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capítulo 3

Author: Ladrão de Justiça
Do lado de fora, começaram a surgir vozes impacientes.

— Foi só uma brincadeira, Leonardo. Que drama é esse?

Ele falou baixo, tentando conter a raiva:

— A Larissa tem pavor de água desde criança. Como vocês têm coragem de brincar justamente com isso?

— Ah, para né... — Disse alguém com descaso. — Considera como uma vingança simbólica. Agora que a Cami voltou, não é hora de você se livrar da Larissa e ficar com quem realmente quer?

— Depois de tudo que a gente já fez com ela, mais isso, menos isso, dá na mesma.

Essas palavras acenderam o estopim.

Leonardo deu um chute violento na mesa.

— Ela acabou de sair de uma cirurgia! E se a ferida abrir de novo, hein? Vocês pensaram nisso?

O rosto de Camila empalideceu.

Ela olhou fixamente para Leonardo e perguntou em voz baixa:

— Leonardo. Só se passaram quatro anos. Você já se cansou de mim?

Quase sem pensar, ele respondeu:

— Nunca! A única mulher que eu amei na vida foi você. Isso não muda!

A sala explodiu em gritos e risos cúmplices.

— Sempre deu pra ver que você e a Cami se amam. Se não fosse por essa Larissa enfiada no meio, já estariam juntos há muito tempo. — Comentou um dos rapazes.

— Uma mulher cara de pau daquele jeito tem que pagar. Se ela atrapalhou o destino de vocês dois, agora é hora da justiça!

— Ela que fez a Cami perder a prova da faculdade de artes, lembra? Jogou o carro em cima dela de propósito. Só porque a Cami machucou a perna, perdeu o exame. Então, nada mais justo que quebrar as duas pernas dela agora.

Todos concordaram entre risos e acenos.

Mas a expressão de Leonardo mudou.

— Não. O corpo da Larissa não aguenta mais esse tipo de coisa!

Um silêncio pesado caiu no ambiente.

Até que Camila começou a chorar.

— Leonardo, você me disse que só ficou com ela pra me vingar. Agora que eu voltei, por que continua defendendo essa mulher?

— Você viu como meu pé ficou depois daquele acidente. Eu só quero justiça. É pedir demais?

Leonardo ficou visivelmente abalado.

A abraçou com força, colando os lábios nos dela.

Depois de um longo olhar, respondeu com a voz rouca:

— Só... não exagerem. Não quero sair disso devendo nada pra Larissa.

Ouvir tudo aquilo me deixou com o peito apertado.

Pra ver Camila sorrindo... Eles estavam mesmo dispostos a me destruir?

Então não reclamem quando a conta vier.

Peguei o celular e mandei uma mensagem pra minha mãe.

Enquanto isso, o grupo terminou a conversa e saiu aos risos, fazendo barulho.

Leonardo abriu a porta do quarto e se sentou na beira da cama.

Talvez tenha se comovido ao me ver encolhida sob o edredom, pálida, imóvel.

Se inclinou devagar, tentando me beijar. Mas eu o afastei com a mão.

Seus dedos congelaram no ar por um segundo. Depois, forçou um sorriso gentil.

— Amor, sinto muito por fazer você sofrer hoje. Pra compensar, reservei aquela sua churrascaria favorita, aquela dos casais. Amanhã, meio-dia. Não falta, tá?

Senti o coração gelar. Respondi com um simples:

— Tá bom.

Na manhã seguinte, Leonardo disse que precisava passar no hospital antes.

Me entregou as chaves do carro com um sorriso.

— Vai na frente. Te encontro lá.

Quando peguei a chave, falei baixinho:

— Leonardo, se tivesse outra chance, você ainda escolheria ficar comigo?

Os olhos dele piscaram com um resquício de hesitação. Mas logo afagou meu cabelo, sorrindo:

— Para com isso. Você é o amor da minha vida. Sempre foi. Sempre vai ser.

Observei ele se afastando. E sorri.

Era minha última oferta de perdão.

Fui até a garagem, entrei no carro e liguei o motor com calma.

Saí do condomínio e logo peguei a via expressa conforme o GPS indicava.

Ali, a velocidade chegava facilmente a 160 por hora.

Enquanto isso, Leonardo e seus amigos estavam reunidos em uma casa alugada só pra isso.

De longe, observavam meu carro através de um binóculo.

Perto do destino, havia uma curva fechada.

O momento perfeito.

Assim que o carro virou, algo estranho aconteceu.

Ao invés de reduzir a velocidade, o carro acelerou ainda mais.

As rodas chiaram contra o asfalto, soltando faíscas.

No microfone escondido dentro do carro, minha voz soava desesperada:

— O que tá acontecendo? O carro... tá derrapando!

— Leonardo, cadê você?! Eu tô com medo... não quero morrer!

As risadas explodiram entre eles. Rugidos selvagens de quem se delicia com a dor alheia.

Viram o carro sair da pista e se chocar contra a grade de proteção com um estrondo ensurdecedor.

A lataria amassou inteira. O carro parou, imóvel.

Leonardo começou a bater palmas.

— Quando ela ligar, eu digo que acabou. Que entre nós dois... já era.

Mas então, o inesperado.

Uma fumaça espessa começou a subir do capô. E, em seguida, uma explosão.

Chamas tomaram conta do veículo. Diante dos olhos de todos, o carro virou uma bola de fogo.

Só restou o silêncio e destroços espalhados pelo chão.
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