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Veneno Silencioso

Veneno Silencioso

By:  Óscar LioCompleted
Language: Portuguese
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No quinto ano de casamento, Virgínia Prado reclamou que o suplemento de vitamina C que o marido havia comprado era amargo demais. Ela decidiu levar o frasco ao hospital. O médico, após examinar o conteúdo, ergueu os olhos e disse que aquilo não era vitamina C. — Doutor, pode repetir o que disse? — Perguntou Virgínia. — Repetir quantas vezes não vai mudar nada. — Respondeu o médico, apontando para o frasco. — Isto aqui é mifepristona. Se for ingerido em excesso, não só causa infertilidade, como também prejudica seriamente o corpo. Virgínia sentiu a garganta apertar, como se algo a estivesse sufocando. A mão dela que segurava o frasco ficou pálida de tanto que ela o apertava. — Isso é impossível. Foi o meu marido que preparou isso para mim. Ele se chama Marcus Mello. Ele também é médico aqui no hospital. O médico ergueu a cabeça e olhou para Virgínia com um olhar estranho, carregado de algo difícil de decifrar. Por fim, ele sorriu de forma enigmática e disse: — Senhora, é melhor você procurar o setor de psiquiatria. Todos aqui conhecem a esposa do Dr. Marcus. Há dois meses ela deu à luz. Não perca seu tempo, querida. Você não tem chance.

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Chapter 1

Capítulo 1

Enquanto falava, o médico abriu uma foto no celular e mostrou para Virgínia. Na imagem, Marcus vestia um jaleco branco, segurava um bebê nos braços e, ao lado dele, havia uma mulher de sorriso suave e olhar gentil.

Era Aurora Candeias, a famosa irmã de consideração do Marcus que ele sempre mencionava.

Um zumbido tomou conta da mente de Virgínia. Ela sentiu como se o cérebro tivesse ficado completamente vazio. O médico acabara de dizer que Aurora era a esposa de Marcus e que o bebê era deles.

A respiração de Virgínia ficou acelerada. Ela sentiu o peito apertar e, cambaleando, correu até o elevador, decidida a ir ao 15º andar para tirar tudo a limpo com Marcus.

Assim que as portas do elevador se fecharam, duas vozes familiares quebraram o silêncio.

Talvez porque Virgínia estivesse bem agasalhada, com um chapéu que cobria quase todo o rosto, ninguém a reconheceu. Os dois conversavam sem qualquer cuidado.

— Marcus, você não tem medo de a Virgínia descobrir o seu segredo? Por que você insistiu tanto para casar com ela? Se você tivesse se casado com a Aurora desde o início, agora não precisaria ver o seu filho às escondidas.

A voz era de Edgar Candeias.

A resposta de Marcus veio fria e direta:

— Ela nunca vai descobrir. Edgar, controle sua língua. Você sabe muito bem o que pode ou não dizer para a Virgínia.

— Eu juro que não entendo você. — Edgar riu com escárnio. — Aurora foi levada para a sua casa quando tinha cinco anos, para ser menina criada para sua família. Na infância, você fazia tudo por ela. Mas, quando vocês ficaram mais velhos, você foi fisgado pela Virgínia e mandou Aurora embora. Depois, você gastou todos os seus esforços para trazê-la de volta. Marcus, afinal, quem você realmente ama?

Marcus ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder. Quando ele falou, sua voz parecia carregada de um peso invisível:

— Eu amo a Virgínia, mas não consigo deixar Aurora de lado. Só de pensar nos anos que Aurora passou sozinha no exterior, meu coração fica um caos. Dei à Virgínia o nome de esposa, mas o filho será da Aurora. Pelo menos assim ela terá algo em que se apoiar.

Edgar suspirou profundamente e perguntou:

— E se você e a Virgínia tiverem um filho? Você acha que vai conseguir ser justo? Aurora é minha prima, Marcus.

O som do elevador indicando o andar interrompeu a conversa.

As portas se abriram, e a última frase de Marcus ecoou pelo ar:

— Isso não vai acontecer.

Edgar franziu o cenho, confuso. Ele não sabia se Marcus estava dizendo que não teria filhos com Virgínia ou que nunca trataria Aurora de forma injusta. Sem entender, Edgar saiu do elevador, seguindo Marcus.

Virgínia, no entanto, entendeu perfeitamente. Marcus estava dizendo que eles nunca teriam filhos.

Porque ele já havia dado a ela remédios que a tornaram infértil. Ele eliminara qualquer “ameaça” para proteger Aurora.

O elevador estava cheio de pessoas, mas o calor e o ar abafado contrastavam com o frio que percorria o corpo de Virgínia. Era como se ela tivesse sido mergulhada em um poço de gelo.

Só quando o elevador desceu novamente até o térreo foi que Virgínia conseguiu respirar, como alguém que emergiu da água depois de quase se afogar. Uma tosse violenta a sacudiu.

No bolso, o celular vibrou. A tela acendeu com uma mensagem de Marcus:

[Virgínia, nos vemos amanhã na corrida. Não esqueça de usar o escapulário que eu te dei.]

Olhando para a mensagem, Virgínia sentiu como se uma represa tivesse se rompido dentro dela. As lágrimas começaram a cair sem controle.

Marcus era um médico extremamente ocupado, mas, desde que se casaram, ele nunca havia faltado a uma corrida dela. Mesmo que ele tivesse que pegar um voo de madrugada, ele sempre estava na linha de chegada para recebê-la.

Naquele dia, ele reservava um restaurante com antecedência, comprava flores e a levava para comemorar sua vitória. Ano após ano, era sempre assim.

Virgínia se lembrou das brincadeiras dos amigos de Marcus, que diziam que ele havia “dado metade da vida” para conquistá-la.

Para trazê-la de volta ao Brasil, Marcus enfrentou clubes estrangeiros, quase arriscando tudo para contratá-la. Para mantê-la, ele investiu uma fortuna contratando uma equipe técnica de elite e até abriu um clube de corridas só para ela.

Depois do casamento, Marcus a mimava de todas as formas.

Certa vez, Virgínia murmurou em um sonho que sentia falta da mãe. Enquanto ela dormia, Marcus usou todas as suas conexões para encontrar uma relíquia que pertencia à mãe dela. Antes do amanhecer, ele já tinha resolvido tudo.

Mas esse mesmo Marcus, que parecia amá-la acima de tudo, tinha uma outra vida.

Virgínia finalmente entendeu.

Não era à toa que Aurora conhecia cada detalhe da família Mello melhor do que ela. Não era à toa que Aurora, mesmo depois de anos vivendo no exterior, sabia os apelidos de todos os amigos de Marcus. Não era à toa que uma suposta “irmã de consideração” conseguia fazer com que Marcus cancelasse as cirurgias agendadas durante seis meses só para acompanhá-la em corridas de carro.

Que “irmã de consideração” nada. Marcus e Aurora, na verdade, tinham sido prometidos desde pequenos. Aurora era a menina criada para ser esposa dele.

Até pouco tempo atrás, Virgínia ainda pensava que, se Aurora ousasse se intrometer em seu casamento, ela jamais permitiria. Agora, tudo fazia sentido. Na verdade, quem estava ocupando o lugar que não lhe pertencia era ela. Quem deveria sair de cena era Virgínia.

Um frio cortante subiu pelos pés de Virgínia, congelando cada canto de seu corpo e deixando seus membros entorpecidos.

Ela sempre acreditou que, quando alguém chegava ao limite, o desespero vinha acompanhado de gritos ou lágrimas histéricas. Mas, naquele momento, Virgínia percebeu que o verdadeiro colapso era silencioso.

Apenas as lágrimas, que não paravam de escorrer, e o peso insuportável no fundo do coração diziam a ela:

“Você está morrendo de dor.”

Era como se uma mão invisível apertasse seu coração, espremendo até a última gota de sangue que ainda restava.

O celular vibrou novamente. Virgínia olhou para a tela. Era uma mensagem de Aurora, acompanhada de uma foto de família: Marcus, Aurora e o bebê. Junto à imagem, vinha uma frase:

[Virgínia, pare de ocupar um lugar que não é seu. Achei que você teria um pouco de senso, mas pelo visto, sua cara de pau é maior do que imaginei. Marcus disse que nosso filho se parece com ele. O que você acha?]

Virgínia apenas deu uma olhada rápida e fechou a mensagem imediatamente.

Se Aurora queria Marcus e o amor dele, que ficasse com eles.

Mas Virgínia conhecia Marcus bem demais. Ele era o tipo de homem que, mesmo quando ele não queria mais algo, não desistia facilmente.

Os dedos de Virgínia pairaram sobre o teclado do celular por um longo tempo. Ela hesitou, mas, finalmente, digitou aquele número que quase havia esquecido.

No momento em que a ligação foi atendida, sua voz saiu trêmula:

— Flávio Amorim, aquela aposta de antigamente... ainda vale?
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