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Capítulo 2

Author: Beatriz Falcão
Assim que Jone saiu, fui direto para o Hospital Geral.

Eu me lembrava que, embora houvesse uma crise na empresa e meu pai tivesse sido hospitalizado por causa disso, em nenhum momento os médicos me disseram que ele corria risco de vida.

Eles apenas disseram que ele precisava descansar.

Há três anos, eu era jovem demais. Diante do acidente repentino, eu só conseguia me desesperar.

Mas, pensando bem agora, tudo aconteceu muito rápido.

Procurei o Doutor Bruno, o médico que cuidou do meu pai na época.

— Doutor Bruno, qual foi a causa da morte do meu pai?

O Doutor Bruno ficou surpreso ao me ver e ainda mais confuso com a minha pergunta. — Você não sabe?

Eu balancei a cabeça, atordoada.

— Seu pai cometeu suicídio, ninguém te contou?

As palavras do Doutor Bruno me atingiram como um raio, me deixando paralisada.

Eu abri a boca, mas não consegui dizer nada.

O médico suspirou e me deu um tapinha no ombro. — Ainda não superou? Você tem que ser forte.

Eu forcei um sorriso amargo e me despedi do Doutor Bruno.

No caminho de volta para casa, saindo do hospital, eu estava cambaleando. Trombei em várias pessoas na rua.

Foi Jone quem me avisou sobre a morte do meu pai.

Naquela época, eu estava no hospital, cuidando dele. Tinha emagrecido muito.

Jone, preocupado, se ofereceu para cuidar do meu pai. Depois, me disse para ir para casa e descansar um dia.

Foi naquele dia que recebi a notícia devastadora.

Jone me abraçou enquanto eu chorava incontrolavelmente e me disse para não me aproximar do corpo do meu pai. Ele prometeu que ficaria comigo, para eu não ter medo.

Então, ele me abraçou porque não queria que eu descobrisse a causa da morte do meu pai: suicídio.

Pensando nisso, não pude evitar dar um tapa forte no meu próprio rosto.

Que tipo de monstro eu fui amar?!

No auge do meu arrependimento, ouvi uma voz que não ouvia há muito tempo.

— Sofia, quanto tempo.

Paula estava tranquilamente parada no meu jardim, sentada no balanço e sorrindo para mim.

— Como você entrou?

Eu nunca gostei dela, e muito menos depois que Luis me trocou por ela.

Eu não conseguia sorrir para Paula.

Paula veio até mim, sorrindo: — Digitei a senha, claro. A senha do Jone é sempre a mesma, sem criatividade: 0717, o meu aniversário!

Ao ouvir isso, meu coração afundou imediatamente.

Todas as senhas de Jone eram 0717.

Eu perguntei o motivo, e ele disse que era o dia em que ganhou seu primeiro grande dinheiro.

O mais ridículo é que eu até comemorei o sucesso dele no dia 17 de julho.

— Você gosta deste balanço? Eu mencionei para Jone em uma conversa que eu adoraria ter um balanço no jardim de casa, que seria divertido. Não achei que ele se lembraria.

Paula disse, entrando na casa, agindo como se fosse dona.

— Nossa, essa pintura foi Jone que trouxe de Milão?

Ela apontou animadamente para a pintura perto da escada no segundo andar, e antes que eu pudesse responder, ela continuou: — Não acredito que ele realmente comprou essa pintura! Que pena que Luis não me deixa guardar, senão eu jamais teria cedido ao Jone.

Dizendo isso, ela piscou para mim.

Eu a segui passo a passo, me torturando ao ouvir aquelas palavras, e permaneci em silêncio.

O tapete da casa foi um presente de Paula, a pintura era a favorita dela, a decoração foi ela quem escolheu.

Tudo nesta casa foi decorado por Jone para agradar a Paula.

E eu, a tonta, realmente acreditei que Jone tinha escolhido o apartamento especialmente para mim.

Agora, nós duas estávamos aqui, mas eu me sentia a estranha.

Comparada com Paula, eu era muito mais desconhecida nesta casa.

— Ei, essa é a foto do casamento de vocês? Seu vestido de noiva é igual ao que eu usei na minha sessão de fotos!

— Pelo visto, você é mesmo a minha sósia, né?

Paula disse isso e deu um sorriso de escárnio, revelando toda sua maldade.

Ao ouvir Paula, estendi a mão para pegar a foto de casamento de suas mãos. — Me devolve!

— Quem você pensa que é para gritar comigo?!

Paula levantou a mão para me estapear, mas quando ouviu o barulho de carro vindo lá de baixo, ela se virou e se jogou para trás.

— Aaaah—

Era Jone voltando.

Bastou eu olhar para a direção da porta para Paula gritar e rolar escada abaixo.

Ela rolou descontroladamente do segundo andar para o primeiro, gritando de dor e chorando.

Jone correu para dentro de casa, ajoelhou-se e a abraçou.

— O que você fez?!

Jone gritou, com o rosto pálido de raiva: — Se alguma coisa acontecer com Paula, você vai se arrepender. Você vai pagar por ela!

Ele me lançou um olhar fulminante, pegou Paula nos braços e correu para fora.

— Meu bebê, meu bebê...

Ao ouvir a voz fraca de Paula, só então notei o sangue escorrendo pelo chão.

Jone entrou em pânico na hora: — Paula, vou te levar para o hospital agora!

— Não culpe a Sofia, ela não fez de propósito...

Ela disse isso e desmaiou.

Jone nem me deu um olhar, saiu apressadamente.

Depois que eles se foram, fiquei sozinha, olhando para o sangue no chão, e comecei a refletir.

Será que isso é o troco?
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