CAPÍTULO 3

Érico decidiu ficar para me resgatar. Ele removia as pedras sobre minha cabeça com todas as forças, mas sozinho, seu esforço era como uma gota no oceano.

Ainda assim, ele continuava me encorajando, dizendo para eu não me preocupar.

Fui tocada pelo calor da sua atitude.

Não sei quanto tempo se passou até que vi Ícaro passar apressado, carregando Luna nos braços, com o rosto cheio de aflição.

Luna estava deitada, frágil, no colo dele, mas parecia estar completamente ilesa.

Os olhos de Ícaro estavam fixos apenas nela, como se tivesse esquecido que sua esposa e seu filho ainda estavam soterrados ali.

Érico, com os dedos sangrando de tanto mover pedras, não aguentou mais e o confrontou com raiva, apontando para mim ali perto:

— Capitão, sua esposa está grávida e ainda está presa nos escombros! E você só pensa em salvar sua ex-namoradinha? Cadê sua humanidade?!

Na verdade, eu mal conhecia o Érico. Só o tinha visto algumas vezes no alojamento quando vinha visitar Ícaro.

Esse rapaz sempre foi muito educado, me chamando de Talita com um jeito tão espontâneo e carinhoso.

Mas, na sequência, Ícaro ficou furioso e gritou com a cara fechada:

— A Luna machucou os dedos! Você não sabe o que uma mão significa para uma cirurgiã clínica? Isso pode acabar com a carreira dela! E além do mais, são a minha esposa e meu filho. Isso tem o quê a ver com você?!

Depois ele olhou para mim, depois para Érico, e uma expressão sarcástica passou por seu rosto:

— Estou vendo que você está se importando demais com a Talita... Não me diga que está tendo um caso com essa vadia pelas minhas costas?

Por pouco não ri de nervoso.

Como ele conseguia dizer esse tipo de absurdo enquanto carregava outra mulher nos braços, recusando-se a me resgatar?

Érico também ficou sem palavras de tão indignado.

Mesmo assim, ele não me abandonou e insistia que outros viessem me ajudar.

Ícaro o encarou com frieza e advertiu:

— Érico, você é só um novato na equipe de resgate. Toda a sua carreira está nas minhas mãos. Se você continuar desobedecendo ordens, eu te transfiro pro fronteira. E você sabe como é duro lá!

Mesmo diante dessa ameaça, Érico não recuou.

Então Ícaro soltou em tom grave:

— Se não pensa em você, pensa nos seus pais, que ainda trabalham na minha família.

A mãe de Érico era empregada doméstica, e o pai, segurança. Ambos trabalhavam na casa da família Horta havia mais de vinte anos.

Ícaro atingiu seu ponto fraco direto. Érico empalideceu e hesitou.

Vendo isso, Ícaro pareceu satisfeito, acenando levemente com a cabeça:

— Você vivia tratando ela com todo respeito, mas cuidado pra não se deixar enganar. Ela sempre foi uma patricinha arrogante. Só porque tinha dinheiro, achava que podia humilhar todo mundo!

— Uma vez, só pra Luna perder uma competição importante, trancou ela numa sala escura de equipamentos, mesmo sabendo que ela tinha claustrofobia. A Luna ficou doente por dias, perdeu a chance da competição e a vaga de mestrado!

— Depois, quando Luna se afastou de mim por um desentendimento, ela aproveitou a brecha, armou tudo e engravidou de propósito para me obrigar a casar com ela. Agora quer repetir a dose, fazer drama e me forçar a salvá-la, mesmo que isso custe a vida da Luna!

— Essa mulher é calculista, adora bancar a vítima. Então deixa ela aí, nos escombros!

Depois de dizer isso, ele foi embora com Luna nos braços, sem olhar para trás.

Érico já estava com lágrimas nos olhos, a voz tremendo:

— Talita, não tenha medo. Eu vou dar um jeito de tirar você daí!

Não demorou até que eu sentisse a terra tremer de novo.

As pedras começaram a cair. Poeira entrou nos meus olhos e boca.

Os blocos pesados se deslocaram com força.

Senti o som dos ossos se deslocando, meus órgãos pareciam estar sendo esmagados.

O calor da dor se espalhava pela cabeça e pelas pernas. Minha respiração começou a falhar.

Ainda ouvi a voz de Érico, gritando por mim a poucos metros de distância, mas meu corpo já não tinha mais forças para responder.

O mundo escureceu.

Minha consciência... foi completamente engolida.