Capítulo 2

Alice tentou mentalizar o celular e, imediatamente, ele reapareceu em sua mão, saindo diretamente do Espaço.

Ao ver isso, Alice não conseguiu conter sua felicidade. Era exatamente como ela havia imaginado! Depois de anos lendo romances e histórias de fantasia, ela reconheceu na hora: aquilo era o lendário Sistema, Toque de Ouro!

Ela rapidamente aceitou sua nova habilidade, o Toque de Ouro, e começou a transferir freneticamente tudo o que conseguia para o Espaço em sua mente.

Logo, Alice percebeu a lógica por trás do sistema: os objetos eram avaliados com base no preço original de compra. Não importava se estavam usados, desgastados ou desmontados, o valor seria o mesmo da época da sua aquisição.

Sem perder tempo, ela começou a desmontar e carregar tudo que podia.

"Beep! Detectado item: joias de ouro, valor 58 mil reais. Recompensa: 58 metros cúbicos!"

"Beep! Detectado item: copo, valor 39 reais!"

"Beep! Detectado item: calendário, valor 10 reais!"

"Beep! Detectado item: pequena mesa de estudo, valor 369 reais. Recompensa: 4 metros cúbicos!"

"Beep! Detectado item: conjunto de mesa e quatro cadeiras, valor 25 mil reais. Recompensa: 25 metros cúbicos!"

"Beep! Detectado item: lixeira, valor 15 reais!"

Em menos de dez minutos, Alice havia transferido quase tudo que havia na casa. Desde itens pequenos, como sapatos, chapéus, roupas, panelas, talheres, potes de armazenamento, álbuns de fotos, cortadores de unha, até móveis grandes, como mesas, cadeiras, camas e armários. Tudo que podia ser movido foi parar no Espaço.

Até mesmo as maçãs podres que Ricardo e sua família haviam trazido mais cedo foram recolhidas e jogadas no sistema.

"Beep! Detectado item: 5 quilos de maçãs podres, valor 2,50 reais!"

Ao ouvir o valor, Alice cuspiu com desdém. Aquela família miserável teve a audácia de dizer que as maçãs eram "importadas e de alta qualidade", enquanto pediam uma casa de 3 milhões pelos seus caprichos! Que gente nojenta, pensou ela.

Mas, naquele momento, ela não se importava mais. Até a menor coisa tem valor. Então, guardou as maçãs mesmo assim.

Quando a casa ficou praticamente vazia, Alice começou a olhar para os itens que não podiam ser simplesmente carregados.

"Beep! Detectado item: vaso sanitário, valor 1.999 reais!"

Com força, Alice desmontou o vaso sanitário e o transferiu para o Espaço.

Alice sempre teve uma força considerável, mas, comparada à versão dela mesma que havia lutado por anos no apocalipse, seu corpo atual parecia fraco e delicado. Ela percebeu que precisaria treinar e fortalecer seu físico o mais rápido possível.

Depois do banheiro, ela continuou:

"Beep! Detectado item: pia do banheiro, valor 699 reais!"

"Beep! Detectado item: coifa, valor 2.599 reais!"

"Beep! Detectado item: fogão embutido, valor 489 reais!"

"Beep! Detectado item: porta de segurança, valor 1.589 reais!"

Alice não deixou nada para trás. Nem mesmo os parafusos foram poupados.

"Beep! Detectado item: janela de vidro, valor 400 reais!"

"Beep! Detectado item: piso de madeira, valor 150 reais!"

Em uma hora, Alice havia desmontado completamente a casa. Exceto pelas paredes, que eram fixas, todo o restante foi transferido para o Espaço. Pisos foram arrancados, janelas e portas desparafusadas, e até os azulejos foram quebrados e levados.

"Beep! Restam 3 segundos no cronômetro!"

Ao ouvir a contagem regressiva, Alice pensou rapidamente e correu para a porta da frente. Ela subiu no corrimão e alcançou a lâmpada do corredor.

"Beep! Detectado item: lâmpada, valor 5 reais!"

"Tempo esgotado!"

"Total acumulado: 289 metros cúbicos!"

Satisfeita, Alice acariciou Thor e sorriu:

— Thor, vamos embora.

Pouco tempo depois que Alice saiu, Ricardo trouxe sua esposa grávida para ver a "nova casa".

— Amor, esta é a nossa nova casa! É no centro da cidade, tem mais de 100 metros quadrados, com apenas dois apartamentos por andar. Nosso vizinho ainda nem se mudou, então podemos usar o corredor todo! A iluminação natural é ótima, e essa é a melhor planta do condomínio. Além disso, fica a apenas 100 metros do seu trabalho! Se quiser, podemos nos mudar hoje mesmo. Já tem móveis e eletrodomésticos! — Disse Ricardo, exibindo-se.

Uma comitiva de pessoas seguiu Ricardo até o terceiro andar.

Quando eles finalmente entraram no apartamento, todos ficaram boquiabertos.

A casa, que antes estava mobiliada, agora estava praticamente vazia. Não havia móveis, portas, janelas, nem mesmo as luminárias no corredor foram deixadas!

A esposa de Ricardo, ao ver o estado do lugar, virou-se imediatamente e, com uma expressão de nojo, disse:

— Hum! É isso que vocês querem que eu aceite? Um apartamento no osso? Vocês estão esperando que eu pague pela reforma? Deixem-me avisar: se essa casa não for completamente reformada e a escritura passada para o meu nome, não tem casamento!

A avó de Ricardo sentiu o sangue subir à cabeça de tanta raiva. Ela quase teve um colapso ao pegar o celular para ligar para Alice e perguntar o que ela tinha feito.

Apesar de a família ter planejado comprar móveis novos e reformar o lugar, eles jamais imaginaram que Alice desmontaria o apartamento a tal ponto! O piso, que havia sido colocado pela mãe de Alice e ainda estava em ótimas condições, também havia desaparecido. Nada restara.

Mas, para a infelicidade deles, Alice não atendia as ligações.

Enquanto isso, Alice estava a quilômetros de distância, em frente a um abrigo antiaéreo localizado em um túnel abandonado nos arredores de Cidade Recon.

O abrigo antiaéreo havia sido construído dentro de um túnel que, originalmente, fazia parte de um projeto de estrada que deveria atravessar as montanhas. No entanto, com a falta de verba e mudanças no planejamento, o projeto foi abandonado, e o túnel ficou inutilizado. Mais tarde, o governo converteu o local em um abrigo antiaéreo.

— Por que você quer alugar um abrigo desses? — Perguntou o corretor, mais por formalidade do que por curiosidade.

— Vou começar um negócio. Vou cultivar cogumelos. — Alice respondeu com indiferença, desviando o olhar.

Na verdade, Alice sabia muito bem o valor de um abrigo antiaéreo como aquele. Em sua vida passada, ela aprendeu que existiam três tipos principais de abrigos antiaéreos.

O primeiro tipo era composto pelos abrigos comuns, como estacionamentos subterrâneos em shoppings, garagens em prédios residenciais ou hospitais subterrâneos. Esses eram os mais acessíveis e bem equipados, com localização central e grande capacidade de evacuação. Porém, no apocalipse, esses lugares se tornavam armadilhas mortais. O grande número de pessoas reunidas fazia com que fossem rapidamente tomados por zumbis.

O segundo tipo eram os abrigos especializados, construídos com estruturas militares. Esses desempenharam um papel essencial nas fases mais avançadas do apocalipse. Muitas das Bases mais estáveis surgiram a partir de instalações militares bem planejadas. Contudo, Alice sabia que não tinha chance de alugar ou comprar algo assim.

Por último, havia os abrigos do tipo túnel, como o que ela estava agora. Esses eram perfeitos para o que Alice precisava. Localizados em lugares isolados, longe de grandes concentrações de pessoas, os túneis ofereciam bastante espaço, sistemas de ventilação adequados e portas de aço reforçadas. Era exatamente o que ela procurava.

Além disso, esses abrigos eram extremamente baratos para alugar. O túnel que Alice estava prestes a alugar custava apenas dois mil reais por ano, com um contrato mínimo de 20 anos. O pagamento era feito antecipadamente para os três primeiros anos, o que significava que, com apenas seis mil reais, ela teria acesso a um espaço equivalente a cinco quadras de basquete.

Para o corretor, Alice parecia uma cliente perfeita. Assim que ela mencionou "empreender", ele quase explodiu de alegria. Ele acreditava que Alice era apenas mais uma dessas pessoas ingênuas, atraída pelo preço baixo sem considerar a localização remota do abrigo. Ele pensou que, independentemente do que ela quisesse fazer ali, seria um fracasso.

"Dez negócios nesse lugar, nove são de gente que não pensa." Murmurou ele, mas, obviamente, não disse isso para Alice.

Era legal que alguém manifestou a vontade de alugar esse abrigo.

O corretor rapidamente finalizou o contrato, embolsou a taxa de serviço de quinhentos reais e saiu de lá com um sorriso de orelha a orelha.

Alice observou a saída do corretor em silêncio, sem se incomodar com sua expressão de satisfação. Ela sabia que ele a considerava uma tola, mas não fazia diferença. Sua verdadeira intenção não era algo que ela revelaria a ninguém.

Após dez anos sobrevivendo no apocalipse, Alice havia aprendido uma lição valiosa: nunca avise as pessoas tolas sobre o perigo, porque as pessoas tolas são o próprio perigo.

Depois de se certificar de que estava sozinha, Alice entrou no abrigo antiaéreo com Thor. Ela começou a inspecionar o local, observando cada detalhe com atenção. A ventilação estava intacta, como esperado, mas o que realmente a surpreendeu foram duas descobertas inesperadas: uma antiga mina d’água e um fio de energia elétrica.

Alice se ajoelhou ao lado do poço e testou a qualidade da água. Era água de nascente, proveniente do subsolo das montanhas. O sistema não estava conectado à rede de abastecimento da cidade, o que significava que, caso as estações de tratamento fossem contaminadas no futuro, ela ainda teria uma fonte de água potável.

Quanto à fiação elétrica, embora não houvesse eletricidade no momento, o fato de existir uma instalação elétrica já pronta era uma grande vantagem. Alice sabia que, com o equipamento certo, ela poderia gerar sua própria energia e ativar o sistema elétrico do abrigo.