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Capítulo 2

Penulis: Helena Amorim
Ela não esperava que a filha fosse dizer algo assim de repente. Ao encarar os olhos claros e brilhantes da menina, Maristela ficou paralisada por um instante.

Foi então que se deu conta de que, embora a filha, enfraquecida por anos de problemas cardíacos, fosse menor do que as outras crianças da mesma idade, já tinha seis anos.

A ausência da figura paterna sempre foi uma questão delicada para ela. Aos poucos, a menina começava a entender que o "papai foi para um lugar muito distante", como dizia Maristela. Era uma mentira piedosa que não se sustentava mais com o passar do tempo.

Dentro de uma gaveta, Maristela guardava uma antiga foto com Aureliano. A filha já a tinha visto. O que ela não imaginava era que uma menina tão pequena conseguiria guardar aquilo na memória por tanto tempo.

Era uma foto do ensino médio, ela e Aureliano juntos. Uma foto dos três melhores alunos da turma; Maristela cortou o outro colega da imagem.

Tampouco podia imaginar que, um dia, em algum canto daquela cidade, acabaria encontrando Aureliano novamente, com a filha ao lado.

O motorista pisou no freio bruscamente. Maristela foi lançada para frente e, por instinto, protegeu a filha nos braços. Depois de alguns segundos atordoada, disse a ela:

— Não é.

— Mas aquele moço parecia muito com o papai.

Maristela ficou sem palavras por alguns instantes:

— É só parecido, só isso...

Elas voltaram para casa. Maristela bateu na porta do apartamento da Sra. Juliana, que morava sozinha no andar de baixo. Ela era conhecida no condomínio por seu temperamento difícil.

Dois anos antes, quando Maristela estava enfrentando dificuldades para matricular a filha na pré-escola, acabou conhecendo Gabriel por acaso.

O pai de Gabriel estava gravemente doente, à beira da morte. Ele queria realizar o desejo do pai de ver o filho casado, então decidiu se casar rapidamente com alguém e se divorciar logo depois.

Gabriel estava prestes a ser transferido pela empresa para o exterior, e Maristela aproveitou a oportunidade em meio ao caos: se casou com ele e se divorciaram logo em seguida. Tudo para garantir um registro legal para a filha, um comprovante de endereço e acesso à escola pública.

Eles visitaram o pai de Gabriel, que faleceu naquela mesma noite.

A Sra. Juliana ficou furiosa ao saber da história do casamento falso do filho, mas também compreendeu que ele apenas queria realizar o último desejo do pai.

Depois do divórcio, Gabriel partiu para o exterior e a Sra. Juliana ficou morando ali, sozinha. Ao ver Maristela sozinha com a filha, ofereceu o sótão para que elas morassem.

Maristela pagava o aluguel normalmente, mas um dia salvou a Sra. Juliana de engasgar com uma castanha. A partir dali, a relação entre elas se tornou bem mais próxima.

O apartamento da Sra. Juliana era antigo, pequeno, um duplex simples, sem elevador e com taxa de condomínio baixa. Ela morava no andar de baixo.

O andar de cima tinha dois quartos e um pequeno terraço. Era onde Maristela vivia com a filha. Tinha entrada independente.

Maristela foi até a cozinha preparar o almoço. Pegou um pouco de macarrão que havia sobrado do dia anterior e esquentou. A Sra. Juliana apareceu na cozinha:

— A Eulália já está crescida. O melhor é fazer logo essa cirurgia. Se o problema for dinheiro, eu te empresto.

Maristela sabia que a Sra. Juliana tinha algumas economias guardadas, mas era tudo o que ela possuía, e, se algo lhe acontecesse naquela idade, quem a ajudaria? Apesar de estar muito grata pela generosidade, Maristela recusou.

...

À tarde, Maristela chegou ao 15º andar do Edifício Empresarial Vitória, onde ficava o Grupo L&M Espaço Design. Assim que entrou, foi abordada pela colega Ana:

— Maristela, a diretora Beatriz pediu que você fosse à sala dela.

Beatriz era a diretora de design e chefe direta de Maristela.

Ao bater na porta e entrar na sala, Beatriz ainda estava ao telefone. Lançou a ela um olhar breve, indicando que esperasse. Maristela olhou rapidamente para o relógio no pulso.

Se passaram mais treze minutos até que Beatriz encerrasse a ligação.

— Maristela, os rascunhos da última apresentação foram recusados pelo cliente. Vocês vão precisar refazer tudo. A entrega deve ser feita até a próxima semana. O material estava muito conservador, sem destaque. Incluam algo mais excêntrico, como pontos, bordados sombrios, essas coisas.

— Diretora Beatriz, a proposta da "Flor de Seda" é baseada em elegância e sofisticação. O público-alvo é acima dos trinta, e o conceito foi desenvolvido com base no feedback das áreas de vendas e marketing.

— Quem é a diretora aqui, você ou eu? — Beatriz lançou a ela um olhar direto, interrompendo ela sem cerimônia.

De volta à mesa, Maristela explicou aos colegas a nova direção das mudanças. Houve uma onda de protestos imediata.

Uma colega, que sentava de frente para Maristela, franziu a testa:

— Você está bem? Que gosto estranho é esse da diretora Beatriz? Vestido bordado com bolinhas e ainda bordado sombrio? O conceito da marca é elegância natural, com harmonia e leveza... Isso aí está completamente fora da realidade.

— Quem se ferra somos nós, os trabalhadores. Toda vez essas coisas absurdas sobram para a gente consertar.

— Mas ouvi dizer que a Conecta Comunicação já está com entrevista marcada com ela. Vai ser no sábado, naquele quadro "A ascensão dos designers de primeira linha", cheio de estrelas e holofotes.

— O pai dela é um político veterano, vem de uma família tradicional na política. Veio parar aqui no L&M como diretora de design de moda só de fachada. O presidente Paulo, um dos sócios da empresa, é amigo pessoal dela.

— Ei, falem mais baixo.

Maristela ficou trabalhando até tarde. Eulália usou o WhatsApp da Sra. Juliana para fazer uma chamada de vídeo com ela, dizendo que já tinha jantado.

Quando Ana passou por ali, ainda deu um alô para Eulália na tela. Ficou impressionada, mesmo depois de três anos trabalhando com Maristela. Sempre que alguém descobria que ela tinha uma filha de seis anos, se surpreendia.

Aquele rosto jovem, cheio de colágeno, parecia um ovo recém-descascado de tão liso. Linda, traços delicados, uma beleza suave e fresca. Parecia ter saído da faculdade há pouco tempo, e quem diria que já era mãe de uma menina de seis anos...

Ana deu um tapinha no ombro de Maristela:

— Vai, vai para casa ficar com sua filha. A gente ainda vai ficar mais uns trinta minutos e também vai embora.

Quando o celular tocou de novo, Maristela já estava dentro do metrô.

Pensou que fosse mensagem da filha, mas era de uma antiga colega do ensino médio. Esse número de WhatsApp que ela usava hoje não tinha nenhum contato daquela época. Ela havia cortado todos os laços com o passado.

A única amiga daquela época só podia ser uma pessoa...

Sofia mandou um áudio longo, e Maristela clicou para converter em texto:

[Vai ter um reencontro dos colegas do ensino médio. O Félix não conseguiu te achar e veio atrás de mim, querendo saber de você. Disse que não sabia de nada. Mas você sabe o que andam dizendo? Que você morreu... Mas mesmo que você aparecesse na frente deles agora, ninguém ia te reconhecer. Você está magra, linda...]

Silvana parecia alguém que havia sumido por sete anos. Sem deixar rastros. Maristela ficou em silêncio por alguns segundos.

Digitou e enviou uma única frase: [Então deixem eles acharem que a Silvana morreu.]

Ninguém gostava da Silvana. Nem mesmo a Maristela gostava daquela antiga versão de si mesma. Mudou de nome e de vida. Queria deixar aquela pessoa no passado.

Sofia respondeu logo depois: [Ouvi dizer... Só ouvi dizer, está bem? Que o Aureliano também vai. Parece que ele voltou para o país. Você não quer ir? Mas, do jeito que você está agora, ele nem deve te reconhecer.]

Sofia era de uma turma vizinha no colégio. As duas continuaram mantendo contato de vez em quando. Maristela, inclusive, foi ao casamento de Sofia.

Na época, Sofia nem sequer a reconheceu. Ficou chocada. A antiga gordinha agora parecia uma peça delicada de jade branca.

Os dedos de Maristela pararam por um instante enquanto encarava aquele nome na tela. Teve vontade de dizer a Sofia que, na verdade, já tinha reencontrado Aureliano.

Mas só respondeu: [Não vou.]
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