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Capítulo 0004

Author: Anonymous
— Amanhã não precisa ir tirar as fotos do casamento. — Fábio avisou em tom baixo.

Olhei para o calendário em cima da mesa, onde o dia seguinte estava marcado com "fotos do casamento" em letras garrafais.

Embora eu não soubesse exatamente o motivo do cancelamento, no fundo, esse casamento já não existia mais para mim. Mesmo se Fábio não tivesse dito isso, eu mesma encontraria uma desculpa para cancelar. Ele antecipar o assunto só facilitou as coisas.

— Tudo bem, vou avisar o fotógrafo para cancelar. — Acenei com calma.

Fábio ficou surpreso. Não esperava que eu aceitasse tão fácil, sem protestar. Talvez imaginasse que eu fosse questioná-lo, afinal, eu mesma planejei todos os detalhes durante meses. Até o fotógrafo, que só aceitou por um bom extra para furar a fila, escolhido a dedo para sair tudo perfeito.

Mas, vendo minha reação tranquila, ele ficou calado, me encarando com um misto de estranhamento e hesitação.

— Não precisa cancelar. — Ele voltou, escolhendo as palavras lentamente. — A Jéssica disse que provavelmente nunca vai se casar na vida, queria muito tirar ao menos uma foto de noiva comigo... Só para ter uma lembrança. Assim, a gente resolve essa pendência. Amanhã deixo a Jéssica fazer as fotos comigo, e depois a gente marca novas para nós dois.

A naturalidade com que ele falou, como se estivesse decidindo o prato do almoço, era a mesma de quando anunciou, semanas atrás, que teria um filho com Jéssica por inseminação. Por fora parecia consultar, mas, no fundo, tudo já estava resolvido, só me avisava por formalidade.

Baixei os olhos, disfarçando a ironia no olhar.

Depois? Fábio sequer imaginava que só me restavam treze dias em Florínea. Nem fazia ideia de que não existia mais esse "depois".

Sussurrei que tudo bem e voltei para o quarto, pronta para dormir. Se esse casamento acabou, tanto faz com quem ele tirasse essas fotos. Não me dizia mais respeito.

Fábio ficou olhando minhas costas, sentindo um desconforto estranho. Minha calma parecia anulá-lo, tornando inúteis todos os argumentos que havia preparado para um confronto. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, o celular dele tocou. Era a Jéssica.

Ele esqueceu as dúvidas, foi atender na varanda.

No dia seguinte, acordei quando ele já se preparava para sair. Fábio calçava os sapatos e só comunicou, sem emoção:

— Depois das fotos, eu e Jéssica vamos viajar uns dias. Ela sempre quis conhecer Hokkaido e vou levar ela. O casamento pode fazer do jeito mais simples. Não vou conseguir participar de ensaio nem de decoração. Decide tudo aí, não precisa me consultar.

Dei mais uma mordida no pão, respondi sem pestanejar:

— Pode deixar.

Tudo simples. Esse casamento não teria fotos, nem convidados, nem cerimônia e, no fundo, nem noiva.

Fábio percebeu meu silêncio, ficou olhando para mim, buscando algum sinal, até que completou: — Depois do casamento, a gente vai para Europa em lua de mel. Lembro que era seu sonho.

Se fosse alguns meses atrás, eu teria ficado animada, já pesquisando roteiro. Fábio sempre recusou viajar comigo, dizia que cansava, que não gostava.

Agora, segui comendo, sem responder. Sem casamento de verdade, qual o sentido de pensar em lua de mel?

Sentindo o clima estranho, ele ainda quis dizer algo, mas quando viu as horas no relógio, saiu apressado, só jogou um "quando eu voltar a gente conversa" antes de bater a porta.

Peguei o calendário e rabisquei um X enorme nas palavras "fotos do casamento".

Restavam doze dias.

Depois do café, comecei a separar minhas coisas, aproveitando para me livrar do que não fazia mais sentido. Organizei as poucas fotos do álbum, tirei o pó do projetor, que nunca usamos, e pus de lado as roupas de casal, que ficaram guardadas sem nunca terem sido usadas.

Em cinco anos juntos, cada objeto dessa casa foi escolhido por mim, pouco a pouco, transformando o vazio em lar e tentando criar lembranças. Mas, olhando de verdade, percebi que muita coisa Fábio nunca tocou. Ele sempre dizia que, mesmo namorando, precisava de espaço, não curtia coisas de casal porque se sentia preso, sufocado.

Suspirei e continuei. Quando eu fosse embora, nada disso importaria para ele. Melhor já sumir com tudo. Assim, eu mesma destruía as lembranças que só machucavam.
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