Capítulo 2

Embora meu pai não estivesse satisfeito com minha escolha, ao ver minha expressão determinada, ele não tentou mais me dissuadir.

Apenas suspirou e tentou me consolar.

— Se não viver bem depois de se casar com um membro da Tribo Serpente, pode pedir ajuda à Débora.

Mas, ao saber da minha escolha de me casar com a Tribo Serpente, Débora não se conteve e me ridicularizou abertamente.

— Irmã, mesmo que você não possa se casar com Samuel, não precisava escolher a já decadente Tribo Serpente, não é? Cuidado para não morrer de fome antes mesmo de dar à luz, ouvi dizer que até comida é um problema por lá. A Tribo Lobo é rica, até a água do banho é preparada com poções raras. Se sua vida ficar muito difícil, posso te mandar algumas sobras das minhas refeições, viu?

Assim que terminou de falar, ela começou a rir alto, cobrindo a boca, sem se importar com os olhares estranhos ao redor.

Na visão de Débora, a Tribo Lobo era cheia de recursos e Samuel era devotado, por isso, na minha vida passada, consegui engravidar e dar à luz rapidamente.

Mas ela não sabia que a união entre humanos e Bestiais era naturalmente difícil para gerar filhos, além de Samuel ser extremamente obcecado por descendentes.

Na vida passada, quando não engravidei após meio ano, Samuel começou a descontar a frustração em mim, me torturando dia e noite.

Só depois que usei um ritual secreto para engravidar e dei à luz Alexandre, garantindo a liderança da Tribo Lobo, Samuel finalmente me deixou em paz.

Sorri levemente.

— Não precisa se preocupar comigo, irmã. Já que escolhi meu próprio marido, certamente não me arrependerei, não é mesmo?

— Glória, como você se sente depois de ter escolhido um pobretão?

Vendo que eu permanecia calma, Débora ficou tão irritada que virou todos os doces da mesa.

— Eu serei a primeira a engravidar! Meu filho certamente será o próximo líder da Aliança Híbrida!

Não dei atenção ao seu ataque de nervos e fui me preparar, pois o casamento aconteceria em três dias.

Débora acertou em uma coisa: a Tribo Serpente realmente estava muito pobre. Eu temia que nem conseguissem pagar pelo vestido de noiva, então decidi me preparar por conta própria.

Mas não esperava que, à noite, Felipe viesse pessoalmente me entregar o vestido de noiva.

Foi a primeira vez que observei atentamente o rosto de Felipe.

Sua pele era pálida, quase sem cor. Os olhos, finos e austeros, tinham um tom esverdeado profundo e misterioso. O sinal de lágrima no canto dos olhos dava um toque de charme à face fria.

Ao abrir a caixa, vi um vestido longo de tule verde-escuro, com escamas de Serpente brilhando discretamente no busto.

Nunca tinha visto um vestido tão bonito, fiquei hipnotizada por um instante.

— Srta. Glória, este vestido foi costurado à mão pelas bordadeiras da nossa Tribo Serpente. Cada escama representa uma bênção dos nossos membros.

O olhar de Felipe carregava uma distância proposital, como se ele não fosse o meu futuro esposo.

— É a primeira vez que a Tribo Serpente se casa com um humano. Se houver algo inadequado, por favor, me avise.

— Obrigada, gostei muito.

Quando eu estava prestes a guardar o vestido, Débora entrou de braços dados com Samuel, exibindo-se.

— Irmã, será que esse é o único vestido que você tem para escolher? Não é como Samuel, que preparou dez vestidos de noiva para mim.

Samuel olhava Débora com olhos cheios de carinho.

Débora só sabia que a Tribo Lobo era devotada e fiel, mas não sabia que essa devoção vinha do instinto biológico, assim como a obsessão por descendentes.

Se ela não conseguir ter filhos, será que Samuel continuará tão apaixonado?

A mão de Felipe, segurando o cajado de Serpente, parou por um instante. Ele me olhou seriamente e disse:

— É a nossa Tribo Serpente que está privando a Srta. Glória. Posso lhe garantir, eu, Felipe, nunca a decepcionarei nesta vida.

Débora bufou friamente.

— Qualquer um sabe se expressar bem. Quero ver se vocês vão conseguir ter filhos!

Débora não parava de falar em ter filhos. Na vida passada, a infertilidade era uma ferida aberta nela, por isso agora estava obcecada com gravidez, morando na casa de Samuel antes mesmo do casamento.

De certa forma, eles combinavam quando o assunto era gerar descendentes.

— Irmã, concentre-se no seu próprio casamento. Quem não sabe pode até pensar que você está interessada no meu noivo.

Dei um sorriso indiferente para Débora e saí, de mãos dadas com Felipe, deixando os dois com expressões constrangidas.

Logo atrás, ouvi a voz de Débora manhosa com Samuel, palavras como “engravidar” e “filho” ainda podiam ser escutadas.

Minha tola irmã, mesmo depois de viver tudo de novo, ainda só pensa em se elevar através dos filhos.