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Meu Fígado: O Presente Dele Para Ela
Meu Fígado: O Presente Dele Para Ela
Author: Ladrão de Justiça

capítulo 1

Author: Ladrão de Justiça
Espiei pela fresta da porta e vi meu namorado, Leonardo Ferraz.

Estava sentado na cama do hospital, com o rosto corado, saudável como nunca — nem sinal de alguém doente.

Seu amigo falava empolgado ao lado dele:

— Quando a gente entrou na faculdade, você pagou uns caras pra atormentar a Larissa. Ela ficou isolada pela turma inteira, passou um mês sem coragem de voltar pro dormitório.

— Na formatura, mandou deletarem o TCC dela. Aquilo quase acabou com as chances da herdeira dos Montenegro ser premiada. Levaram ela pra uma sala vazia e quebraram o braço dela na marra.

— Contando com essa de agora, já são noventa e três vezes. — Ele deu uma risadinha maliciosa. — Faltam só mais seis, e dá pra montar um livro de confissões pra dar de presente pra Cami. Quando ela ver o quanto você se esforçou, vai ficar comovida até a alma!

Senti um arrepio gelado percorrer minha espinha.

Jamais imaginei que aquilo que eu achava ser um amor dos céus, na verdade era só um plano de vingança bem amarrado.

Girei o corpo pra sair dali o mais rápido possível, mas ainda fraca da cirurgia, acabei caindo no chão.

A ferida se abriu de novo, e o sangue começou a escorrer pela roupa.

Meu corpo já era frágil, os médicos haviam insistido que eu desistisse da doação.

Mas pra ajudar Leonardo a se curar mais rápido, ignorei os riscos e fui em frente com a operação.

Estava no quarto mais exclusivo do hospital, e o corredor tinha sido esvaziado pra ele descansar.

Mesmo assim, o barulho da minha queda chamou a atenção.

Quando me viu, Leonardo ficou pálido.

— Larissa? Você acabou de sair da cirurgia, o que está fazendo aqui?

Sem esperar resposta, empurrou o amigo de lado:

— Rápido, tragam a Larissa! Alguém limpa o ferimento dela!

Com o comando, todos se apressaram a me levantar e me colocaram ao lado dele.

Leonardo acariciou meu rosto com carinho.

Pegou o antisséptico da mesa e falou baixinho:

— O médico ainda tá lá dentro, terminando o procedimento. Vou limpar isso primeiro, depois ele volta e faz o curativo direito, tudo bem?

A voz dele era a mesma de sempre — doce, atenciosa.

Se olhasse com calma, dava até pra ver arrependimento e ternura nos olhos.

Mas eu já sabia. Era tudo fachada.

Hoje entendi a verdade.

Leonardo me rejeitou por três anos, mas no dia seguinte ao resultado do vestibular, apareceu me declarando amor.

E tudo pra vingar o amor da vida dele — Camila.

E eu, tão tola, achando que tinha conquistado Leonardo com meu amor sincero. Mesmo sabendo que ele já tinha amado outra antes, entreguei tudo de mim.

Fechei os olhos de dor, com os dentes cerrados.

A ferida latejava como se uma lâmina ainda estivesse cortando minha carne.

Leonardo arrancou a faixa e despejou o líquido sobre o machucado.

Uma queimação violenta me atingiu na hora. Gritei, sem conseguir controlar, e o empurrei com força.

Ele bateu com as costas na grade da cama e, ofegante de dor, me deu um chute que me lançou no chão.

Abracei o corte instintivamente e rolei, gemendo.

Foi só então que o médico de plantão apareceu.

Ao ver meu estado, correu até mim com os outros.

Assim que encostou na pele queimada, seus olhos se arregalaram.

— O que foi que vocês fizeram com ela? Isso aqui é queimadura por hidróxido de sódio em alta concentração!

— O quê? Isso é impossível! — Leonardo reagiu na hora, com a expressão ensaiada de choque. Virou-se para a mesa, apertando os olhos como se estivesse em pânico.

— Eu comprei online um desinfetante e um antisséptico. Só queria ajudar com a cicatrização depois da cirurgia… Quando vi o sangue, entrei em pânico e usei o que tinha na frente. Eu nem reparei direito…

— Amor, me perdoa… eu só queria te proteger, e acabei te machucando de novo! — Golpeou o próprio peito com força, se fazendo de arrependido.

Mas se ele realmente se importasse, por que me chutaria com tanta força?

Não respondi. Deixei que os enfermeiros me colocassem na maca e me levassem.

Enquanto esperava o elevador, ouvi gritos de comemoração vindos do quarto dele.

— Leonardo, você é um gênio! Sabia direitinho que aquela idiota da Larissa viria correndo cuidar de você. Trocar o desinfetante por soda cáustica? Genial! Aposto que agora a vagabunda vai ficar com uma cicatriz pra vida inteira!

— Vocês viram a cara dela? Toda destruída, parecia um cachorro sarnento! Eu não aguento!

Fechei os punhos com força.

Mesmo sabendo a verdade há tempos, ouvir aquilo com meus próprios ouvidos doeu como nunca.

Assim que o médico se afastou, peguei o celular.

Reservei um centro de reabilitação com rapidez e, sem hesitar, disquei aquele número do exterior que conhecia tão bem.

— Mãe, eu pensei bem. Quero voltar pra casa.
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