No quinto ano de casamento, Virgínia Prado reclamou que o suplemento de vitamina C que o marido havia comprado era amargo demais. Ela decidiu levar o frasco ao hospital. O médico, após examinar o conteúdo, ergueu os olhos e disse que aquilo não era vitamina C. — Doutor, pode repetir o que disse? — Perguntou Virgínia. — Repetir quantas vezes não vai mudar nada. — Respondeu o médico, apontando para o frasco. — Isto aqui é mifepristona. Se for ingerido em excesso, não só causa infertilidade, como também prejudica seriamente o corpo. Virgínia sentiu a garganta apertar, como se algo a estivesse sufocando. A mão dela que segurava o frasco ficou pálida de tanto que ela o apertava. — Isso é impossível. Foi o meu marido que preparou isso para mim. Ele se chama Marcus Mello. Ele também é médico aqui no hospital. O médico ergueu a cabeça e olhou para Virgínia com um olhar estranho, carregado de algo difícil de decifrar. Por fim, ele sorriu de forma enigmática e disse: — Senhora, é melhor você procurar o setor de psiquiatria. Todos aqui conhecem a esposa do Dr. Marcus. Há dois meses ela deu à luz. Não perca seu tempo, querida. Você não tem chance.
View MoreInês nunca imaginou que Marcus realmente ficaria a noite inteira parado na neve.No final da madrugada, a nevasca ficou ainda mais intensa. Inês olhava pela janela repetidas vezes, inquieta, e Virgínia, percebendo, acabou dando uma olhada também.Quando Marcus viu o rosto familiar de Virgínia surgir na janela, mesmo com os lábios rachados pelo frio e o corpo congelado, ele ainda conseguiu forçar um sorriso.— Srta. Virgínia, isso não pode acabar mal? E se ele morrer? — Perguntou Inês, preocupada.Virgínia, no entanto, puxou as cobertas, fechou os olhos e respondeu com indiferença:— Não vai morrer. E mesmo que aconteça, isso não tem nada a ver com a gente. Vá dormir.Inês ficou impressionada com a frieza de Virgínia, mas ao lembrar de tudo o que ela já havia sofrido, ela sentiu um misto de indignação e alívio. Como se quisesse descarregar sua raiva por tudo o que Marcus havia causado, ela puxou as cortinas com força, bloqueando a visão da janela.Naquela longa noite na neve, Marcus não
Marcus virou-se na direção de onde vinha a voz, a boca entreaberta de choque:— Flávio? O que você está fazendo aqui?Flávio passou o braço pelos ombros de Virgínia, e ao sentir que ela não resistia, apertou um pouco mais, reforçando o gesto:— Sou o noivo dela. Por que eu não estaria aqui?Aquelas palavras soaram como um trovão na cabeça de Marcus. Por um momento, ele não conseguiu ouvir mais nada. Seu cérebro parecia ter parado de funcionar, e ele murmurou, quase sem voz:— Noivo? Isso não é possível... Virgínia, como ele pode ser seu noivo?Os olhos de Marcus ficaram vermelhos, e seus lábios começaram a tremer.Virgínia, sem hesitar, tirou a mão de Flávio de seu ombro e entrelaçou os dedos com os dele, erguendo as mãos entrelaçadas diante de Marcus:— Por que não seria possível? Sou solteira, sem filhos. Ter um noivo é algo tão difícil de aceitar para você?Marcus abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu. Seu olhar estava cheio de descrença, como se o mundo tivesse desmoronado ao seu
Por mais que Marcus gritasse desesperado atrás do carro, o veículo não demonstrou sinal algum de parar. Pelo contrário, o carro acelerou ainda mais, até se tornar apenas um ponto preto no horizonte.Quando a silhueta de Marcus desapareceu completamente no retrovisor, Flávio finalmente começou a diminuir a velocidade.Virgínia lançou um olhar desconfiado na direção dele:— Por que você está dirigindo tão rápido hoje? Aconteceu alguma coisa?Flávio ignorou a pergunta e, do nada, perguntou:— E se o Marcus viesse até você, chorando, pedindo perdão e implorando para reatar? Você aceitaria?As sobrancelhas de Virgínia se juntaram imediatamente, como se tivesse acabado de ouvir algo repulsivo. Ainda assim, ela respondeu com seriedade:— Não. Eu não aceitaria. Prefiro morrer a aceitar.Só de lembrar das coisas que Marcus havia feito, Virgínia sentia um calafrio percorrer seu corpo. Às vezes, ela acordava no meio da noite, atormentada por pesadelos. Em muitos deles, ela desejava que tivesse re
Marcus não sabia que, antes mesmo de chegar ao centro de treinamento, ele já havia se tornado o centro das atenções.Na mente dele, havia apenas um único pensamento:“Concluir o sonho de Virgínia. Correr por todas as pistas do mundo, conquistar todos os campeonatos. Talvez assim, quando eu morrer e encontrá-la, sinta menos culpa.”Antes de chegar ao local, Marcus já tinha ouvido falar de uma lendária treinadora feminina que, nos últimos dois anos, havia formado diversas campeãs em competições internacionais. Apesar de saber que ela só aceitava alunas mulheres, ele decidiu tentar a sorte e ver se conseguiria ser treinado por ela.Assim que entrou na sala de descanso do centro de treinamento, Marcus abordou o primeiro funcionário que viu:— Com licença, poderia me dizer onde está a treinadora da equipe Zero?O funcionário apontou para um lugar próximo:— Ela estava sentada ali agora há pouco. Mas as alunas dela ainda estão lá, pode perguntar para elas.Marcus agradeceu e caminhou rapidam
Flávio sempre achou que Virgínia tinha, pelo menos com ele, uma atitude diferente.Diante dos outros, ela era a aluna exemplar, sempre calma, centrada e impecável. Mas, com ele, ela perdia a paciência, ficava vermelha de raiva e até mesmo sem palavras.Para Flávio, aquilo só podia ser uma prova de amor. Foi por isso que, no dia em que terminaram os exames para a faculdade, ele juntou toda a coragem que tinha e se declarou. Mas Virgínia apenas o olhou, com os olhos cheios de confusão.— Por quê? Você não gosta de mim? — Flávio perguntou, com urgência na voz, que tremia de nervoso.Aos 17 anos, Virgínia franziu o cenho, como se estivesse diante de uma criatura estranha:— Não gosto. Nem de você, dessas flores e nem dos seus amigos bagunceiros. Não gosto de nada disso.Foi a primeira vez que Flávio ouviu um “não” depois de se declarar. Mas ele não queria aceitar:— O que você não gosta em mim? É porque eu entreguei seus modelos de carro para a professor? Ou porque sou feio?Virgínia se vi
Três anos depois, na Itália.Na área de descanso do lado de fora do centro de treinamento de rali, alguns pilotos italianos conversavam animadamente enquanto olhavam na direção da pista.— Vocês ouviram falar? Desta vez tem um azarão vindo do Brasil. Dizem que ele só está no automobilismo há três anos, mas já ganhou todos os campeonatos nacionais. É a primeira vez que ele compete fora do país, e muita gente está apostando na vitória dele. Eu, sinceramente, acho que ele não é tudo isso.— Brasileiro? Melhor não subestimar.Outro piloto, mais alto, estalou a língua antes de comentar:— Você já esqueceu daquela treinadora brasileira? Em apenas três anos, ela formou cinco campeãs mulheres na F1! E durante esse tempo, ela fez a gente, homens, passar vergonha, um atrás da outro.Inês Pimentel, que estava ali perto, ouviu algumas partes da conversa, balançou a cabeça com um sorriso e voltou para o canto de sua equipe.Ela carregava uma garrafa de água mineral que acabara de tirar do refrigera
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