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Capítulo 3

Author: Eduardo Nunes
A voz fria de Felipe soou ao meu ouvido.

— Srta. Glória, eu sei que foi por necessidade que me escolheu, mas garanto que, dentro das minhas possibilidades, jamais permitirei que seja injustiçada.

Ao ouvir sua voz, virei-me instintivamente e, sem querer, acabei esbarrando no peito de Felipe.

Um aroma estranho invadiu minhas narinas.

Olhei para ele e, palavra por palavra, falei com seriedade:

— Felipe, fui eu quem escolheu você voluntariamente. E, daqui pra frente, me chame de Glória, não precisa ser tão formal.

Vi um brilho diferente passar pelo olhar de Felipe.

— Está bem, Glória.

Três dias depois, o casamento aconteceu conforme o previsto.

Ambas as cerimônias foram realizadas no mesmo restaurante.

Desta vez, a cerimônia da Tribo Lobo foi ainda mais grandiosa do que na vida passada, chegando a convidar até mesmo a reclusa Tribo Fênix para uma apresentação, e todas as grandes famílias compareceram.

Já do lado da Tribo Serpente, tudo parecia mais tranquilo, sem convidados extras, mas todos ali estavam felizes, casar-se com um humano significava a esperança de disputar o poder da Aliança.

Depois da cerimônia, cruzei de frente com Débora, que levantou o pescoço de propósito para que eu visse as marcas sugestivas em sua pele.

— Irmã, eu nem sabia que o pessoal da Tribo Lobo tinha tanta energia. Acho que logo vou dar um filho à Tribo Lobo.

Sorri levemente.

— Então desejo que realize seus desejos, irmãzinha.

Débora encarava a gravidez de maneira excessivamente simples, afinal, humanos e Bestiais são espécies diferentes, e para engravidar de forma natural, normalmente levaria pelo menos um ano.

Na vida passada, ela achou que eu engravidei facilmente e, por isso, acreditou que com ela seria igual. Ela já havia anunciado à Tribo Lobo que engravidaria em menos de seis meses.

Diante da convicção de Débora, até Samuel acreditou sem hesitar.

Minha postura tranquila, aos olhos de Débora, se transformou em provocação.

— Deixe pra lá, você não entenderia mesmo. Afinal, casou-se com um bando de mendigos.

Ela lançou um olhar de desprezo aos membros da Tribo Serpente que estavam ali perto e passou por mim, erguendo o vestido.

Segurei seu braço, impedindo sua passagem.

— Débora, peça desculpas. Peça desculpas à Tribo Serpente.

Débora ficou furiosa, sacudiu meu braço com força e gritou:

— Glória, você enlouqueceu!

Começamos a discutir no salão e, com isso, os convidados que ainda não haviam ido embora pararam para assistir à cena.

No fim, foi meu pai quem interveio, esclarecendo a situação e forçando Débora a pedir desculpas à Tribo Serpente.

Apesar de a Tribo Serpente ser considerada uma das mais fracas entre os Bestiais, quando enfrentam humilhação humana, eles se unem.

Antes de sair, Débora me lançou um olhar cruel e murmurou em voz baixa:

— Glória, desta vez eu vou vencer.

Na noite de núpcias, fiquei paralisada ao ver o corpo de Felipe despido.

Ninguém me avisou que Serpentes têm dois órgãos genitais!

Quando me viu sentada imóvel na cama, Felipe pensou que eu não queria continuar. Com o rosto pálido, começou a pegar as roupas do chão para se vestir.

— O que está fazendo?

Arranquei as roupas das mãos de Felipe, demonstrando meu desagrado.

— Achei... achei que você não queria.

Felipe ficou completamente perdido, nu diante da cama, com os olhos verde-esmeralda escurecidos.

Se ele não tomasse a iniciativa, então eu teria que agir primeiro.

Abracei o pescoço de Felipe, puxando-o para a cama. Ao encostar em seu corpo, senti novamente aquele aroma suave e familiar.

— Felipe, você é tão cheiroso.

Falei sem pensar, expressando o que sentia.

Felipe ficou alguns segundos sem reação, as pontas das orelhas ficaram coradas, e logo ele passou a me beijar com intensidade, deslizando dos meus cabelos até o meu corpo.

De mãos dadas, desfrutamos daquele prazer.

Sempre achei que os membros da Tribo Lobo, por serem robustos, seriam os melhores parceiros.

No entanto, a Tribo Serpente possuía um encanto único, ficamos juntos até o amanhecer, e só então Felipe me deixou dormir.

Três meses depois, a notícia de que Débora estava grávida chegou à família.

Fiquei atônita ao saber que, em milhares de anos, jamais um humano e um Bestial conseguiram conceber um filho em tão pouco tempo.

Se eu não tivesse visto com meus próprios olhos a barriga de Débora, não teria acreditado.

A Tribo Lobo realizou uma grande celebração para o filho que ainda não nasceu, convidando as principais famílias para felicitar.

— Jamais pensei que nossos ancestrais da Tribo Lobo fossem tão abençoados: em apenas três meses já teremos um descendente!

Samuel, com a taça em mãos, exibia um sorriso de vitória.

Vários convidados vieram bajulá-lo, para todos, estava claro que o próximo líder da Aliança seria da Tribo Lobo, e aquele era o momento perfeito para buscar favores.

Pela hierarquia, eu deveria sentar-me junto a Felipe, no fim da mesa.

Mas Débora pediu especialmente a Samuel que me colocasse ao seu lado, ela não perderia a chance de se exibir para mim.

Acariciando o ventre, ela me lançou um olhar provocador.

— Irmã, já passaram três meses e sua barriga não se mexeu nem um pouco. Está vendo? Você não tem sangue puro como o meu, nem a barriga é igual à minha.

A fisiologia Híbrida é particular, bastam dois meses para dar à luz.

Fazendo as contas, provavelmente nasceria no mês seguinte.

Débora já estava bem mais gorda, com o ventre inchado.

Ela não sabia que os Híbridos já nascem grandes, se não tomasse cuidado com a alimentação agora, sofreria muito na hora do parto.

Na vida passada, mesmo tentando controlar o peso, sofri um dia e uma noite inteiros para dar à luz, sentindo dores a ponto de querer morrer.

Mas, ao ver meu filho nascer e dormir tranquilo em meus braços, não me arrependi.

Ergui a taça e tomei um gole de vinho, dizendo friamente:

— O menor tempo de gestação registrado na história foi de um ano. Você conseguiu em apenas três meses. Que métodos usou, só você sabe.

Débora virou-se abruptamente para mim, com o olhar vacilante.

— Glória, o que quer dizer com isso?

Bastou um pequeno teste e ela se desestabilizou, incapaz de manter a calma.

— Desejo um parto tranquilo para você, irmã!

Brindei a ela, depois fui buscar Felipe para irmos embora.

Um mês depois, Débora passou três dias e três noites em trabalho de parto até que a criança nascesse.

Mas, passados sete dias, a Tribo Lobo ainda não havia apresentado o bebê publicamente, e até mesmo meu pai foi impedido de visitar Débora.

Com certeza, esse bebê tinha algum problema.Duas semanas depois, meu pai me chamou de volta para casa.

Antes de sair, notei o olhar preocupado de Felipe e, só então, pedi que me acompanhasse.

Na sala, Débora estava sentada no chão, chorando copiosamente, com um filhote de Lobo Vermelho nos braços.
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