Capítulo 2

Ri de mim mesma, com amargura.

— Felipe, eu disse que quero o divórcio. Você entendeu?

Felipe soltou uma risada de escárnio:

— Mariana, você está comigo há cinco anos. Agora perdeu o bebê, e nem se sabe se ainda poderá ter outro. Se me deixar, quem vai querer uma mulher estéril e acabada como você?

— Vou te lembrar mais uma vez: você continua sendo a Sra. Moreira. Agora já existe uma criança, você não precisa mais sofrer com gravidez. Isso não é bom?

— Esvazie sua cabeça. Pense bem antes de voltar a falar comigo.

A ligação foi brutalmente encerrada.

Baixei o telefone.

Duas enfermeiras trocaram olhares diante de mim.

— Você é a esposa do Sr. Moreira?

Respondi friamente:

— Não por muito tempo.

A jovem enfermeira explodiu de indignação:

— Que nojento! Eu pensava que ele fosse tão dedicado, e na verdade está acompanhando a amante no parto, enquanto a própria esposa sangra com um aborto e fica internada por meio mês. E no mesmo hospital! Ele nem sequer veio ver você uma única vez!

Mantive o olhar baixo, sem dizer nada.

À tarde, mandei um serviço de entrega entregar o acordo de divórcio ao Felipe.

Liguei para cobrar a assinatura, e ele parecia enlouquecido de raiva, rosnando que assinaria.

Mas passava os dias no quarto de Isabela Duarte, cuidando da mãe e do filho, e o divórcio nunca avançava.

Logo os pais da Família Moreira souberam e correram para o hospital.

Dona Moreira, com o rosto transtornado, me acusou:

— Mariana, meu filho só doou esperma para a Isabela por gratidão! Ele não cometeu nenhum erro de princípio. Como você pode ser tão mesquinha e imatura?

— Essa criança carrega o sangue do Felipe, é a linhagem Moreira! Como esposa dele, você deve ser generosa, entendeu?

O pai dele também se voltou para mim:

— Felipe era jovem, foi um deslize doar naquela época. Agora já está feito, e a criança é inocente. Não faça escândalo à toa, só vai virar motivo de chacota.

Olhei para eles, incrédula, e minha voz saiu rouca:

— Então vocês sabiam desde o início que o Felipe tinha doado esperma e até tinha se casado no exterior? Só eu fiquei no escuro, não foi?

Dona Moreira empalideceu com a pergunta, mas respondeu firme:

— Ele fez isso apenas por gratidão. Mais uma criança não vai afetar o sentimento entre vocês, nem o casamento!

— Se você achar que saiu perdendo, a Família Moreira pode compensá-la com mais joias e imóveis.

Achei tudo aquilo ridículo.

Absurdo.

Eles também me acharam ridícula, a ponto de chamarem meus pais para me convencer.

Minha mãe segurou minha mão com lágrimas escorrendo:

— Mariana, a vida de uma mulher divorciada é tão difícil... Ainda mais agora que você perdeu o bebê. Ai...

— O Felipe já nos pediu desculpas. Disse que essa criança foi apenas um bebê de proveta, que você é a pessoa que ele mais preza.

— Por que não aguenta um pouco? Feche os olhos para isso. Ser a Sra. Moreira, rica e despreocupada, não é tão ruim assim...

Diante do olhar impotente da minha mãe, senti-me como se estivesse amarrada por inúmeras cordas, sufocada, sem ar.

Eles se colocavam no pedestal da moralidade.

Diziam que Felipe era desculpável, que apenas pagava uma dívida de vida, e que eu deveria ser tolerante, magnânima, pensar na criança que já nascera.

Ninguém pensava em mim — a mulher que acabara de perder seu filho, traída pelo próprio marido.

Como se a minha dor e a minha resistência fossem a verdadeira culpada pela ruína desta família.

E o homem que me feriu?

Ele representava com perfeição o papel de um benfeitor agradecido e de um marido tentando reconquistar a esposa.

Mas eu nunca esquecerei: durante um jantar em família, Felipe recebeu uma mensagem de Isabela no WhatsApp — "O bebê parece um pouco desconfortável, chutando minha barriga... está doendo muito"...