inteiro pra você. Pode tirar quantas fotos quiser!

Lígia ficou radiante:

— Sério? Aaaah, Miguel, eu te amo tanto!

E, sem o menor pudor, jogou-se nos braços dele e encostou o rosto no dele num beijo.

Miguel riu e passou o braço pela cintura dela, pronto para corresponder, mas então notou as empregadas, todas de cabeça baixa, com cara de quem temia virar testemunha de um crime.

O sorriso dele congelou.

— Cof... — Ele soltou Lígia, forçando uma desculpa. — A Lígia ainda é muito nova, se empolga fácil.

As funcionárias permaneceram em silêncio, mas por dentro, todas pensavam o mesmo.

Nova? Já tá beijando desse jeito e ainda vem com essa?

Isso aí é caso de polícia!

— Vamos. — Miguel decidiu não se explicar. Afinal, eram empregados pagos por ele, mesmo com cem vidas, não teriam coragem de contar nada pra Inês.

Os dois saíram de casa de cabeça erguida, e só depois de vê-los ir embora as empregadas respiraram aliviadas e voltaram aos afazeres.

Depois de se mudar para o hospital particular do Grupo Moreira, Inês dormiu profundamente.

Quando abriu os olhos, já era hora do jantar.

A enfermeira que estava cuidando dela viu Inês acordar e abriu um sorriso:

— A senhora acordou! Tá sentindo algum desconforto?

Inês balançou a cabeça.

Aquele sono fora realmente restaurador, sentia-se relaxada.

— Está com fome?

Ela levou a mão ao abdômen, estava mesmo com um pouco de fome, e assentiu.

A enfermeira apertou o botão de chamada.

— Tragam o jantar, por favor.

Com cuidado, ofereceu-lhe um copo de água morna e ajustou a cama para que pudesse se sentar.

O jantar era uma refeição personalizada, preparada pelo nutricionista do hospital, equilibrada, nutritiva e farta.

Depois de comer e beber à vontade, Inês ligou o celular.

Uma enxurrada de notificações fez o aparelho quase travar.

Ela esperou pacientemente até o barulho cessar, então começou a conferir.

A maioria eram mensagens da empresa.

Também havia inúmeras ligações e mensagens de números desconhecidos.

E, por fim, as mensagens de Lígia.

A mulher realmente não desistia, tinha mandado centenas delas sozinha.

Inês abriu algumas e logo entendeu o motivo do surto.

Aquele restaurante panorâmico era o lugar que Inês tinha reservado para um jantar com Miguel.

Ela queria comemorar a gravidez, e até contratara um fotógrafo para registrar a reação dele ao descobrir que seria pai.

Mas naquela noite, esperou sozinha até o restaurante quase fechar.

Só então Miguel ligou, dizendo que estava trabalhando e havia perdido a noção do tempo.

Na verdade, ele estava com Lígia, passeando de balsa e soltando fogos de artifício românticos.

Inês encarou a foto em que Lígia e Miguel apareciam juntos, colados um no outro, e soltou um riso sarcástico antes de bloqueá-los.

Culpa dela mesma, desligou o celular, mas esqueceu de bloquear!
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