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Capítulo 3

Author: Antônia
Depois que fui embora, passei uma noite num hotel.

No dia seguinte, com a ajuda de uma corretora, aluguei um pequeno apartamento.

Achei que nunca mais cruzaria o caminho de Leonardo.

Mas... Eu estava enganada.

Descobri que estava grávida.

Logo cedo, depois de comer um pouco, comecei a vomitar sem parar. Aquilo me assustou. Fui ao hospital para fazer exames.

E, como se o destino estivesse debochando de mim, acabei esbarrando com Leonardo... E com vários dos seus irmãos.

Pensei em sair discretamente, mas meus pés vacilaram. Parei no corredor.

Eles me cercaram com olhares carregados de desprezo.

— Você, uma caipira do interior, achou mesmo que ia entrar na família Silva? — Disse um deles, rindo.

— Até hoje a gente se pergunta o que você colocou na cabeça do Léo. O cara ficou doido por você, a ponto de romper com a família! Ainda bem que agora ele acordou! — Acrescentou outro.

— E olha o que ela tá segurando... É um ultrassom?

Desde que Leonardo se desentendeu com os Silva por minha causa, nenhum deles me suportava. Nunca disfarçaram.

Em segundos, alguém arrancou os exames das minhas mãos. Começou a debochar na frente de todo mundo.

— Sabrina, que papelão, hein?... O Léo já te largou e agora você vem com esse ultrassom fajuto? Pagou quanto pro médico falsificar? Quer segurar ele com criança agora, é?

— Deixa eu te avisar logo: enquanto a gente existir, você não entra nessa família. O Léo tá com a princesinha da família Dias agora. Aceita que dói menos!

Empurrei um deles, peguei de volta o exame da mão do Lucas com firmeza.

Nesse instante, Leonardo apareceu. Tinha acabado de sair de uma sala de atendimento. Quando me viu, ficou surpreso por um segundo. Mas logo sorriu com ironia.

— Teve que me seguir até o hospital, é isso? Uau, que amor profundo! Quer saber? Estou de bom humor hoje. Vou te dar uma chance: me conquista. Quem sabe eu topo ser seu namorado... Por pena. — Disse ele, com um sorrisinho cruel.

Fiquei calada. Sem me mover. Só olhava.

Então Lucas cochichou algo no ouvido dele.

Leonardo olhou para o resultado do ultrassom na minha mão, fingindo espanto.

— Não acredito que você teve a cara de pau de pagar por um exame falso de gravidez. Sério? Quer ser mãe só pra subir na vida? Espera sentada. Eu, pai? Nem pensar. Mas ó... Pode começar como namorada.

Fechei os olhos. E ri.

Não sei nem por que ainda esperava algo.

— Não precisa se dar ao trabalho. Eu nunca quis subir na vida com gravidez, nem quero ser sua namorada. — Respondi com frieza.

Cinco anos atrás, foi o Leonardo quem veio atrás de mim.

Eu sabia que ele vinha de uma família rica. E por isso, nesses cinco anos, cada presente que ele me deu, eu retribuí com algo equivalente. Fiz questão.

Nunca quis dever nada. Nunca aceitei vantagem.

Porque eu o amava.

E não queria que o sentimento entre nós se corrompesse com interesses. Só queria que durasse — limpo, verdadeiro, equilibrado.

Pelo menos... Até o dia em que ele decidiu encenar esse teatro de amnésia.

Eu entendi.

Na cabeça dele, eu nunca passei de uma oportunista.

Uma caipira qualquer tentando subir na vida.

É por isso que houve essa farsa de perder a minha memória.

Na mente do Leonardo... Amar alguém como eu era uma vergonha.

Olhei para ele com calma, mas o suficiente para que se sentisse nu.

Ele desviou o olhar. Havia um traço de desconforto nos seus olhos. Um leve pânico que tentou disfarçar.

— Tá bom, tá bom... Eu entendi que você me ama de verdade. Por isso... Olha só, eu aceito ser seu namorado, tá? Mas aviso logo: casamento só depois que eu recuperar a memória. — Disse ele, tentando soar generoso.

Talvez, na cabeça dele, eu ainda fosse aquela menina fácil de agradar.

Mas era porque eu o amava — e qualquer gesto dele já bastava pra me fazer feliz.

Só que agora… não era mais assim.

Desta vez, eu apenas recusei. Com toda a educação do mundo.

— Obrigada, mas não. Você já tem namorada. Não quero atrapalhar. — Falei, com voz firme.

Dei meia-volta, firme.

Sentia o olhar dele grudado nas minhas costas.

A voz quase presa na garganta:

— Sabrina...

Mas, antes que ele pudesse falar tudo, Lucas puxou sua camisa pelas costas.

— Bora, Léo. A Tati tá te esperando em casa.
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