Capítulo 0003

Naquela noite, Fábio não voltou para casa.

Eu também não procurei saber de seu paradeiro. Bastava olhar os stories da Jéssica para entender tudo. Assim que saíram do hospital à tarde, foram direto para a casa dela, onde deram a notícia da gravidez à família.

Numa das fotos, a avó da Jéssica segurava a mão do Fábio com carinho, enquanto ele, sorridente e com um olhar terno, acariciava a barriga dela.

Olhei aquela cena e, inevitavelmente, lembrei que, durante os cinco anos em que estivemos juntos, Fábio só foi à minha casa uma única vez, justamente após aceitar meu pedido de casamento. Antes disso, apesar de a casa dos meus pais ficar a menos de meia hora, ele nunca fez questão de aparecer. Seu argumento era sempre o mesmo que não gostava de conviver com os mais velhos, se sentia desconfortável.

Mesmo naquela visita tão rara, seu comportamento era apenas educado, mas jamais caloroso. Longe de ser o mesmo homem caloroso e atencioso que aparecia agora nas fotos ao lado da família da Jéssica.

Abafei o amargor no peito e desliguei o celular.

No dia seguinte, marquei de encontrar alguns amigos e contei que o casamento estava cancelado. Lembrei de como, na época em que ainda fazíamos planos, o próprio Fábio dizia não ver sentido em festas de casamento e achava aquilo tudo uma formalidade sem propósito. Só concordou com uma cerimônia pequena porque insisti. Chamamos apenas os familiares próximos e alguns amigos de verdade.

Todo mundo ao nosso redor sabia o quanto eu gostava do Fábio. Por isso, a reação dos meus amigos foi de pura surpresa.

— Depois de tanto tempo tentando conquistar o Fábio, agora que conseguiu, mas você desiste assim fácil dele?

Essas palavras prenderam na garganta, misturando amargor e saudade.

Desistir? Nunca seria simples. Passei vinte anos correndo atrás dele, esperando que finalmente aceitasse se casar comigo. Como deixar tudo isso para trás de repente?

Mas, no fundo, sempre soube que nossa relação nunca foi equilibrada. Eu sempre fui quem dava os passos à frente, quem tentava me encaixar no ritmo dele, enquanto Fábio jamais parou para me esperar.

No começo, isso não me incomodava. Eu acreditava que, se levei vinte anos para convencê-lo a se casar comigo, também conseguiria, com o tempo, conquistar de verdade seu coração. Imaginava que, depois do casamento, teria todo o tempo do mundo para esperar o momento em que ele enfim se abriria para mim.

Tudo mudou há seis meses, quando apareceu a tal Jéssica, endeusada como "salvadora" da vida dele. Foi então que percebi que Fábio não era indiferente com todo mundo; com ela, sua gentileza e doçura eram espontâneas. Para mim, por outro lado, sobravam poucas palavras e quase nenhum sorriso verdadeiro.

Na época, tentei me convencer de que aquilo era só gratidão, afinal, Jéssica o tinha salvado. Jamais imaginei que, ao saber do câncer dela, Fábio aceitaria ter um filho só para deixar um herdeiro. O pior era que fingiu pedir minha opinião, enquanto, na surdina, já tinha resolvido tudo e feito a inseminação.

Naquele momento, eu soube com clareza que minha história com Fábio não tinha como continuar. Era doloroso arrancar vinte anos de sentimentos do peito, mas seguir fingindo machucaria ainda mais.

Não revelei aos meus amigos o motivo real e só disse que passaria a trabalhar num laboratório de pesquisa onde, por muito tempo, ficaria sem poder me comunicar com ninguém fora de lá. Como uma espécie de despedida, fiquei com eles até tarde, aproveitando cada momento.

Quando finalmente voltei para casa, encontrei Fábio chegando também. Assim que sentiu o cheiro de álcool em mim, franziu a testa, se afastou alguns passos e cobriu o nariz, irritado.

— Fica longe, Nanda. Não quero esse cheiro de bebida em mim.

Soltei um sorriso irônico. No fundo, imaginei que o medo de "contaminar" Jéssica agora grávida, sua prioridade absoluta, pesava muito mais do que qualquer preocupação comigo.

Ele já nem tentava esconder o que realmente importava.

Já que ele não pretendia abrir o jogo, eu tampouco me dei ao trabalho de tocar no assunto. Fui direto para o banho, sem perder tempo.

Quando saí, vi Fábio no sofá, sorrindo enquanto digitava no celular, claramente animado. Só precisei de um olhar para ter certeza de que não era comigo. Resolvi ir direto para o quarto.

Mas, antes que eu fechasse a porta, ouvi sua voz:

— Preciso conversar uma coisa com você.

Parei no mesmo instante. Fazia um mês que não ouvia aquela frase, foi exatamente assim que, pela primeira vez, ele mencionou a ideia absurda de ter um filho com Jéssica. Na época, passamos semanas em discussões. Agora que ela já estava grávida, o que mais ele teria a tratar comigo?