Capítulo 0002

Era um exame de gravidez. Assim que ampliei a foto, reconheci o nome da gestante: Jéssica Pires.

O que realmente me tirou o chão, porém, foi descobrir que ela já estava grávida de três semanas. Ou seja, Fábio e Jéssica tinham feito a inseminação artificial há mais de um mês. Ele nunca pensou em conversar comigo de verdade, muito menos pediu meu consentimento para isso.

Agora fiquei me perguntando por que, então, ele passou um mês inteiro insistindo comigo, todos os dias? Só para tentar amenizar a própria culpa? Afinal, o que eu realmente significava para ele?

Senti minhas forças escapando, as pernas fraquejaram, e quando dei por mim já estava sentada no chão, completamente perdida.

Era como se alguém apertasse meu peito com tamanha força que toda esperança acabava sufocada ali mesmo.

De repente, tudo fazia sentido, o brilho no rosto do Fábio, a pressa depois daquele telefonema... Ele já sabia que o procedimento tinha dado certo, já sabia da gravidez da Jéssica. Só conseguia imaginar se, naquele exato momento, ele não estaria comemorando ao lado dela, lá no hospital.

Fechei os olhos, tentando conter uma tristeza pesada, difícil até de colocar em palavras.

Era inacreditável, mas o homem que amei durante tantos anos estava prestes a se tornar pai do filho de outra mulher.

Dois meses atrás, ele tinha me pedido em casamento e já estávamos planejando tudo para o mês seguinte. O vestido já estava reservado, assim como o salão, o hotel... Passei tanto tempo sonhando com aquele dia, imaginando a gente de mãos dadas, caminhando juntos até o altar.

Agora, tudo havia se desfeito num piscar de olhos, como se meu sonho simplesmente evaporasse bem diante de mim.

O celular vibrou, me arrancando desse mar de pensamentos. Atendi quase sem perceber.

Do outro lado, ouvi a voz animada da Dulce, minha veterana da faculdade:

— Nanda, eu sei que você vai casar, mas queria insistir de novo. Você não quer vir trabalhar no laboratório com a gente? Todo mundo aqui sempre falou super bem do seu talento. O professor vive dizendo que você é perfeita para o nosso time de pesquisa. E olha, sabendo que seu casamento está chegando, ele até sugeriu um esquema diferente, dois meses de trabalho e quinze dias de folga, para você ter mais tempo com seu marido.

Já fazia meses que eu sabia desse novo laboratório em Riviera, o próprio professor me ligou pessoalmente para convidar para equipe. Só havia um problema, quem entrava lá não podia ter contato com o mundo lá fora até o fim do experimento, que às vezes durava semanas, às vezes meses ou até mais.

Naquele tempo, não aceitei porque não queria me afastar do Fábio, nem imaginar minha vida sem ele por tanto tempo.

Mas agora, a imagem do exame de gravidez não saía da minha cabeça. Fábio já era pai do filho de outra.

Se ele nunca pensou de verdade no nosso relacionamento, nem no nosso casamento... Por que tanta insistência? Para quê manter uma ilusão?

Só percebi que continuava apertando o celular com força quando respondi:

— Dulce, eu aceito sim. Posso trabalhar normalmente, não preciso de licença não. Pode dizer que topo seguir o ritmo normal aí do laboratório.

— Sério? Que notícia incrível! — Ela comemorou do outro lado. — O professor vai ficar super feliz. E para quando pensa em vir? Prefere esperar pela lua de mel?

Respondi baixinho, sem coragem nem de encarar meu próprio reflexo:

— Nem precisa esperar. Posso chegar lá no dia do casamento.

Olhei para o calendário sobre a mesa. No dia dez do mês seguinte, um círculo vermelho marcava a data em que, até pouco tempo atrás, eu sonhava viver o dia mais feliz da minha vida. Agora, aquele vermelho virou apenas uma contagem regressiva para o fim.

Faltavam quinze dias.

Achei que ainda daria tempo de encerrar, da forma mais digna possível, uma história que já durava mais de vinte anos.

Em quinze dias, eu e Fábio nunca mais seríamos os mesmos e talvez, nunca mais voltássemos a nos ver.