Capítulo 3

No meio da confusão, alguém arrancou minha peruca. Ao lembrar do cabelo que me forçaram a cortar, uma pontada de tristeza me atingiu o peito.

Aproveitando minha distração, os dois me empurraram com força para dentro do lago artificial ao lado da rocha decorativa.

Não tive tempo nem de reagir... Engoli goles e goles de água logo de cara.

O pânico de estar me afogando tomou conta. Comecei a gritar, mas a mão que me segurava a cabeça debaixo d’água não cedia um centímetro. Engoli mais água, sem conseguir respirar.

— Se não fosse por você, a Rafa já estaria casada comigo! Não teria sofrido tanto na sua casa! Isso é o que você merece, Juliana! O castigo por tudo que fez à Rafa!

Tentei, em vão, arrancar as mãos que me prendiam. Debatia-me com o pouco de força que ainda restava... Mas estava perdendo a consciência.

Tudo à minha volta começou a escurecer.

Quando estava prestes a desistir, a pressão na minha cabeça sumiu de repente.

Em meio à respiração ofegante, ouvi uma voz familiar:

— Não é de um cavalheiro levantar a mão contra uma mulher, senhorzinho.

Abri os olhos num susto.

Era o assistente do Gabriel. Daniel.

Ele olhava para mim com frieza no olhar e, logo em seguida, lançou um olhar cortante para o vestido manchado de Rafaela.

— Pelo que sei, quem vai se casar amanhã é a Juliana. Mas agora, o que vemos? Uma impostora vestindo o traje da noiva... Enquanto dois homens seguram essa ladra e tentam matar a verdadeira noiva. Essa é a educação da família Mendes?

Henrique e Vinícius ficaram lívidos. Abriram a boca, mas não ousaram rebater.

— A gente... Só estava brincando com a noiva.

— Daniel... Por que você tá aqui? Foi nosso irmão quem te mandou para falar conosco?

Daniel manteve o rosto impassível.

— Vim falar com a Juliana.

Henrique e Vinícius trocaram olhares, completamente confusos. Tentaram arrancar alguma informação, mas Daniel os cortou sem rodeios:

— Se não levarem a Rafaela pro hospital agora, ela não vai conseguir manter esse teatro de desmaio por muito tempo.

Os dois empalideceram, constrangidos. Apertaram Rafaela nos braços e saíram às pressas, calados.

Assim que eles saíram, Daniel se virou para mim com um olhar sério.

— O Sr. Gabriel não tinha como te contatar. Pediu que eu viesse te avisar: ele teve que viajar de última hora para uma licitação em outro estado, mas estará no casamento amanhã... Talvez com alguns minutos de atraso. Aqui está o número pessoal dele. Caso precise de algo, pode ligar diretamente.

Naquele momento, eu estava num estado deplorável.

Agradeci a Daniel rapidamente e subi correndo para o meu quarto trocar de roupa.

Mal terminei de me vestir, bateram à porta novamente.

Era um funcionário de uma das boutiques de noiva mais exclusivas do país.

Ele segurava, com todo o cuidado, um vestido de noiva novinho em folha enviado pelo Sr. Gabriel.

Junto do vestido, vieram várias perucas: de diferentes comprimentos, cores e estilos.

Ao ver aquilo... Não consegui conter as lágrimas.

Assim que o entregador saiu, Henrique e Vinícius apareceram de novo.

— Se você já tinha outro vestido, Juliana, por que fez questão de arrancar aquele da Rafaela?

— Além de venenosa, você é invejosa. Quer tanto se casar com a gente, né? Pois agora... É que isso nunca vai acontecer!

Disseram isso, pegaram uma bolsa no sofá e foram embora outra vez.

Só tinham voltado... Para pegar as coisas da Rafaela.

Mudei a senha da porta da frente.

Fiquei diante do espelho, experimentando o vestido que Gabriel havia mandado.

Amanhã, seria com esse vestido que eu subiria ao altar com Gabriel.

Henrique, Vinícius... Considerem que foi Rafaela quem salvou suas vidas.

Não contei para ninguém que troquei o noivo.

Henrique e Vinícius também não voltaram naquela noite.

No dia seguinte, o casamento começou pontualmente.

Com meus pais me apressando, vesti o traje, fiz a maquiagem e subi ao palco da cerimônia... Em silêncio.

O tempo passava, minuto após minuto.

Os convidados começaram a murmurar. O noivo... Não aparecia.

O clima ficou tenso. Os pais de ambos os lados começaram a demonstrar irritação.

Minha mãe me olhava com um misto de raiva e frustração, como se quisesse dizer: “Você estragou tudo de novo.”

Foi então que, no meio do burburinho, as portas do salão se abriram com força.

Contra a luz do sol, surgiram três silhuetas.

Vinícius à esquerda.

Henrique à direita.

E, no meio deles... Rafaela.

Vestindo o mesmo vestido de noiva de ontem.

— Juliana, demoramos... Mas chegamos com sua surpresa de casamento. Gostou?

— Uma mulher dissimulada, que humilha a própria irmã, mente descaradamente e toma crédito por algo que não fez. Você nos enganou por cinco anos, fez Rafaela sofrer por cinco anos... Juliana, quem você pensa que é pra achar que ainda queremos nos casar com você?

Os fotógrafos, já alertados, começaram a disparar os flashes sem parar, luzes estourando em meus olhos, estalando como trovões.

Lembrei do que havia combinado com Gabriel. Respirei fundo, peguei o microfone do celebrante e encarei os dois com toda a calma do mundo.

— Henrique, Vinícius... Eu nunca disse que queria me casar com vocês.