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Capítulo 2

Author: Antônia
Depois de sair do hospital naquele dia, passei vários dias sem qualquer contato com Leonardo.

Mas, pelas redes sociais, ele parecia estar por toda parte.

Fotos e vídeos mostrando ele com os amigos, sempre em bares, baladas e karaokês madrugada adentro. As mulheres ao seu redor? Cada uma mais jovem, bonita e cheia de vida do que a outra.

Pensei: “É isso que ele quer da vida.”

Comecei a arrumar minhas coisas em casa e estava prestes a sair quando o vi aparecer na porta com uma menininha nos braços.

Leonardo congelou por um segundo. Instintivamente tirou o braço dos ombros dela.

Mas logo se lembrou do papel de amnésico que estava encenando e, com arrogância, voltou a segurar a cintura da menina como se nada fosse.

— Se não me engano, essa é a minha casa, né? E sem minha permissão, Srta. Sabrina, o que você está fazendo aqui? Invadindo propriedade alheia? — Disse ele, com ironia.

Apertei com mais força a alça da mala.

A casa realmente era dele.

Era a mesma que, juntos, escolhemos e decoramos como nosso futuro lar de casados.

E agora ele queria... Fazer aquelas coisas nojentas com outra aqui dentro?

Contive as palavras. Mas, antes que eu pudesse responder, Leonardo continuou:

— Mas, tudo bem. Como você disse que era minha noiva e tal... Vou deixar passar dessa vez. Mas olha, não entra de novo sem pedir, viu?

Olhei para ele, sem rancor, só com uma calma gelada que vinha de quem desistiu de lutar.

— Tudo bem. Não vai acontecer de novo. Obrigada.

Nunca mais mesmo.

A partir dali, cortei qualquer laço que ainda restava.

Estava prestes a sair quando a menina ao lado dele comentou, com um sorriso venenoso:

— Léo, vai saber o que ela tá carregando nessa mala... Vai que é coisa sua. Melhor dar uma olhada, né?

O homem que um segundo atrás dizia para eu ir embora, de repente mudou de ideia.

Virou-se e agarrou minha mala.

— Verdade! Quase deixei passar. Ainda bem que minha fofinha me lembrou. Vai que essa pobrezinha aqui tá levando meus pertences escondidos? — Disse, rindo.

Ele puxou a mala com força, tentando jogá-la no chão para abrir.

Aquilo era meu último resquício de dignidade. Não ia deixar ele tocar.

— Isso é meu! Coisas pessoais! Você não tem o direito de mexer na minha mala! — Gritei, tentando resistir.

Leonardo perdeu a paciência na hora.

— Você tá saindo da minha casa. Vai saber se não meteu a mão em algo que não é seu! — Respondeu ele, exaltado.

Naquele instante, um arrepio gelado percorreu meu corpo inteiro.

Era isso.

Ali na minha frente... Não estava mais o homem que um dia eu amei.

Então era assim que ele me via: uma mulher desprezível, sem valor algum.

Leonardo arrancou a mala das minhas mãos. Mesmo lutando com todas as forças, como poderia eu, sozinha, vencê-lo?

As roupas se espalharam pelo chão.

Toda minha resistência... Desmoronou naquele instante.

— Tá vendo? Nada seu aí dentro. — Disse eu, com arrogância.

Tatiane Dias, ainda de braços dados com ele, soltou uma risadinha venenosa, cobrindo a boca com as mãos:

— Eca, olha essas roupas... Velhas, feias. Que cafona!

Leonardo riu também, como se fosse divertido me humilhar.

— Claro, né? Ela veio do interior, uma roceira sem noção nenhuma de estilo. Nada como você, minha docinha, que entende de moda!

As palavras deles me atingiam como socos, uma após a outra, me reduzindo a pó.

A mala jogada no chão, as roupas espalhadas... Pareciam simbolizar o fim de todas as minhas esperanças.

— Já que não tem nada seu aqui, deixa que eu resolvo. — Murmurei.

Com calma, peguei as peças mais velhas e gastas, e joguei o resto no lixo, tudo.

Leonardo arregalou os olhos, agora visivelmente nervoso.

Essas roupas todas foram ele que me deu.

Inclusive, entre elas... Estava um vestido de noiva branco como a neve.

Era o vestido que eu mesma escolhi, com toda calma e esperança, para o dia do nosso casamento.

— Você vai jogar tudo fora? Mas... Tem o vestido de noiva aí!

Olhei para ele com frieza.

Sem dor. Sem amor. Apenas o fim.

Segurei o isqueiro que levava comigo. Joguei no lixo.

Em segundos, o fogo tomou conta.

Chamas dançavam, consumindo tudo o que um dia significou nós dois.

— Não precisa mais. Não vai servir pra nada. — Disse, sem hesitar.

Fiquei ali, observando as labaredas consumirem meu passado. Só me virei quando o fogo começou a apagar.

Sob a luz fraca do poste da rua, o rosto de Leonardo era difícil de decifrar.

Quando eu já estava a poucos passos de sumir no fim da rua, senti sua mão agarrando meu pulso.

— Mesmo que eu tenha perdido a memória... Você não devia jogar tudo no lixo. Vai que um dia eu me lembro? — Disse ele, num tom que misturava provocação e dúvida.

Soltei uma risada seca. Sem humor, sem dor.

Não disse nada.

Apenas puxei meu braço de volta com força e continuei andando.

"Naquele momento, fiquei até um pouco feliz por ele ter usado o truque da amnésia antes do casamento.

Caso contrário, não consigo imaginar o quão desesperada eu ficaria se ele usasse o truque da amnésia depois do casamento!"
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