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Capítulo 3

Author: Beatriz Falcão
Peguei um táxi e segui o carro de Jone, mesmo sabendo que ele não queria me ver.

Era difícil acreditar que Paula estava mesmo grávida. Segui-o porque queria deixar claro que eu não tinha nada a ver com o que aconteceu.

Mas, assim que Jone levou Paula para a sala de cirurgia, ele se virou para mim com um olhar glacial: — Sofia, eu nunca imaginei que você pudesse ser tão nojenta e má. Paula só queria te parabenizar pelo casamento. Por que toda essa maldade?!

Ao ouvir o rugido contido de raiva dele, perdi a vontade de me explicar.

— Se o bebê de Paula morrer, eu darei a ela o dote que preparei para você, como compensação.

Fiquei chocada ao ouvir aquilo. Olhei fixamente para Jone.

Jone tinha me prometido que nosso casamento seguiria todos os rituais. Disse também que eu teria tudo o que as outras mulheres tinham — e até mais.

Ele tinha chegado a propor transferir metade das ações da empresa dele para o meu nome como dote.

Mas agora, com o que ele disse, não importa se o bebê de Paula sobrevivesse ou não, ele não me daria mais nada.

Na cabeça dele, eu já era a mulher má e desprezível.

Eu ri sarcasticamente, mas me mantive em silêncio.

Ao ver que eu não falava nada, Jone franziu o cenho e me dispensou, impaciente: — Volte para casa. Vou ficar com Paula esta noite. O carro da noiva passará para te buscar amanhã.

Ele disse isso e parou de me olhar, fixando os olhos, apaixonado, na porta da sala de cirurgia.

Olhando para a expressão distante e dedicada dele, me virei e fui embora.

Eu queria ter dito ao Jone a verdade. Não fui eu quem machucou o bebê de Paula.

Além disso, o bebê dela era de origem duvidosa.

Antes da falência da minha família, quando o noivado com a família Ribeiro estava de pé, as duas famílias faziam exames médicos regularmente.

Eu tinha visto, sem querer, que Luis era estéril.

O golpe de Paula foi genial, matando dois coelhos com uma cajadada só, e Jone acreditou nela, não em mim.

Pensando nisso, comecei a fazer as malas para ir embora.

Eu planejava ir embora no dia do casamento, apenas para dar um troco no novo figurão de Salvador e fazê-lo virar motivo de piada.

Mas agora, senti que se eu não fosse embora imediatamente, a pessoa ridicularizada por toda Salvador amanhã seria eu.

Quando terminei de arrumar tudo, já eram oito da noite, e Jone realmente não tinha voltado para casa.

Era até engraçado: na véspera do casamento, meu noivo estava no hospital com outra mulher, e eu estava sozinha na cama vazia.

Comprei a passagem, fechei a porta e fui embora sem arrependimentos.

Meu voo era para as três da manhã, e fiquei sentada no aeroporto esperando.

Durante esse tempo, meu celular não recebeu nenhuma mensagem ou ligação de Jone.

Em compensação, Paula me enviou algumas mensagens. Nas fotos, Jone estava quase dormindo, mas ainda cuidando da intravenosa dela.

"Que sacrifício do Jone. Sofia, você vai ser muito feliz por se casar com um homem tão atencioso!"

Em seguida, ela me mandou um vídeo escuro, mas o diálogo me gelou até a alma.

— Jone, não precisa se preocupar comigo, vá para casa. Você é o noivo amanhã, precisa estar descansado.

Jone, no vídeo, estava ocupado com algo, com um som de farfalhar: — Relaxa, se você não quer que Luis venha, eu fico com você. Não vou te deixar sozinha aqui. O casamento a gente resolve depois. Com certeza eu vou atrasar um pouco amanhã, é bom para Sofia aprender a lição!

— Pronto, lavei. Vou pendurar para você.

O vídeo terminou aí.

Paula rapidamente me enviou outra mensagem: "Foi Jone quem lavou minha lingerie suja de sangue. Sofia, não se incomode. Eu tive um aborto e não posso pegar água fria. Você me entende, né?"

Não me dei ao trabalho de desmascarar a falsidade dela e não respondi.

Felizmente, a hora do embarque chegou. Tirei o chip do celular, joguei no lixo e subi no avião.

Olhando para as nuvens às três da manhã, percebi que eu tinha, finalmente, deixado tudo para trás.
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