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Raoni no portal do mortos
Raoni no portal do mortos
Author: Lucas Coe

Capítulo 01 – Como tudo começou

O nascimento do nosso herói Raoní já foi a primeira batalha travada entre ele e seu irmão Zaltana. Sua mãe, Kaolin, já estava há um certo tempo em trabalho de parto, quando finalmente Raoní veio ao mundo. Um garoto forte e saudável. Entretanto, a parteira olhava desconfiada para as partes íntimas de sua mãe Kaolin, pois suspeitava que havia algo de estranho em seu útero. E ao examinar Kaolin, a parteira da tribo acabou retirando mais um bebê, era Zaltana.

Colocados um ao lado do outro já se percebia uma diferença entre os dois. Embora Zaltana e Raoní fossem gêmeos, Zaltana era maior e mais forte. A alegria de Kaolin pelo nascimento de seu primeiro filho e homem, mudou para profunda angústia, pois na cultura da tribo Kanaparís; declarava que ao nascerem gêmeos, uma das crianças deveria morrer, pois acreditavam que gêmeos representariam o bem e o mal e se o mal ficasse vivo, traria desgraça para toda a tribo.

O choro de Kaolin atravessou toda a aldeia. As araras, as cotias e até mesmo o Uirapu, conhecido como o pássaro da felicidade, saíram de perto da tenda por não aguentarem o choro de Kaolin. E enquanto a parteira em passos largos e ligeiros se dirigia até a tenda dos líderes da tribo, o marido de Kaolin, Viatã, vai ao encontro de sua amada e ao entrar na tenda, percebe os dois meninos colocados em um cesto. O olhar de Kaolin para Viatã já dizia tudo, entretanto ele não poderia ir contra as tradições da tribo. Um deles então deveria morrer.

A parteira e curandeira Nadi, disse do ocorrido para todos os presentes na tenda principal. Lá estavam o líder da tribo: o cacique Iberê, o pajé, e o missionário Edberto Fonseca, do projeto Amazônia Cristã. Ele havia se estabelecido na aldeia há algumas semanas e trazia as boas novas do cristianismo para todos da tribo.

O cacique Iberê, sem titubear, disse para a parteira que ela sabia o que fazer. Neste caso, eles esperariam um dia para que o pajé perguntasse aos deuses qual criança deveria ficar viva. Neste momento o missionário Edberto entrou em pânico e se ajoelhou na frente do pajé e do líder da tribo pedindo que tivessem misericórdia da criança. Mas eles estavam irredutíveis. Depois de muitos apelos sem sucesso, o missionário disse então que gostaria de ver as crianças e lhe foi permitido. E já no caminho até a tenda que as crianças estavam, o missionário Edberto já estava a pensar como poderia contornar a situação.

As duas crianças estavam sendo amamentadas por Kaolin. Estranhamente o missionário Edberto, ao entrar na tenda, até percebia uma certa luta entre os dois bebês como se desejassem retirar o seio da mãe um do outro. E depois que os bebês adormeceram, foram retirados do colo de Kaolin e colocados em uma outra tenda, para que iniciassem os preparativos da cerimônia que escolheria qual dos bebês deveria morrer.

O missionário Edberto ficou apreensivo com o fato de que um bebê deveria morrer e foi conversar com o pajé a fim de saber como seria o ritual. O pajé então explicou que depois das crianças serem preparadas com banhos de ervas, seriam levadas para longe da aldeia. Colocadas em uma grande cesta, deveriam ficar lá até que os deuses descem um sinal de qual deles deveriam ficar na aldeia. Perguntado como seria este sinal, o pajé respondeu que os deuses mudariam alguma coisa na criança, por isso, o banho era também para verificar se havia algo de especial nelas antes do ritual, como um sinal de nascença ou alguma imperfeição.

As crianças então foram banhadas e levadas para fora da aldeia, para um local cercado por galhos e troncos secos que era usado para os rituais dos Kanaparís. Minutos antes de iniciar o ritual, o missionário Edberto foi até a cesta que estão os bebês e sorrateiramente coloca entre eles um crucifixo na esperança de que o Deus cristão, salvasse as almas daquelas crianças. Era uma atitude desesperada, já que ele mesmo considerava o crucifixo apenas um suvenir. Feito assim, o missionário volta e vai ver de longe o início do ritual.

Uma fogueira foi acesa. A tribo então entoava canções marchando ao redor da mesma, pois, segundo eles, as canções fariam com que os deuses olhassem para os bebês e escolhessem qual deveria viver e qual deveria morrer. Depois de algumas horas, já quase meia-noite, a tribo voltou para a aldeia e esperaria os primeiros raios de sol para descobrir qual bebê deveria ser morto.

Levado por extrema compaixão, o missionário decidiu que tomaria uma atitude extrema. Ele iria raptar as duas crianças e as levaria consigo para longe da aldeia, quem sabe para as fazendas de alguns produtores rurais que ele conhecia e com certeza, o ajudariam nesta missão. Então, o missionário Edberto, juntou um pouco de leite de cabra, algumas mandiocas e uma cabaça1 com água e foi até aos bebês. E ao chegar por lá, achou curioso que o maior deles estava sobre o outro, praticamente sufocando o seu irmão.

Ele chegou a pegar Zaltana primeiro e percebeu que pelo fato do crucifixo ter ficado entre eles, Zaltana exibia a cruz de cabeça para baixo na altura do seu peito. E olhando para Raoní; viu a cruz também na altura do peito, entretanto em Raoní, o sinal era mais forte. Ao que tudo indica, Zaltana teria ficado por sobre Raoní por um bom tempo, pressionado o crucifixo contra eles.

O missionário ouviu um barulho de vozes vindo pelo caminho, isto indicava que ele teria companhia em instantes e certamente veriam que ele já havia tomado Zaltana em seus braços. Quando se preparava para retirar Raoní, o som de uma flecha zunindo passou pelo seu ouvido fazendo com que ele saísse de lá correndo, agarrando apenas um dos bebês, levando apenas Zaltana.

A sua frenética fuga desesperada contou com a sorte. Havia uma brecha na cerca que circundava o local e ele conseguiu fugir e entrar na mata no momento que os raios do sol começavam a incidir sobre a sua cabeça. Alguns índios da tribo sairiam correndo atrás dele, mas ao olharem para Raoní perceberam a marca em seu peito e ficaram admirados, pois nunca tinham visto um sinal tão forte dos deuses. O missionário Edberto, nunca havia mostrado para eles o crucifixo, pois achava que poderiam cultuar a imagem da cruz e não somente o aceitariam como um objeto decorativo.

Contudo, o líder da tribo, Iberê, chegou e ordenou que seus três melhores caçadores fossem atrás do missionário. Raoní foi levado para a aldeia e apresentado ao pajé que admirado, olhava que grandioso sinal vindo “dos deuses” havia naquele bebê. Erguendo o bebê ao sol, jubiloso por tamanho fato na aldeia, o líder da tribo declara que o nome daquele seria Raoní, que significa, “grande guerreiro.”

1Ou pote, usado para levar líquidos.

O grupo de caçadores estavam cada vez mais perto do missionário pois eram atraídos também pelo choro de Zaltana. O missionário não conhecia aquela parte da floresta. Não sabia mesmo, pois acabou na beira de um rio. Nesse ponto, Edgar já estava bem cansado de tanto correr. Foi então que para acalmar Zaltana, que chorava muito, rasgou o bolso de sua camisa e o encharcou com leite de cabra, colocando em seguida na boca de Zaltana, que então se calou.

Avistando os caçadores se aproximando, Edgar pensou como poderia fazer para escapar. Então, olhando para alguns pedaços de troncos na margem do rio, decidiu colocar Zaltana sobre alguns desses e cobrir com algumas folhagens. Passou então a correr na tentativa de despistar os caçadores afastando a possibilidade deles encontrarem o bebê, pois, tendo êxito, voltaria e pegaria o bebê em segurança.

Seu plano, acreditava ele em sua insensatez, seria perfeito. Começou a correr pela margem, subindo o rio; levando em suas mãos a cabaça com água, na tentativa de iludir os caçadores que ele estava com o bebê nos braços. Ao ver que já estava bem distante e que Zaltana não estava chorando, o missionário Edgar começou a gritar e correr bem rente da margem para que fosse fácil de ser visto e assim afastar ainda mais os caçadores do bebê. O problema é que não lhe contaram que um índio Kanaparís pode acertar um alvo em até trinta metros.

Desta vez não ouviu o zunido da flecha, mas sim sentiu ela acertando um dos seus ombros pelas suas costas. Mas, não se deu por vencido. Mesmo cambaleando reuniu forças e deu mais alguns passos. Foi tudo em vão, a segunda flecha agora acertou a sua coluna e os guerreiros já estavam a poucos metros dele. Debruçado, se ajoelhou ainda agarrando a cabaça com água. Olhava para ela agora como que visse o bebê que estava em seus braços a instantes atrás e agora estava entregue a sua própria sorte.

Ao ser perguntado pelos guerreiros sobre o paradeiro do bebê, apenas teve tempo de apontar para a margem do rio e desmaiou em seguida. Os guerreiros saíram então em busca do bebê, contudo, não encontraram nada. A única coisa que viram foi uma grande onça com a boca manchada de sangue perto do rio.

De volta para a aldeia, os guerreiros falaram tudo o que havia acontecido em sua caça ao missionário. O líder da tribo e o pajé, conversaram e concordaram que Raoní deveria ficar vivo, já que a morte de seu irmão pela onça, apenas foi providenciada pelos deuses. E com o missionário morto tudo estava resolvido.

Anos se passaram, a tribo Oniakês, principal rival da tribo Kanaparís, crescia espantosamente em números de índios bem como em ocupação de outras tribos. Eles invadiam aldeias, saqueavam e matavam muitos outros índios; de outros faziam escravos e assim passavam a ocupar as suas terras. Como a grande maioria das tribos ficavam na fronteira entre o Brasil e o Peru, os governos destes países nada faziam para conter a escalada de morte e destruição que assolavam os povos indígenas naquela região da Amazônia.

Os poucos que sobreviviam e conseguiam escapar dos ataques, fugiam em busca de um novo lar. Muitos dos sobreviventes das tribos atacadas, acabavam indo morar nas proximidades dos Kanaparís, que os recebiam como novos integrantes da tribo. E essa miscelânea cultural, acabaria por favorecer toda a tribo Kanaparís, mas principalmente um certo guerreiro de nome Raoní.

Raoní crescia em tamanho e em conhecimento. Desde muito pequeno, mostrava ser habilidoso em todas as atividades de guerra. Conseguia assimilar o que lhe era passado de uma forma rápida, aprendendo as mais diversas lutas indígenas como o Aipenkuit3, o Idjassú3 e Huka huka1, surpreendendo a todos, mesmo lutando com índios maiores e mais fortes do que ele.

Aprendeu a usar o arco e flecha como nenhum outro. O único que mais se assemelhava a ele era o seu fiel companheiro Dacota, sendo este um ano mais novo do que Raoní. E quanto mais o tempo passava, Raoní crescia e aprendia mais e mais.

Logo após o tempo do ritual de furar orelha, que marca a passagem da saída da adolescência para a vida adulta, passou a se interessar em usar variados tipos de armas não só as tradicionais de sua tribo, mas também: Borduna, Zarabatanas, machadinhas e tudo mais que poderia aprender e usar contra quem fosse atacar a sua aldeia, inclusive os Oniakês.

Por seu esforço, conseguiu o respeito dos guerreiros de diversas outras tribos que moravam nas proximidades, eles faziam questão de passar os seus conhecimentos para Raoní pois sabiam que um dia os Oniakês chegariam e eles precisariam de um grande guerreiro para liderá-los em combate.

A influência branca também chegava timidamente aos habitantes da tribo dos Kanaparís. O cristianismo era mostrado por alguns missionários e expedições científicas também forneciam contato entre a cultura branca e a indígena, mas os Kanaparís eram muito reticentes a qualquer coisa que contrariavam os ensinamentos hereditários da tribo.

Tempos depois, Raoní se tornava um homem completo e encontra o seu primeiro grande desafio na tribo. Ele e seu fiel companheiro Dacota, estavam voltando para a tribo quando avistaram mais um povo vindo na direção de sua aldeia. Ele não podia acreditar no que os seus olhos estavam vendo. Dentre a multidão, uma índia cuja a pele era tão branca como as nuvens. Os olhos dela eram mais apertados dos que o de costume. Seus cabelos negros e lisos escorriam até a sua cintura e ela não se vestia como as demais mulheres da tribo. Seu rosto apresentava cansaço e arranhões podiam ser vistos em suas pernas e braços. Estava suja, mas, mesmo assim, Raoní acreditava que ela era mais bela que as flores de uma Vitória-régia2.

Raoní olhava tão fascinado para a jovem que, ao ir em sua direção, aquilo que sentia fez com que o nosso herói tropeçasse em seus passos; tão rapidamente foi a sua queda foi o seu levantar. Destemido, curioso e encantado, Raoní acompanha, junto com o seu fiel amigo Dacota, todas aqueles novos membros da família Kanaparís até a sua aldeia. Aqueles eram os Naikís.

O surgimento dos Naikís foi graças a Hiroshi Tanamura, um japonês. Ele veio participar de um encontro de paraquedistas na cidade de Rio Branco, no Acre. Ao saltar do avião junto com o seu grupo, uma forte rajada de vento atingiu a todos, dispersando-os no céu. Em queda livre, Hiroshi Tanamura já estava conseguindo estabilizar a sua queda e decidiu acionar o seu paraquedas, entretanto, assim que inicia a sua manobra de pouso, vislumbra um outro paraquedista desacordado vindo em sua direção. A colisão foi inevitável e Hiroshi Tanamura perdeu a consciência, enquanto o outro paraquedista caia meio sem rumo.

Mais uma rajada atingiu o nosso homem-pássaro o que fez com que ele subisse, subisse e subisse até o momento que ele acordou e viu que estava sobre as nuvens. Desesperado, começou a controlar o seu paraquedas para que ele pudesse descer. E com muita habilidade, passava a descer lentamente por entre as nuvens.

Quando Hiroshi Tanamura finalmente contemplou sinal de terra, não reconhecia o lugar pois abaixo dos seus pés só havia uma densa vegetação de grandes árvores. Muito aflito, Hiroshi Tanamura busca lá de cima uma clareira em que pudesse pousar. E depois de alguns minutos, sentiu-se aliviado por achar o que parecia o único local para seu pouso, uma clareira ao longo das margens de um rio.

Se não fosse mais uma rajada de vento que o jogaria diretamente para a clareira que ele desejava ir; se não fosse descendo tão veloz como desejava e se, suas pernas não passassem arrastando pelas sumaúmas3 que estavam em seu caminho, Hiroshi Tanamura até poderia ter achado o final de sua aventura algo confortável. E depois das inúmeras cambalhotas que deu quando chegou ao chão enroscando-se ao paraquedas, tudo terminou bem.

Quando a terra parou de girar em sua cabeça, Hiroshi Tanamura passou a tentar sair de todo aquele engodo que estava quando se viu cercado por homens com rostos pintados, penas sobre suas cabeças, lanças em algumas mãos; já outros com arcos envergados com suas flechas apontadas para ele.

Ele havia descido justamente em meio a uma tapera4. Olhou em volta e viu que estava em uma situação delicada.

Não sabendo ao certo se o ilustre visitante dos céus seria um deus ou um intruso, os poucos guerreiros da quase extinta tribo o levaram para uma pequena jaula feita com troncos de árvores e galhos secos e espinhosos. E ali, a poucos metros de distância, homens, mulheres e crianças sem pudor de mostrar algumas de suas partes íntimas, olhavam para aquele homem do céu e de pele branca; que tinha algo que cobria o seu corpo. Eles comentavam que havia algo que estava sobre boa parte da sua cabeça e, no lugar de uma pena, um estranho objeto negro.

Hiroshi Tanamura tentava dialogar com aqueles habitantes tão peculiares que ele só tinha visto em filmes e documentários. Contudo, suas tentativas de pedido de ajuda e outras frases desesperadas e sem pudor, não eram entendidas.

Ele ouviu o som de risadas de algumas crianças que subiram nas árvores para observarem melhor aquele espécime tão peculiar. Um dos seus admiradores era o jovem de nome Apuana, que significa “aquele que corre.” Apuana estava encantado com Hiroshi e foi o que se aproximou mais dele, sem medo, inclusive sorrindo.

Em uma terrível coincidência, Hiroshi Tanamura viu que estava sendo preparada uma grande fogueira próximo ao seu cativeiro; estaria certo: ele seria a refeição daquele povo.

O mais velho daqueles índios, veio tentar dialogar com o visitante do céu. Avisava em sua própria língua, incompreensível para Hiroshi Tanamura, que ele deveria esperar até o outro dia e enquanto isso, uma fogueira seria acesa para que ele não passasse frio durante a noite.

As fagulhas da fogueira e as canções entoadas pelos índios aumentavam o seu medo. E quando trouxeram água e algumas tapiocas para que ele se alimentasse, imaginou que aqueles “canibais” gostariam de comê-lo recheado, o que o fez ficar somente tomando água.

A noite já havia chegado e Hiroshi, cansado, tentaria dormir um pouco, pois o silêncio na tribo era evidente. Pensava ele que se não tinha sido para o jantar, seria ele então servido no café da manhã. Atordoado por tudo o que havia acontecido desde então, ele observou que sobre o seu capacete retirado e deixado de lado, havia uma câmera e que ainda estava ligada. Ele remove a câmera e começa a rever tudo o que havia acontecido naquele turbulento dia.

Tendo a nítida impressão que estava sendo observado, Hiroshi olhava para os lados, contudo, não viu ninguém. Sentou encostado na cerca de sua jaula e começou a rever os passos do seu acidente. Ele ficou admirado quando a gravação revelou que ele foi levado até uma altura que nunca imaginaria, vendo as nuvens abaixo dos seus pés. Em seguida, viu toda a sua queda. Hiroshi, usa as teclas de sua câmera para voltar e assistir diversas vezes a sua vinda das nuvens até o momento que cai na tapera. Ele buscava uma imagem de civilização mais próxima, na esperança que pudesse ir para lá o mais rápido possível.

Hiroshi, sente como se alguém estivesse por trás dele no momento em que ele assistia pela vigésima vez as imagens do seu pouso. E ao olhar por sobre seu ombro direito, levantou-se assustado com o rosto de Apuana que sorria para ele entre os galhos de sua prisão. Depois do susto que causou em Hiroshi, o menino vai embora deixando aquela noite ainda mais assustadora.

Já nas primeiras horas da manhã, Hiroshi é acordado com uma grande agitação no centro da tapera. Os índios haviam chegado a uma decisão do que fariam com ele. E ao julgar pelas feições dos mesmos, não seria uma boa coisa. A primeira atitude de Hiroshi foi olhar para a fogueira que, para seu alívio já estava extinta. Entretanto, seus problemas estavam apenas começando, pois dois dos índios, a julgar os mais fortes da aldeia, vieram até a sua prisão e o arrastaram de lá para o centro da tapera.

De joelhos, suplicando por sua vida, Hiroshi Tanamura tentava explicar tudo o que havia ocorrido. Sendo amarrado a um poste e feito alvo para cinco índios com seus arcos e flechas, ele gritava por socorro em sua língua nativa o japonês, em português e em inglês, mas não obteve resultado.

Quando os arqueiros já estavam prontos para perfurá-lo com suas flechas, eis que surge um pequeno menino correndo pela tapera com um objeto em uma de suas mãos. Era aquele objeto que, o agora intruso que caiu do céu, usava sobre a sua cabeça no lugar de penas. Aquele menino era o mesmo que subiu em uma árvore e o espionava a noite quando Hiroshi avançava e retrocedia o vídeo em sua câmera; o mesmo que estava sorrindo para ele na cela, era Apuana.

Bastante observador, Apuana tinha ido até a cela onde antes estava Hiroshi e pegou aquele pequeno objeto que mostrava as imagens daquele pouso. Tendo visto muitas vezes como as imagens do céu aparecia e reaparecia naquela estranha caixa negra, mostrou então para os guerreiros da tribo. Todos ficaram admirados como aquele pequeno objeto mostrava a descida do homem que vinha do céu e assim sendo, não seria um intruso, mas sim um deus que deveria reinar entre eles, que veio para os salvar.

Hiroshi Tanamura teve sorte em ter adormecido com o vídeo pausado no momento em que iniciava a sua aventura nas nuvens. Teve mais sorte de antes ter visto tantas vezes a mesma gravação, pois só assim Apuana aprendeu a manusear a sua caixa negra.

A tribo estava em festa, todos agora queriam homenagear o deus que veio do céu para salvar aqueles que já tinham fugido de grande guerra; mesmo que Hiroshi Tanamura, só soubesse disso anos depois que conseguiu aprender a língua da tribo, que os índios que ali estavam foram atacados pelos Oniakês.

De pronto, elegeram Hiroshi como seu deus e chefe da tribo, mesmo que seus costumes fossem estranhos para aqueles que aprenderam a viver desprovidos de roupas. E com a intenção de cobrir os seios das mulheres de sua tribo, resolveu cortar em pequenas tiras todo o seu equipamento de modo que todas as mulheres poderiam andar mais vestidas pela aldeia.

O nome da tribo, Naikí, ocorreu quando levantaram o paraquedas antes de fazerem os cortes para suas vestimentas e a marca de uma famosa empresa de artigos esportivos tremulou ao vento. Vendo que os índios olhavam para aquele símbolo, Hiroshi pronunciou o nome da marca, que foi para todos compreendidos por “Naikí.”

Hiroshi Tanamura, casou-se com uma jovem da tribo. E como ele não tinha parentes vivos e sentia-se bem sendo o chefe da tribo, nunca desejou sair de lá. Anos mais tarde, nasce Thaynara que herdou do pai as características orientais, sendo considerada também uma deusa entre os Naikís.

1.Nomes de lutas praticadas nos jogos dos povos indígenas.

2.Planta aquática típica da região amazônica.

3.Espécie de árvore gigante encontrada na Amazônia e em outras partes do mundo.

4.Em tupi significa “aldeia extinta”.

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