Capítulo 3

Ele largou os talheres diante de todos e saiu às pressas, deixando para trás uma mesa cheia de convidados constrangidos — e meus pais.

Também não esquecerei: quando eu, tomada por dores abdominais lancinantes devido às sequelas do aborto, apertei a campainha para chamar uma enfermeira, ele, em outro quarto, embalava a criança com extremo cuidado, cantarolando uma canção de ninar desafinada para fazê-la dormir.

Em seus olhos havia uma ternura que eu jamais vira antes.

Deu até um nome ao bebê: Rafael Moreira.

Era o nome que eu havia escolhido para o meu próprio filho, símbolo da minha esperança e do meu amor sem limites.

Ele deu esse nome ao filho ilegítimo.

Enquanto isso, o meu desapareceu deste mundo sem deixar nenhuma lápide — sumiu em silêncio, como se nunca tivesse existido.

No dia da minha alta, a Família Moreira organizou, sem me avisar, um pequeno jantar de boas-vindas na antiga mansão.

Todos se reuniram em torno do bebê, olhando-o com alegria desmedida.

Felipe permaneceu ao lado de Isabela e da criança o tempo todo — oferecia água, ajeitava cobertores, e seus olhos transbordavam de doçura.

De vez em quando, lançava-me um olhar, carregado apenas de um aviso: que eu me integrasse logo naquela falsa harmonia.

Meu coração já estava entorpecido.

Mas, ao presenciar aquela cena, ainda assim doeu.

Virei-me para voltar ao quarto e arrumar minhas malas.

Isabela, com o bebê nos braços, bloqueou minha passagem.

Seu rosto já não mostrava a fragilidade habitual, mas o sarcasmo vitorioso de quem triunfou.

— Eu sei que você me odeia. Odeia este bebê também... Mas sabe de uma coisa?

— Rafael não foi concebido por inseminação artificial feita pelo Felipe.

Meus pés pararam de repente. O sangue gelou nas minhas veias.

Ela se aproximou, baixando a voz:

— Naquela noite chuvosa, nós dois estávamos bêbados...

— Você sabe, certas coisas simplesmente acontecem... Foi corpo a corpo!

— Não houve inseminação nenhuma. Foi só uma mentira que o Felipe inventou para segurar você, para fazê-la aceitar esse "acidente". Ele tinha medo de escândalo, medo de manchar a reputação da Família Moreira!

Então era isso.

Toda a história de gratidão,

toda a farsa de alta tecnologia...

tudo não passava de mentira!

Um nojo avassalador e uma fúria humilhante me engoliram inteira.

Eu tremia de raiva.

De repente, Isabela agarrou minha mão e a bateu com força contra o próprio rosto.

— Pá! — O som seco ecoou.

Abraçando o bebê, ela caiu de joelhos diante de mim com um baque.

Logo em seguida, começou a gritar em prantos:

— Me desculpa! A culpa é toda minha! Eu imploro! Por favor, poupe a mim e ao bebê!

— Se quiser bater, xingar, faça comigo! A criança é inocente! É o único filho que eu tenho... Se algo acontecer com ele, eu também não vou sobreviver...

Eu observava sua atuação grotesca, ainda sem reação, quando a voz furiosa de Felipe explodiu:

— Mariana! O que você está fazendo?!

Ele puxou Isabela para protegê-la atrás de si, encarando-me com choque, decepção e uma raiva quase incrédula.

Olhei para ele, firme:

— Eu não... foi ela...

— PÁ!

Um tapa, dado com toda a força, calou minhas palavras.

O impacto ardia na minha bochecha.

O mundo ficou em silêncio absoluto.

Olhei para o homem que dizia me amar, agora com o rosto contorcido pelo ódio.

De repente, senti apenas cansaço.

Não havia tristeza.

Apenas um ódio profundo e uma decisão gelada.

— Felipe. — Minha voz soou assustadoramente calma. — Vamos nos divorciar.

Felipe rugiu, tomado pela fúria:

— Está me ameaçando com divórcio de novo?! Você acha mesmo que eu não consigo viver sem você?!