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Capítulo 06 – A fera

Raoní e Dacota foram então informados que somente os chefes guerreiros possuem um animal de transporte, teriam que ir domá-los. Nossos guerreiros foram levados então até ao vale Nhadiuva. Junto a Raoní e Dacota estavam a caminho do vale, Ubiratã e seu lobo-guará Angoera. Taú com o seu búfalo Zaki e Yudi e seu urso pardo Raijin.

O caminho era longo, por isso, Raoní foi levado por Ubiratã e Dacota por Taú. Todos sabiam que o tempo estava contra eles, não poderiam esperar, o exército daquele mundo insólito deveria ser reunido o mais breve possível contra as forças de Zaltana.

Enquanto estavam a caminho de mais uma aventura, Raoní olhava para todos aqueles animais e para os outros guerreiros com admiração. Um deles em especial, o fez lembrar de Thaynara.

Yudi tinha os olhos bem apertados o que lembrava Thaynara. Mas a pele dele era amarelada. Suas roupas eram de cor vermelha e detalhes dourados. Tinha um bigode fino que descia até a altura do seu peito. Na cabeça, um chapéu circular feito de palha. Já seu urso pardo que atendia pelo nome de Raijin, era bem forte, tinha agilidade, fazia jus ao seu nome que significa “Deus trovão.”

Eles enfim chegaram ao vale Nhadiuva. E ambos, Raoní e Dacota precisavam saber que local era aquele, foi então que Ubiratã explicou.

Nhadiuva significa “árvore da aranha”. Dizem que dentro do vale há uma aranha que não deve ser domada. Se a virem por lá, é melhor saírem correndo e bem depressa. Não lutem contra ela, não olhem para ela, apenas fujam.

O que devemos fazer quando encontrarmos um animal exceto a aranha? - perguntou Dacota.

Ubiratã olha para Dacota que já está no chão prestes a entrar pela vegetação densa do vale Nhadiuva.

Não temos como dizer que animais vocês encontrarão lá dentro. No Ibaque eles aparecem e desaparecem. Mas quando virem algum, pule sobre ele e torça para conseguir domá-lo. Eles não permitirão que sejam montados, vocês terão que provar para eles que são vocês que mandam. E depois de domados, serão seus para sempre, não podem trocar. - disse Ubiratã já descendo de Anguera.

Agora vamos saber se vocês são ou não chefes guerreiros. - disse Yudi.

Tenham boa sorte. - falou Taú.

Ubiratã entrega para Raoní e para Dacota uma corda feita de cipó e uma vara com aproximadamente dois metros, eram as únicas armas que deveria usar para ataque, defesa e para domar os seus novos companheiros de batalha. Os dois entram na mata densa, se distanciando um do outro, já que cada um deveria achar o seu próprio animal.

Dacota avistou logo um animal que passou rápido por ele. Ele viu que a trilha daquele animal pode ser seguida pela mata machucada. Certo que a sua tarefa já estava perto de terminar, procurou uma maneira de ver melhor aquele animal de tão grande porte ao julgar pela largura do caminho que fazia. Avistou uma árvore e decidiu subir nela para ver melhor a sua presa. Lá de cima da árvore, Dacota avista o seu animal vindo para bem perto dele. Mais um pouco e estaria bem debaixo de seus pés. Seria um salto com a corda esticada lançada ao pescoço daquela presa fácil.

O animal estava buscando alimento entre a vegetação. Era algo diferente dos demais, tinha uma coloração esverdeada, entretanto, com a densa vegetação, não conseguia ver que tipo de animal era. Dacota só sabia de duas coisas: ele era muito grande e pesado. Talvez até maior do que aqueles que estavam com os outros líderes.

Dacota só teria uma chance, ele prepara o seu salto e o executa. O salto é perfeito, direto no pescoço do animal, contudo, durante o seu salto, o sol predominante deu lugar a lua e a escuridão tomou conta do vale. Mas o salto era certo, a corda foi posta ao redor do pescoço daquela fera e, mesmo com a visão prejudicada, Dacota não soltou sua presa. Mas quem disse que seria fácil. O animal corre, salta, faz barulhos, mas o guerreiro Kanaparí não desiste. E depois de alguns minutos lutando para mostra para aquele animal quem mandava, ele agora está dominado, Dacota o guerreiro, grita fazendo com que o seu som de vitória seja ouvido por todos ali.

O sol reaparece e Dacota, de cima de seu animal finalmente pode contemplar a sua presa.

Mas o quê? Eu não acredito!

Raoní está a uma certa distância de Dacota, mas conseguiu ouvir o seu grito de vitória. Agora restava apenas ele conseguir capturar a sua presa. Ele tem a impressão de que está sendo observado. Ouviu o som da mata sendo afastada, tudo indicava que algo vinha por trás dele em sua direção. A mata alta é um problema, como lutar com um animal grande que ele não sabe qual é?

Nosso guerreiro começa a correr na busca de uma clareira para ter uma melhor visão para o combate. Pelo som da mata o ataque é eminente. Raoní encontra uma clareira, mas antes de fincar seus pés na mesma, é atingido nas costas e cai rolando no chão. Ao levantar do ataque sofrido, percebe que deixou cair a vara e a corda, estava sem armas agora, contra seu predador e não mais sua presa.

Era uma onça-pintada. Sim, só que a maior que ele havia visto. Ela balançava a sua cabeça e rosnava ferozmente. Raoní olha para os lados e encontra um tronco seco, caído, no meio da clareira. Se todas as suas habilidades no Ibaque foram aumentadas, ele teria uma chance de correr e se proteger dentro do tronco. Ele pega um pouco de areia e joga em direção aos olhos da onça. Ela fica com a sua visão prejudicada, então Raoní corre e consegue encontrar abrigo dentro do tronco. Foi por pouco, sentiu o vento provocado pelas garras da onça passando por seu corpo no instante que entrava no tronco.

A abertura do tronco deixaria a onça de fora, seu corpo não caberia ali. Raoní arrasta-se de costas olhando para aquelas garras que buscavam o seu corpo a todo custo. O tronco tem um buraco em cima que fornece uma entrada de luz. Ele não poderia passar pelo buraco, mas daria para observar o cenário lá fora. Raoní coloca a sua cabeça para tentar enxergar uma outra saída, entretanto, o que viu foi a onça vindo em sua direção correndo sobre o tronco. Não lhe restava nada mais do que recolher a sua cabeça antes que fosse decapitado.

Caído dentro do tronco, pode ver um dos olhos daquela onça espreitando pelo buraco que antes estava a sua cabeça. Deveria então tentar dar a volta e sair pelo outro lado. Quem sabe poderia ser rápido o bastante para correr e buscar ajuda. Contudo, o que ele ainda não havia percebido, é que ele não estava só dentro daquele tronco.

É uma aranha. Sim o vale Nhadiuva agora era compreendido por Raoní. Ele se arrasta mais uma vez por dentro do tronco agora fugindo da grande aranha. Ao passar pela entrada de luz, percebe que a onça ainda está sobre o tronco. E quando tudo parecia perdido, quando a aranha passa por baixo do buraco no tronco, a onça mete a sua pata e crava suas garras em uma das patas da aranha que presa fica tentando se defender daquele golpe.

Raoní não pensou duas vezes, tinha que sair dali o mais rápido possível. Foi quando viu que a onça conseguiu arrancar a pata da aranha que, machucada, foi para o fundo do tronco, longe de Raoní. Ele agora deveria ser mais ágil ainda. E como que engatinhando, busca a saída daquele tronco. E quando saiu olhou para cima do tronco e não viu mais a onça, mas quando virou em busca de suas armas, deu de cara com ela.

Ele não tinha mais o que fazer. Cansado, aflito e sem saída, sentou encostado ao tronco que por alguns segundos, salvou sua vida. A onça olhava para Raoní meio que de lado. Aproximou dele rosnando e abrindo a sua bocarra. Raoní só tinha uma coisa para fazer, fechou seus olhos esperando o ataque fatal daquele ser incrível. Curiosamente, a onça não o atacou, pelo contrário, passou a cheirá-lo e embora a ameaça ainda fosse imediata, Raoní abriu seus olhos na tentativa de entender o que estava acontecendo. E quando olhou para a onça, reconheceu aqueles olhos, um era azul, já o outro verde. Era a mesma onça que atacou Zaltana na batalha em sua aldeia, era a mesma que o cheirou minutos depois de ter poupado a vida de sua cria.

A onça o reconheceu. Surpreendentemente, ela volta um passo para trás, dobra uma de suas patas e inclinando o seu corpo parecia convidar Raoní para que monte sobre ela. Não tinha mais dúvida, seria a onça-pintada a sua mais nova companheira de combate, ela não precisaria ser domada, ela estava pronta para serví-lo.

Os outros líderes que estão esperando Raoní e Dacota, comentam.

Eles já deviam ter voltado. - disse Taú.

Dacota então reaparece e todos deram muitas gargalhadas do que seus olhos viram.

Garanto que vocês não possuem um animal com garras tão poderosas como as dela. - protestou Dacota.

Por todos os sóis e luas que passaram sobre nossas cabeças, nunca ninguém escolheria tão mal assim. Uma preguiça! Você escolheu uma preguiça? - disse Ubiratã.

Eu estava lá sobre uma árvore e pulei em cima dele, na hora ficou de noite; quando o sol reapareceu então foi que eu vi que animal era. - comentou Raoní com um certo constrangimento.

Tomara que com o tamanho que ela tem, ela seja pelo menos bem rápida. - disse Ubiratã.

Mas e Raoní, ele já voltou? - perguntou Dacota.

O som do rugido de um animal ecoou e todos viraram em direção daquele som. Sobre uma rocha, tendo como fundo o pôr do sol, Raoní estava montado sobre a sua grande onça-pintada. Todos os outros guerreiros foram até ele e lá de cima daquela rocha, todos viram, além do horizonte, a torre que Zaltana estava construindo.

Vamos. Ainda temos muito o que fazer. - disse Raoní.

Todos então descem, uma após o outro. E Dacota veio logo após eles conversando com a sua nova amiga.

Agora vamos não é minha amiga. Olha, temos que conversar sobre a sua leseira. Sabe, nós vamos para uma batalha e por lá as coisas acontecerão bem rápido. Escute, você gosta de folhas não é? Não seria uma outra ervinha não né? Pois se for, precisamos conversar a respeito, ela está lhe fazendo mal.

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