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Capítulo 3

Author: Helena Amorim
Às dez da noite, Maristela estava deitada na cama quando abriu a conta do Facebook que usava na época da escola. Félix havia mandado algumas mensagens para ela.

[Silvana, vamos ter um encontro de turma semana que vem no Sabor & Samba. Todos os detalhes estão no grupo da classe no Facebook. Só falta você confirmar. Vai vir ou não?]

[Mando mensagem e você nem responde, Silvana. Se estiver passando por alguma dificuldade, pode falar com a gente. Somos velhos colegas. O que der para ajudar, a gente ajuda.]

O grupo da turma estava bem movimentado.

Na verdade, Maristela já havia pensado em sair do grupo, mas eram 48 pessoas, a classe inteira, e, se ela saísse sem explicação, chamaria atenção.

De qualquer forma, ela quase nunca usava aquela conta do Facebook. Maristela rolou a conversa para cima.

Como esperava, ninguém tinha falado sobre ela. Durante o tempo de escola, ela sempre foi como o ar: invisível. Mas um ar que não podia ser ignorado. Porque ela era gorda.

Mesmo naquela época, Maristela já fazia de tudo para se tornar invisível, mas sempre havia cochichos ao redor dela.

"Gordinha", "porquinha gorda", "barril".

Mesmo que não fizesse nada, só de passar por um corredor já ouvia sussurros. Ela não era gorda no início do ensino fundamental, foi por causa de uma doença, que a fez tomar medicamentos hormonais em excesso.

O nome de Aureliano, por outro lado, era o mais mencionado no grupo. Onde quer que ele estivesse, era o centro das atenções. Os termos ligados a ele eram sempre os mesmos: "filho preferido do destino", "bonito", "dinheiro", "poder".

Totalmente o oposto dela.

Ela clicou na foto de perfil dele. Ele também parecia não acessar muito a conta, a foto era bem antiga.

...

Num piscar de olhos, o sábado seguinte chegou. Depois de uma semana corrida, o responsável da Flor de Seda finalmente aprovou a primeira versão do projeto, assinou o contrato e fez o pagamento sem dificuldade. A segunda versão, feita por Beatriz, foi rejeitada como esperado. Beatriz ficou descontente, mas o Presidente Paulo convidou todos para um jantar de comemoração no Sabor & Samba.

Um restaurante da moda, conhecido por ser ponto de encontro e entretenimento. Maristela achava aquele nome familiar. Mas, como era um evento coletivo para comemorar, ela não conseguiu recusar, ainda mais com a presença do Presidente Paulo.

Por volta das sete da noite, todos brindavam dentro do salão reservado. Maristela também bebeu duas taças de espumante.

Enquanto isso, na sala ao lado, Aureliano chegou atrasado. A sala estava cheia de colegas da antiga turma 3.

Todos fizeram barulho, o incentivando a beber. Mas foi só isso. Ele apenas balançou a cabeça e ninguém insistiu.

O homem tinha um ar reservado e distante. Sorria levemente com os lábios finos e disse que não podia beber, pois podia receber um telefonema a qualquer momento e precisava estar pronto para ir ao hospital.

Algumas colegas, com as bochechas coradas, tiraram o celular para fotografá-lo discretamente.

Tanto no Colégio Jardim das Flores quanto na Universidade Nova Lusitana, Aureliano sempre foi uma figura de destaque. Tinha beleza, inteligência e uma família influente.

— Aureliano, você está namorando? Com essa vida de médico, sempre correndo para o hospital, será que dá tempo de ter um relacionamento? Ouvi dizer que você está na área de cirurgia cardiovascular. Deve ser bem cansativo, não é?

Quem perguntou foi uma garota com o rosto vermelho. Era Natália, a mais bonita da classe na época. Ela olhou com um sorriso tímido e cheio de expectativa para ele.

Qualquer um percebia que Natália estava interessada nele. Alguns começaram a provocar, e o rosto dela ficou ainda mais vermelho, como uma flor de pessegueiro.

Ao lado dela, havia justamente um lugar vazio. Aureliano assentiu levemente e olhou para Natália, mas não parecia se lembrar dela. O salão era grande, com mesas de cartas e karaokê.

Aureliano caminhou diretamente até uma poltrona individual. Como mais cedo ele teve uma entrevista para a mídia, estava vestido de forma mais formal. Tirou o paletó preto e o pendurou no encosto da cadeira. A camisa azul-clara realçava seu ar frio e elegante. Sua postura era ereta e imponente.

Com um leve gesto de cansaço, ele pressionou a têmpora com os dedos. Sua pele era pálida e, ao baixar o braço, olhou instintivamente para o relógio no pulso.

Não demonstrava muito interesse pelos colegas ao redor. Sua presença ali se devia apenas aos insistentes convites de Félix e porque, por acaso, ele estava disponível.

Natália ficou visivelmente desapontada.

Félix lhe entregou um copo.

— É só água.

— Obrigado.

Aureliano respondeu com educação e distanciamento.

— Somos todos colegas de longa data, não precisa de tanta formalidade.

Félix deu um tapinha no ombro de Aureliano. Os dois trocaram algumas palavras cordiais. A família de Félix trabalhava com móveis e, anos atrás, chegou a fazer negócios com o Grupo Martins. Ele queria manter uma boa relação com Aureliano, apesar de o Grupo Martins estar atualmente sob o comando de André, o filho mais velho da família Martins.

Aureliano não estava envolvido nos negócios da família, mas ainda assim era o filho mais novo dos Martins. E todos sabiam que André era adotado. Somente Aureliano era filho de sangue.

De fato, Aureliano nem foi o último a chegar. Ainda faltavam algumas pessoas para chegar.

Cada vez que alguém abria a porta e entrava, ele levantava os olhos, olhando instintivamente. O homem também não sabia exatamente o que estava esperando. Talvez ele estivesse na expectativa de que, da próxima vez que a porta se abrisse, fosse ela quem aparecesse.

O salão reservado estava cada vez mais barulhento. Quando a última colega chegou, Félix tomou a dianteira e incentivou a recém-chegada a beber. A moça não hesitou e tomou duas taças de vinho suave.

Alguém brincou:

— Fernanda, como você engordou assim?

— Pois é, nem te reconheci de primeira. Você deve ter engordado uns bons quilos, não foi?

Ao ouvir a palavra "gorda", Aureliano levantou os olhos e olhou para Fernanda. No fundo dos olhos escuros, passou um traço quase imperceptível de melancolia.

Um incômodo estranho apertou o peito dele. Ele se serviu de mais um copo.

O homem estava sentado em uma poltrona individual, com as pernas cruzadas. A calça social caía com elegância.

Ele bebia calmamente, um copo após o outro. No pulso, o relógio de platina refletia um brilho frio.

Quando ele baixava o olhar, o perfil ressaltava traços fortes e sofisticados. O conjunto do rosto bem definido e a atitude reservada despertavam desejos nas colegas ao redor, que queriam se aproximar, mas hesitavam.

Natália mordeu os lábios, pegou a taça e foi até ele.

— Aureliano, eu tenho um parente que está com problema no coração. Quando você estiver atendendo, posso levá-lo para uma consulta...?

A luz à sua frente foi bloqueada. Aureliano franziu ligeiramente a testa. Ele ergueu os olhos e lançou um olhar breve para ela, com um sorriso contido nos lábios.

— Todas as vagas da semana que vem já estão preenchidas. Se for um caso grave, dá para encaixar.

— Ah... Entendi...

Natália parecia ainda querer dizer algo, mas, ao ver a expressão dele tão indiferente, desistiu. Voltou ao seu lugar com um ar desanimado.

Félix estava conduzindo o encontro daquela noite. Após um breve discurso, preparou um presente para os colegas: um cartão de membro com desconto de vinte por cento na loja de móveis da sua família, além de um conjunto de utensílios para café.

— Ei, alguém tem o contato da Silvana? Podíamos mandar um presente para ela também.

Aureliano estava exausto após o dia cheio. Com o álcool circulando, a cabeça dele começou a latejar. Ele encostou o braço na lateral da poltrona e fechou os olhos, tentando descansar um pouco.

Mas, ao ouvir aquele nome, franziu as sobrancelhas instintivamente. Como se um alarme tivesse disparado dentro do cérebro, ele ficou totalmente desperto.

— Silvana, aquela gordinha? Eu lembro dela. No ensino médio, ela correu oitocentos metros e terminou toda desfigurada...

Quem falou foi um colega chamado Henrique. A frase foi cortada de repente.

Henrique encarou um par de olhos frios e profundos, duros como lâmina. Ele se sentiu como se alguém tivesse apertado sua garganta.

Achou que estava atrapalhando o descanso de Aureliano e, constrangido, se calou. Mas os comentários no salão continuaram.

Maristela não havia ido ao reencontro. Ela não fazia ideia de que, mesmo "desaparecida" há sete anos, ainda era assunto entre os antigos colegas.

De repente, uma colega falou com hesitação:

— A Silvana... Ouvi dizer que ela morreu...

O ambiente ficou estranhamente silencioso por alguns segundos, como se o tempo tivesse parado.

— O quê? Morreu? Como assim?

— Agora tudo faz sentido... Ela nunca veio para os encontros. Eu até mandei mensagem e ela nunca respondeu. Então é porque...

Algumas pessoas suspiraram, com pesar.

— É verdade. Foi há uns seis anos. Minha avó estava doente e eu fui ao hospital. Vi ela lá, com a barriga enorme, magra demais, só a barriga enorme daquele jeito. Aquilo só podia ser um tumor...

A colega balançou a cabeça, com expressão de pena.

— Coitada.

O ar ao redor pareceu ficar pesado por alguns segundos, mergulhado naquele assunto.

Alguém então se dirigiu a Aureliano. Talvez por ele ser médico, era natural que pensassem em perguntar.

— A gente tem um médico aqui na turma, não é? Aureliano, você acha que aquele tumor na barriga da Silvana podia ser uma doença terminal? Eu lembro que a família dela não tinha dinheiro. Agora entendo por que nunca mais tivemos contato com ela... É porque ela já não está mais entre nós.

Todos olharam para Aureliano. O homem ficou paralisado.
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