Capítulo 2

Embora Bryn fosse tio de Daniel, ele tinha apenas quatro anos a mais do que Daniel e, desde pequenos, sempre fomos próximos, quase como amigos de infância.

No entanto, depois de um acidente de carro que deixou Bryn em uma cadeira de rodas, Bryn gradualmente desapareceu da minha vida.

Na minha vida passada, quando Daniel me aprisionou no porão, Bryn foi a primeira pessoa a me encontrar.

Ele gritou “Não tenha medo!” várias vezes enquanto batia na porta com força, tentando me tirar de lá. Eu me lembro claramente de ter visto que suas pernas não estavam paralisadas.

Logo depois, Daniel chegou com um grupo de homens, que espancaram Bryn até deixá-lo coberto de sangue.

Eu nunca vou esquecer o que Daniel disse naquele dia:

— Tio, lembra quando mandei alguém bater no seu carro? Pena que não te mataram. Você queria roubar os negócios do meu pai, e agora quer roubar minha mulher? Como você pode ser tão patético?

Bryn, no entanto, não mostrou raiva. Ele simplesmente se ajoelhou e implorou:

— Solte a Iolanda. Eu faço o que você quiser!

Daniel riu friamente antes de agarrar a cabeça de Bryn e bater com força contra a parede. O som surdo do impacto ecoou, horrível.

Mas o que mais me marcou foi a frase que Bryn disse enquanto estava no chão, sangrando:

— Iolanda, eu procurei por você por tanto tempo.

Por isso, como alguém poderia dizer que escolher Bryn era uma loucura? A verdadeira loucura era ter confiado em Daniel. Agora, eu faria com que ele pagasse por tudo.

Recobrando os pensamentos, olhei para Rui e Estella e declarei:

— Eu já tomei minha decisão. Vou me casar com Bryn.

Ao perceberem minha determinação, ninguém tentou mais me convencer. Rui e Estella, mesmo relutantes, assentiram em concordar.

Depois de tomar essa decisão, senti um alívio inesperado. Resolvi ir até o bar que Bryn costumava frequentar para encontrá-lo, mas, ao chegar na entrada, me deparei com Daniel e Rebeca.

Daniel, com um sorriso despreocupado, imediatamente mudou de expressão ao me ver. Ele parecia irritado:

— Iolanda? Por que você é tão irritante? Não importa onde eu vá, você sempre aparece!

Os amigos dele, sempre prontos para humilhar, começaram a rir alto:

— Eu disse que ela ia aparecer hoje!

— Aposto que, se Mestre Daniel mandar, ela se ajoelha agora mesmo para lamber os sapatos dele!

Daniel sorriu maliciosamente ao ouvir isso e começou a balançar o pé, como se estivesse esperando minha reação.

Senti uma onda de nojo crescer dentro de mim. Respirei fundo e, com frieza, passei direto por ele:

— Sai da minha frente.

Daniel ficou paralisado por um momento, mas logo me segurou pelo braço:

— Iolanda, eu já sei que você usou o investimento da sua família para me forçar a casar com você. Agora está tentando se fazer de difícil? Você acha que, com essa pose de superioridade, eu vou começar a te notar?

Eu me virei e o encarei com indiferença. Fui direta:

— Eu não quero me casar com você.

Daniel ficou em silêncio por alguns segundos antes de soltar uma risada sarcástica:

— Não quer? O Grupo Costa já recebeu o investimento do seu pai, e você ainda tem coragem de dizer que não quer? Você tem ideia de como é vergonhoso o jeito como você se humilha para conseguir o que quer?

Eu assenti calmamente:

— Sei muito bem. Por isso mesmo, não vou me casar com você.

Ao ouvir as minhas palavras, Daniel parecia confuso, mas antes que pudesse responder, Rebeca, com sua voz sempre melosa, interveio:

— Daniel, acho que a Iolanda só não quer me ver aqui. Se você não se casar com ela, o Grupo Costa vai... Ah, esquece, eu vou embora.

Daniel largou meu braço de imediato e puxou Rebeca para seus braços. Ele a abraçou com força e disse com um tom cheio de desprezo:

— Quem ela pensa que é? Mesmo que eu me case com ela, nunca vou amá-la. Rebeca, meu amor, amanhã vamos tirar nossas fotos de casamento. Para mim, você sempre foi a minha verdadeira esposa.

Os amigos de Daniel começaram a assobiar e aplaudir, parabenizando Rebeca com entusiasmo.

Daniel me lançou um olhar triunfante, claramente esperando algum tipo de reação minha. Ele sempre gostou de me ver humilhada, mas, desta vez, não havia nada dentro de mim além de desprezo.

— Pode se casar com quem quiser. Não me importa. — Respondi.

Quando me virei para sair, Rebeca bloqueou meu caminho com uma expressão de falsa preocupação:

— Iolanda, não precisa fingir. A mídia já noticiou hoje à tarde sobre a união entre suas famílias.

Ela fez uma pausa dramática antes de continuar:

— Aquela história de você mandar homens me intimidarem... eu já esqueci. Mas, por favor, trate bem o Daniel daqui em diante.

Sorri friamente. Essa história dos “homens” era uma farsa criada por Rebeca. Ela mesma contratou atores para se fazer de vítima e, depois, me incriminou. Eu até tentei me defender na época, mas Daniel nunca acreditou em mim. Agora, nem valia a pena gastar energia explicando.

Daniel, porém, ficou imediatamente irritado com o comentário de Rebeca. Ele apontou para mim e disse:

— Para quê implorar para ela? Uma mulher sem escrúpulos como ela nunca vai chegar aos seus pés.

Com um tom cheio de desprezo, ele me lançou um último aviso:

— O casamento com você é só uma troca de interesses. Mas, se eu souber que você fez algo contra Rebeca de novo, eu juro que...

Antes que ele terminasse a frase, eu o interrompi com um olhar indiferente:

— Tá bom, entendi. Se não tem mais nada, eu vou indo.

Dito isso, entrei no bar sem olhar para trás.

Que homem ridículo. Em poucos dias, ele ainda ia ter que me chamar de “tia” com todo respeito.