Ela enterrou o rosto no peito de Alexandre, manhosa como uma criança com o pai.Kayra tinha pegado um voo logo pela manhã, e Alexandre suspeitava que ela mal tinha dormido na noite anterior.— Está bem, vamos dormir.Alexandre a ajudou a se levantar do sofá e a levou para o quarto, com Raíssa seguindo logo atrás. O pequeno corpo de Kayra subiu na cama, e Alexandre a cobriu com o edredom.Raíssa permaneceu encostada no batente da porta, observando. Ela queria fazer como Alexandre: segurar a mão de Kayra, acompanhá-la até a cama e cobri-la com carinho, mas sabia que a filha ainda tinha resistência em relação a ela, então não ia permitir esse tipo de aproximação.Com os olhos fechados, Kayra permaneceu em silêncio, e o quarto ficou subitamente tranquilo. Pouco depois, ela abriu os olhos novamente. Raíssa ainda estava de pé na porta, observando ela.Kayra puxou o braço de Alexandre, que estava agachado ao lado da cama:— Pai, saiam.Ela não queria que Alexandre saísse, queria que Raíssa sa
Ao ouvir isso, Kayra voltou a esconder o rosto no prato.— O Hospital do Coração de Ouro é um ótimo lugar. A empresa da família até tem parceria com eles.Isabelly sorriu para Kayra e disse:— Kayra, a mãe é médica, sabia? Da última vez, o Ricardo não falou que a mãe dele é policial? Agora você também pode contar para ele que a sua mãe é uma médica que cuida de muitos e muitos pacientes. Isso também é muito legal.Kayra continuou comendo o macarrão em silêncio.Alexandre deu um leve tapinha na parte de trás da cabeça dela:— Responde à vovó.— Ah. — A boquinha pequena respondeu com um som suave. — Entendi, vovó.— Ah, é mesmo. Nessa viagem com a Kayra, eu tirei muitas fotos e gravei alguns vídeos. Dá uma olhada.Isabelly disse isso enquanto se levantava e pegava o celular na bolsa, o entregando a Raíssa:— A senha é o aniversário da Kayra. Nele estão salvos vídeos dela desde quando era bem pequena. Quem estivesse cuidando dela usava esse celular para gravar. O Alexandre dizia que queri
Kayra baixou a cabeça e não disse nada.— Você ainda se lembra do que o pai sempre te dizia?— Lembro. — Kayra assentiu obedientemente. — Pai e mãe amam muito a Kayra.Raíssa, que estava ouvindo do lado de fora da porta, ficou com os olhos imediatamente marejados. Ela se forçou a conter as lágrimas. Isabelly, que parecia perceber o que se passava, estendeu a mão e deu um leve tapinha em suas costas.— Com certeza! Você voltou cedo e nem tomou café da manhã, não é? Está com vontade de comer aquele macarrão com legumes que o pai faz?Kayra achava que, se fosse comer, tinha que ser junto com a mãe. Ela pensou um pouco e respondeu:— Quero.— Vamos, você vai ver o pai preparando.Ao ouvir isso, Raíssa rapidamente enxugou as lágrimas. Quando Alexandre saiu com Kayra, ela lhe mostrou um sorriso radiante:— Kayra.A menininha ainda parecia guardar certa resistência em relação a ela e se escondeu atrás do pai, se recusando a aparecer.Alexandre lançou a Raíssa um olhar tranquilizador. Ao vê-la
Ela parecia um pouco ressentida, um pouco carente. O coração de Alexandre amoleceu. Ele se agachou diante dela, se colocando na mesma altura do olhar da filha.A menininha, ao vê-lo, apesar de contrariada, ainda assim chamou baixinho:— Pai.Alexandre curvou levemente os lábios num sorriso e passou a mão pela cabeça dela, acariciando:— A mamãe voltou, você não está feliz? — Ela apertou os lábios, sem responder. — Você está chateada porque a sua mãe ficou tempo demais longe de você?Do lado de fora da porta, o coração de Raíssa se apertava de dor.Kayra continuava em silêncio. No entanto, Alexandre não demonstrou pressa e mudou suavemente de assunto:— E a sua viagem? Foi divertida?Como era de se esperar, ela respondeu:— Foi.— Você fez novos amigos?— Sim, eu até fiquei amiga de um pônei. O nome dele é Iogurte.Alexandre riu com leveza:— E você tirou foto com ele?— Está no celular da vovó.— Depois vamos pedir para a vovó mostrar para gente como é esse pônei.— Está bem. — Kayra a
Uma voz infantil soou de repente. A barra da calça de Alexandre foi puxada com força, e pequenos socos caíam sobre ele como gotas de chuva.Alexandre e Raíssa abaixaram a cabeça ao mesmo tempo. Ao lado deles estava uma criança adorável, como uma boneca, com grandes olhos arregalados e o rostinho redondo tomado pela indignação.— Kayra.— Kayra.Assim que Raíssa a viu, um sorriso radiante surgiu em seu rosto. Ela imediatamente pulou dos braços de Alexandre.Quando Kayra reconheceu o rosto de Raíssa, ficou por um instante atônita. Quando Raíssa, emocionada, estendeu a mão em sua direção, ela instintivamente recuou um passo. Em seus olhos infantis havia um desamparo visível.— Kayra... — O recuo de Kayra deixou o semblante de Raíssa sombrio. Ela se agachou, mantendo a mão estendida, e sua voz tremia. — Sou sua mãe.A palavra "mãe" fez Kayra reagir. Ela ergueu os olhos para o pai e viu que ele assentia com gentileza para ela.Kayra mordeu levemente o lábio e, de repente, desviou de Raíssa
— Fique tranquila, eu venho de vez em quando para ver como ele está. — Disse Alexandre, passando o braço pelos ombros dela e a conduzindo em direção ao quarto. — Aqui em casa só temos dois quartos. A Kayra já está crescida, aquele é o espaço privado dela. Nem o padrinho, quanto mais o pai, pode simplesmente deitar na cama dela. E o nosso quarto, como casal, também está fora de cogitação. A não ser no sofá, ele vai dormir onde?As palavras de Alexandre comoveram levemente o coração de Raíssa. Ela virou o rosto e lançou um olhar para ele.— O que foi? — Alexandre sentiu o olhar dela e abaixou os olhos, a fitando com atenção.A luz refletia nos olhos dele, revelando um brilho suave.Ele não deixava de lado os sentimentos da filha só porque ela ainda era jovem. Ao contrário, demonstrava profundo respeito. Quanto maior era a criança, mais importantes se tornavam os limites, algo que muitos pais esqueciam, tratando os filhos como propriedade e querendo controlar cada aspecto da vida deles.R