Grávida de nove meses, vi a amada do meu marido se mudar para a nossa casa com uma desculpa qualquer. Ela fingia sofrimento sempre que me via, e ele me acusava de exibir a barriga só para provocá-la. — A Rafa já sofre demais! E você ainda exibe essa barriga enorme só pra machucar! Só vai aprender se eu te der uma lição. — Rosnou ele, com frieza. Sem hesitar, mandou me trancar no sótão e proibiu qualquer um de me trazer comida. Supliquei, dizendo que os gêmeos estavam grandes, que o médico havia pedido minha internação urgente, pois o parto podia acontecer a qualquer momento. Mas ele apenas riu como se eu estivesse contando alguma piada tola. — Ainda faltam três dias pro parto. Não inventa desculpa para escapar! Vai pro sótão pensar bem no que você fez! Isso é o mínimo, depois do que fez com a Rafa! — Ele insistiu, ignorando completamente a minha dor. No sótão escuro, gritei até minhas unhas se quebrarem na porta. No silêncio sufocante, as contrações rasgavam meu corpo, cada onda de dor parecia não ter fim. Coberta de sangue, exausta e ainda presa, percebi que meu filho não sobreviveria. Três dias depois, enquanto tentava tomar um mingau, meu marido, já incomodado, comentou com desprezo: — Manda a Joyce descer para me preparar o mingau, e depois vá pedir desculpas à Rafa. Se ela pedir de um jeito decente, pode até levar ela pro hospital na hora de parir. Mas ninguém respondeu, pois o sangue já escorria do sótão, degrau por degrau, inundando a casa num silêncio mais aterrador que qualquer grito.
View MoreQuando finalmente encontrou a resposta que buscava no celular, Francisco travou, incapaz de raciocinar, encarando a tela como se o mundo tivesse parado. Inconformado, continuou navegando sem parar, pulando de um site para outro, cada vez mais desesperado. Até que, sem conseguir segurar a angústia, gritou como se quisesse rasgar o peito:— Eu não fazia ideia! Juro por tudo, eu não sabia! Achei que gravidez só terminasse no dia certo. Ninguém nunca me contou que podia ser antes!Pela primeira vez, ele ligou para Gabriel, e, num tom de voz jamais visto, quase implorou:— Gabriel, olha... Se você me trouxer a Joyce de volta, faço qualquer coisa, qualquer acordo, você escolhe!Mas do outro lado foi recebido só com desprezo e ironia.— Vai querer negociar agora? Quem é que faz trato com assassino, Francisco? Aliás, dá uma olhada no seu celular. Sua noiva passou por seis abortos. E está tudo escancarado lá nos trending topics.Francisco ficou parado com o celular na mão, o olhar perdido, sem
Gabriel apertava o colarinho de Francisco com tanta força que os dedos ficaram até brancos, e continuou, cheio de ironia:— Você vive jogando lama no nome dela, incapaz de encarar o fato de ser o culpado pela morte da própria esposa e do filho! Tudo isso é só para fugir da verdade, para não admitir que foi você quem causou essa tragédia. A mulher que estava no sótão era a Joyce, sim! Ela só conseguiu dar à luz um bebê, o outro morreu durante o parto, e foi tudo culpa sua!Gabriel soltou o colarinho, o olhar transbordando desprezo.— Sabe por que ainda não fui à polícia denunciar? Porque estou esperando o dia que você vai desmoronar ao descobrir toda a verdade bem na sua cara! E aí, Francisco, tem coragem de chamar um legista para fazer o exame de verdade? Ou está morrendo de medo de confirmar que aquele corpo é mesmo da Joyce?O impacto dessas palavras fez Francisco quase cair de costas, as pernas bambeando sem forças.De volta à mansão, ele se deparou com um novo espetáculo. Rafaela j
Francisco fez questão de organizar uma coletiva de imprensa, ostentando um ar triunfante para anunciar "a novidade do século". Como se não bastasse, foi correndo mostrar o romance com Rafaela nas redes sociais, enchendo o feed de frases apaixonadas e piegas.Francisco: [No fim das contas, sempre foi você.]Rafaela: [Procurei a vida inteira e, no final, era só você.]Em segundos, antigos colegas de colégio começaram a pipocar nos comentários:[É bom demais ver vocês juntos! Felicidades!][De uniforme escolar até o altar, agora comecei a acreditar no amor de novo!]No meio da enxurrada de parabéns, o comentário de Gabriel destoou completamente:[Já achou a Joyce, viva, Francisco?]Francisco só respondeu a esse comentário e ainda fixou no topo:[Sr. Costa, se você escondeu a Joyce, como é que vou encontrar?]E foi aí que as coisas desandaram. Bastou a resposta dele se espalhar para começar uma chuva de ataques, críticas, especulações e fofocas de internet.Como nada parecia bastar nesse m
Assim que viu o sangue espalhado pelas paredes e meu rosto gélido, preso naquele corpo distorcido num canto do sótão, Rafaela soltou um grito desesperado e se jogou direto nos braços de Francisco, paralisada de medo.— Rafa, calma, não precisa ficar assustada! — Francisco tentou protegê-la, suavizando a voz. — Isso aí é só mais um boneco, só mais uma peça nessa encenação. A Joyce teve a cara de pau de armar tudo isso junto com esses dois só para tentar botar as mãos no que é da nossa família!Ele lançou um olhar duro para o mordomo e Gabriel, deixando claro quem mandava.— Amanhã mesmo dou fim a esse casamento ridículo com a Joyce! O filho dela nunca vai ser reconhecido como herdeiro da família Moura! E vocês dois, se ainda quiserem manter seus empregos, tratem de convencer essa mulher a voltar logo e pedir desculpas para Rafa!— Está falando sério? Quer mesmo que a gente busque quem já morreu bem na sua frente? — Gabriel bufou, indignado, e a revolta ficou escancarada em seu tom de vo
A porta do sótão foi arrombada com violência. Como eu estava escorada nela, meu corpo desequilibrado caiu para o lado, rolando sem forças pelo chão, e a criança que eu apertava no colo foi lançada para um canto frio e empoeirado.Meu corpo, totalmente ensanguentado e coberto por camadas espessas de poeira, já não parecia humano, era mais uma sombra ou uma múmia esquecida naquele cenário de abandono.Franzindo a testa, Gabriel manteve o profissionalismo habitual. Ajoelhou perto de mim, mesmo tenso, e verificou meus sinais vitais. Do lado de fora, Francisco torcia o rosto por causa do cheiro de sangue, tapando o nariz sem coragem de pôr os pés no sótão.— O que a Joyce fez agora? Esse cheiro está insuportável aqui dentro! — Ele resmungou, irritado.O mordomo mal ousava respirar, cabeça baixa, lançando olhares ansiosos na direção de Gabriel.— Sr. Francisco... Meus pêsames... — Gabriel murmurou, quase num sussurro.Ele tirou as luvas lentamente, o semblante cada vez mais pesado. O silê
O mordomo engoliu em seco, forçando-se a continuar, mesmo claramente nervoso:— Senhora... Ela parou de respirar...Por um segundo, percebi um traço de pânico na voz do Francisco. Mas, antes mesmo que eu conseguisse captar de fato aquele sentimento, ele já voltava à sua frieza habitual:— Continua fingindo! Quero só ver até onde vai esse teatrinho! Se até em situação de sobrevivência ela aguenta segurar o fôlego por um tempão no mato, passou por tudo quanto é provação... Agora quer enganar quem não entende nada de medicina, fazer vocês acharem que desmaiou mesmo? Chama o médico particular agora, vamos ver ela enganar um profissional de verdade!O mordomo ficou sem fala, com os olhos arregalados.— Sr. Francisco, os bebês também...— Você trabalha para quem, afinal? — Francisco cortou, já perdendo a paciência. — Sou eu quem te paga ou é ela?— Sim, senhor... Eu já vou chamar o doutor... — Sem alternativa, o mordomo só conseguiu suspirar e saiu apressado.Rafaela se encostou em Francisco
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