O Esquecimento Irreversível

De madrugada, Benício finalmente voltou para casa.Eu não acendi as luzes e fiquei sentada no sofá, encarando-o fixamente.Ele acendeu a luz, surpreendendo-se ao me ver ali esperando, depois caminhou lentamente até mim.— Você já sabe. — Engoliu em seco, um pouco nervoso.Assenti com a cabeça.Após cinco anos vivendo juntos, conhecíamos um ao outro demais.A súbita promessa, a roupa desleixada, tudo indicava que ele estava nervoso e com a consciência pesada.E, aos olhos de Benício, eu sempre fora despreocupada. Sentada ali, em silêncio, na escuridão da noite, definitivamente não era meu estilo.Ambos sabíamos que aquilo era estranho.Ele sentou-se ao meu lado, tirou um tubo de ensaio com um líquido e colocou diante de mim.— Ela está muito sofrida. Vi ela deitada na cama do hospital, cheia de tubos. — Benício falou de modo direto: — Prometi ao pai dela que cuidaria dela.Senti meu coração mergulhar em gelo, mãos e pés entorpecidos:— Então, você vai passar o último mês da vida dela ao

Quando ela voltou, eu já havia pedido um monte de salgadinhos e estava vendo séries:— Wilma, quer? Salgadinho sabor queijo.Wilma afastou minha mão, exclamando:— Você é um porco? Ainda come? Benício te traiu!Continuei comendo.— Aquela mulher do telefone é a ex dele! Também é a noiva do casamento! Disseram que ela tem câncer.Continuei comendo.Ofereci uma batata:— Que babado! E depois?Wilma mordeu a batata, mastigou e só então percebeu:— Seu noivo te traiu! Não está preocupada?— Uau, que dramático. — Continuei comendo: — Câncer, ex-namorada, troca de noiva, parece novela coreana. Mas não o conheço, que diferença faz com quem ele casa?Wilma relatava as novidades: Benício e Nádia estavam em lua de mel na Europa, todos achavam-no um homem maravilhoso.Wilma estava indignada:— Vai deixá-lo impune?— Claro. Não o conheço, não me afeta. Por que ficaria brava com um estranho?Wilma ficou sem palavras.Continuou investigando.Comprou os vídeos de vigilância do casamento, onde Benício

Assim que ele saiu, relaxei, morrendo de medo, um doido!Wilma, de braços cruzados, comentou:— Namorar alguém assim é ter antecedentes criminais.— Vamos para casa. — Apressei Wilma, ela hesitou, expliquei: — Quero tomar banho, estou impregnada do cheiro dele.Depois do banho, já mais calma, analisei com Wilma:— Benício era meu noivo, mas se casou com outra. Não é um bom homem. Ainda bem que esqueci tudo.Wilma ficou surpresa:— Só lamento por você. Foram cinco anos.Respondi calma:— Esquecer más lembranças também é um alívio.Wilma assentiu e batemos palmas, em acordo.— Vamos comer churrasco!Depois, fizemos compras e caminhamos de mãos dadas.Quase chegando ao prédio, Wilma olhou para trás várias vezes. Perguntei, ela disse que sentia que alguém nos seguia, mas não via ninguém.Acelerei o passo, e ao chegar, Benício nos interceptou.Ele suspirou aliviado:— Tânia, finalmente te encontrei. Não estava em casa, não atendeu ao telefone, quase enlouqueci.— Lembrou de mim? Sou Benício

Dois dias depois, na saída do trabalho, um Mercedes G preto parou em frente ao portão da escola. Benício, vestindo um terno preto impecável, encostou suas longas pernas na porta do carro, exalando uma aura imponente e atraindo olhares de todos ao redor. No porta-malas, uma quantidade enorme de copos-de-leite estava exposta, chamando ainda mais atenção.Meu coração tremeu por um instante. Não posso negar, Benício era realmente bonito. Apenas considerando sua aparência, era um homem de beleza rara.Que pena que, para mim, tudo o que ele fazia era absolutamente repugnante.— Tânia. — Ele se aproximou segurando um grande buquê de copos-de-leite. — Lembra? No nosso primeiro encontro, vimos um campo de copos-de-leite. Você disse que gostava dessa flor.Seu sorriso era radiante, e por um breve momento, vi em seus traços uma familiaridade estranha, como se anos atrás também tivesse existido um jovem sorrindo para mim com um grande buquê de copos-de-leite, sem reservas.Fiquei confusa por um

Benício finalmente desapareceu. Depois daquele episódio, nunca mais apareceu.Eu também preparei minhas malas para ir lecionar na Cidade do Mar.Wilma me ajudava a arrumar as coisas quando lembrou: — Ah, sabia que Nádia fingiu estar doente? Ela nunca teve câncer.Nádia falsificou exames e laudos médicos para obrigar Benício a se casar com ela. Agora o esquema foi descoberto e ela acabou envolvida.— Sério? Que bom.Desde que não me incomodem, está ótimo.Não esperava encontrar Benício no aeroporto. Ele me parou, ofegante, dizendo que queria conversar.Apesar da respiração acelerada, estava arrumado, de terno, sem vestígios daquela aparência decadente.Parecia ter retomado sua vida.Wilma, com certo sarcasmo: — De novo? Sua esposa não veio?Mas no fundo de seus olhos havia apenas cansaço, e seu olhar demonstrava uma leve oscilação, logo substituída por morte interior.— Nádia não estava doente. — Ele disse cabisbaixo.Assenti, eu já sabia disso.— Naquela noite de chuva, comecei a desco