Capítulo 2

Com o casamento se aproximando, Rafaela continuava fazendo dramas.

Cada vez que fazia birra, Henrique e Vinícius me usavam como sacrifício para fazê-la sorrir.

Eu já estava emocionalmente exausta. Verdadeiramente esgotada.

Apesar de ter prometido a Gabriel que não contaria a ninguém sobre nosso casamento, a partir de agora... Eu finalmente não precisava mais correr atrás de Henrique e Vinícius, implorando por um pingo de amor.

Ao empurrar a porta de casa, dei de cara com Rafaela girando alegremente, vestindo o meu vestido de noiva.

Henrique e Vinícius a olhavam com sorrisos bobos, os olhos cheios de paixão. Era como se o amor deles por ela pudesse ser tocado.

Quando me viram, os sorrisos sumiram, substituídos por expressões frias e maliciosas.

— De manhã você dizia que estava com anemia, que não podia doar sangue... Até fingiu desmaio pra ser internada.

— E agora já voltou? Vai me dizer que ficou com medo de perder o casamento amanhã?

—Juliana... Você é mesmo capaz de tudo pra conseguir o que quer. Chega a dar nojo!

O sorriso fingido de Rafaela desapareceu no mesmo instante. De repente, começou a puxar o vestido como se estivesse em pânico.

— Desculpa, mana... Foi só inveja. Eu nunca devia ter vestido seu vestido. Por favor, não me bate! Eu juro que não faço mais isso...

Ela se jogou de joelhos no chão, chorando alto, amassando o vestido que minha avó havia mandado fazer especialmente para mim antes de falecer.

Me aproximei para impedi-la, mas Rafaela aumentou ainda mais os gritos.

— Eu não fiz por mal! Os irmãos da família Mendes queriam me ver vestida assim, só isso! Eu já vou tirar, eu juro! Mas, por favor, não me faça sair pelada na rua de novo como da outra vez... Eu morro de medo!

Henrique e Vinícius arregalaram os olhos. Quando voltaram a me encarar, já estavam com os rostos distorcidos pela raiva.

— Juliana, você também é mulher! Como pode tratar a Rafaela desse jeito?!

— Não tem um pingo de humanidade aí dentro? Se a gente não tivesse desmascarado seus truques, Rafaela ia acabar sendo morta por você, seu monstro!

— Achou que, só porque tem esse noivado, ia ficar por cima? Pode esperar... Amanhã, no seu casamento, você vai ser a piada da cidade inteira!

Meu coração se revirava de dor e indignação. Mas respirei fundo, me controlei e encarei os dois com firmeza.

— Meu casamento não é da conta de vocês dois. Esse vestido foi um presente de casamento da minha avó. É algo pessoal, meu. Ninguém aqui tem o direito de tocá-lo. Rafaela, devolve o meu vestido.

Com os olhos cheios de lágrimas, Rafaela se escondeu atrás dos dois, como se eu fosse uma ameaça. Ao se esquivar, o braço dela bateu numa taça de vinho tinto sobre a mesa, o líquido se espalhou, tingindo de vermelho o tecido branco do vestido.

Henrique fez um estalo com a língua, impaciente. Pegou o vestido manchado e o rasgou sem hesitar.

— Corações podres sujam tudo que tocam. Isso aqui se suja fácil mesmo. Lixo... Combina com lixo.

Senti o sangue ferver. O peito arfava, e os olhos quase saltavam das órbitas. Me abaixei para pegar os pedaços rasgados do vestido do chão.

Rafaela, ao me ver, se jogou para trás com medo. Acabou tropeçando sozinha, e a cabeça dela bateu com força no canto da mesa. Desmaiou na hora.

Ao ver a cena, Henrique e Vinícius correram e a ergueram nos braços, apavorados.

— Juliana! Pra se casar com a gente, você chegou ao ponto de tentar matar a própria irmã?!

— Se algo acontecer com a Rafaela... A gente vai acabar com você!

Eles saíram correndo com Rafaela nos braços.

Mas ali, entre os braços de Henrique, a cabeça de Rafaela pendia... Virada exatamente na minha direção. Ela abriu os olhos discretamente e com um sorriso nos lábios, formou palavras mudas com os lábios:

“Você perdeu.”

Naquele instante, todo o sofrimento que engoli esses dias explodiu.

Não aguentei mais. Corri até Rafaela e agarrei seu cabelo com força.

— Já falei que esse vestido é meu! Vocês podem ir pro inferno se quiserem, mas antes de sair, ela vai me devolver o que é meu!

Henrique segurava Rafaela, enquanto Vinícius tentava arrancar minha mão dela à força.

— É só uma herança de uma velha. Qual o problema da Rafa usar? Você queria usar isso pra se casar com a gente? Juliana, esquece. Isso nunca vai acontecer!