Capítulo 3

O médico que chegou olhou para o sangue se espalhando sob mim e soltou um estalar de língua:

— Justiça divina. Cada um colhe o que planta.

— Você vivia pensando em prejudicar a senhorita Diana e agora acabou matando seu próprio filho. Se arrependeu? — Disse, antes de ordenar que as enfermeiras me colocassem na maca.

A voz dele ficou mais baixa, carregada de frieza:

— Esse bebê não tem salvação. E hoje estamos com falta de anestésico. Imagino que, sendo tão cruel como dizem, a senhora não vai se importar com um pouco de dor.

Me prenderam à mesa de cirurgia, taparam minha boca e arrancaram meu filho à força.

A dor era insuportável. As lágrimas se misturavam ao suor frio, encharcando o metal gelado sob meu corpo.

Eu me debatia como um peixe fora d’água, lutando para respirar, para resistir. Mas era inútil. A consciência se apagou.

Quando vi Ícaro de novo, uma semana havia passado.

Um capanga me puxou da cama do hospital e me levou de volta à mansão Cintra.

No saguão, Diana repousava a cabeça no colo de Ícaro, frágil e insinuante, numa cena íntima e calculada.

— Solene, você cometeu crimes graves. Se ajoelhe agora e peça desculpas à Diana! — Ordenou Ícaro.

Segurei meu corpo debilitado e olhei para os seguranças de cada lado.

— Ícaro, você quer me forçar a pedir desculpas à assassina? É isso?

O rosto de Diana empalideceu. Logo a voz dela veio trêmula, cheia de choro:

— Ícaro, ela continua sem se arrepender. Eu tô com tanto medo.

— Ela ousou me empurrar na água na sua frente. Um dia pode me matar com as próprias mãos. Eu não quero mais viver nesse terror, Ícaro, o que eu faço?

Ícaro acariciava Diana com o semblante sombrio. Depois, virou-se para mim e sua voz assumiu um tom gélido:

— Solene, eu não sabia que essa sua boca era capaz de distorcer tanto a verdade.

— Você, com ciúme da Diana, a empurrou no mar e ainda prejudicou minha mãe e o André. Sabia que até agora eles continuam no hospital?

Naquele momento, percebi que entre mim e Ícaro não havia mais laço algum. Só queria ir embora.

— Quem empurrou alguém no mar foi a Diana. Eu sou a vítima.

— Diana, é só olhar as câmeras que a verdade aparece. Desta vez, por mais que você minta, não vai adiantar.

Diana estremeceu e, de repente, como uma louca, se ajoelhou diante de mim.

— Eu nunca mais vou chegar perto do Ícaro, juro. Me perdoa.

— A culpa foi toda minha, tá bom? Diz que eu sou a culpada, diz que eu sou a assassina, só te peço que viva bem com o Ícaro e pare de fazer mal aos outros.

Afastei com força a mão dela que tentava me agarrar. Ela caiu para trás, soltando um grito.

Ícaro olhou para o estado de Diana, as têmporas latejando, e explodiu:

— A Diana não sabe nadar! Você acha mesmo que ela se jogaria na água para se afogar e te incriminar?!

— Naquele sequestro, você disse que ela mesma tinha armado tudo. Agora, no caso da queda no mar, você quer inverter a história de novo! Depois de tantos anos, acha que eu ainda acredito em você?!

— Se não fosse pelo fato de você estar grávida do meu filho, eu já teria te colocado na cadeia há muito tempo. Você acha que tem o direito de ainda estar aqui?!

Não queria chorar, mas as lágrimas caíam sem controle.

— Se você acha que eu sou a assassina, me denuncia então.

— Confio que a polícia vai te dar uma resposta clara. E outra coisa, Ícaro, não precisa mais se preocupar com o bebê. Ele já não existe. Quero o divórcio. Entre nós acabou. — Eu chorei.

O rosto de Ícaro se contraiu de surpresa.

O olhar dele desceu, se fixando no meu ventre.

— Solene, você tirou o bebê sem me contar?

— Como pôde... por causa disso... tirar nosso filho? Você não esperou tanto tempo por ele?