Capítulo 5

Jaqueline fez as contas e viu que ainda faltavam uns vinte dias para a audiência de conciliação. Então ela respondeu:

— Ainda faltam uns vinte e poucos dias... Você sabe, meu divórcio ainda não saiu de vez.

Rebeca, preocupada, perguntou:

— Seu ex não vai ficar enchendo o saco, né?

Afinal, Jaqueline tinha sido a musa do campus na época da faculdade.

Que homem ia abrir mão de uma mulher bonita daquelas assim tão fácil?

Jaqueline soltou um sorriso meio amargo:

— Pode ficar tranquila. Ele está mais ansioso para se livrar de mim.

Edson naquele momento só tinha olhos para Violeta, não se importava em nada com ela.

— Melhor assim. — Rebeca, sempre cautelosa, tirou um cartão da bolsa e entregou para ela. — Mas, olha, se você realmente se meter em alguma encrenca, não precisa ficar com medo. Te apresento uma amiga minha que trabalha no melhor escritório de advocacia de Rivéria. Ela é fera em casos de divórcio, com ela do seu lado, você sai dessa tranquilamente.

Jaqueline achou que não ia precisar, mas pegou o cartão, rindo:

— Então tá, obrigada mesmo, Rebeca.

...

Quando Jaqueline chegou em casa, já estava escuro.

Na entrada, tinha um par de saltos altos. No sofá, estavam roupas e uma bolsa de mulher.

Ela ficou meio zonza por um instante, até ouvir a voz de Violeta vindo do andar de cima, aí lembrou que ela já tinha se mudado para sua casa.

Pelo jeito, Violeta já tinha recebido alta do hospital.

Jaqueline subiu para o segundo andar e percebeu que a voz vinha do quarto principal.

Ela ficou com um pouco de incômodo no peito.

Mesmo que estivesse decidida a se separar de Edson, aquele quarto ainda era território dela, e Violeta invadir assim o quarto dela já era de mais.

Ela abriu a porta e viu a Violeta sentada na cama, enrolada só numa toalha.

Edson estava agachado ao lado, passando pomada no tornozelo dela.

Jaqueline achou aquilo tudo muito desconfortável e teve que se segurar para não soltar uma reclamação na hora.

Quando Violeta percebeu que Jaqueline tinha entrado, explicou rápido:

— Jaqueline, eu caí no banheiro agora pouco, foi o Edi que me trouxe aqui para passar a pomada no tornozelo. Você não vai se incomodar, né?

Jaqueline perguntou na lata, meio fria:

— Então por que está no meu quarto?

Violeta pareceu assustada com o tom da pergunta, os olhos ficaram marejados e ela respondeu com um jeitinho meio de coitada:

— O chuveiro do meu quarto quebrou de repente, por isso eu vim pedir para usar o banheiro do Edi. Se te incomodar, eu já vou sair.

Ela tentou se levantar na hora, mas, por causa da ferida no tornozelo, quase caiu.

Edson a segurou na hora, abraçando a cintura dela. Violeta ficou colada nele, com um olhar cheio de aflição.

Edson falou, todo carinhoso, tentando acalmar ela:

— Relaxa, não foi nada de mais. A Jaqueline não vai se importar.

Depois, ele olhou para Jaqueline, com o rosto mais sério, e falou firmemente:

— Você falou de um jeito muito grosso, vai lá pedir desculpa para Violeta.

Jaqueline achou tudo aquilo ridículo.

Violeta estava só de toalha, sentada na cama dela, ainda agarrada no "marido legítimo", e por ela só ter feito uma pergunta, já queria que pedisse desculpas?

Ela nem deu bola para eles, virou as costas e desceu as escadas.

— Jaqueline! — Edson, ao ver a atitude dela, ficou meio incomodado e a chamou.

Jaqueline se virou, com uma expressão ainda mais fria que a dele:

— E se eu não pedir desculpas?

O olhar de Edson escureceu um pouco, a voz carregava um pouco de irritação:

— Isso é uma ordem, não uma conversa.

Durante aqueles três anos, ele sempre falava daquele jeito com ela.

Antes, ela sempre engolia seco e aceitava.

Mas, naquele momento, ela não queria mais aguentar.

De qualquer jeito, ela já ia se divorciar, então por que teria medo dele?

Jaqueline ergueu o queixo e falou com sarcasmo:

— Beleza, eu peço desculpas, foi mal mesmo pegar vocês no flagra. Mas faz sentido, né? Uma esposa perfeita deveria fingir que não viu o caso do marido com a amante.

— Jaqueline! — Edson ficou ofegante de repente, claramente irritado. — O que você está dizendo?

Os olhos dela foram até o braço dele.

— Eu errei? Sr. Edson, onde a sua mão está agora?

Foi aí que Edson percebeu que ainda segurava a cintura da Violeta.

Violeta, parecendo a coitada injustiçada, chorou:

— Foi tudo culpa minha, Jaqueline, não entenda mal o Edi nem brigue com ele. Vou sair da casa de vocês hoje mesmo.

Dito isso, ela saiu mancando.

Edson ia continuar brigando com Jaqueline, quando ouviu um grito de Violeta.

Jaqueline se virou e viu que Violeta havia caído da escada.

Edson, desesperado, empurrou Jaqueline para o lado e saiu correndo.

Ela caiu no chão com força, a ferida no braço começou a doer de novo.

— Vivi, você está bem? — A voz aflita de Edson chegou até ela.

Logo depois, ouviu o som da porta se fechando.

Jaqueline sorriu com ironia.

Pelo visto, Edson ia passar aquela noite de novo no hospital com Violeta, né?

Ela tirou os lençóis da cama e jogou no lixo.

Ela não queria nada que aquela vaca falsa tivesse usado, achava sujo.

Quando tudo acabou, ela viu a mensagem que Edson enviou para ela no WhatsApp:

[Vai no quarto da Vivi e traga duas roupas limpas.]

Jaqueline fingiu que não viu, ignorou e desligou o celular.

Depois de se lavar, ela se deitou em lençóis limpos e decidiu não pensar mais no Edson nem na Violeta. Logo pegou no sono.

...

No dia seguinte, a assistente do Edson chegou, falando com um tom meio cauteloso:

— Senhora, o Sr. Edson me pediu para pegar dois conjuntos de roupas da Srta. Violeta.

Jaqueline apontou para um quarto no segundo andar:

— É ali o quarto da Srta. Violeta.

A assistente pegou as roupas e saiu rápido, mas ficou meio hesitante e disse:

— O Sr. Edson também disse para eu levar a senhora lá para cuidar da Srta. Violeta...

Ela falou aquilo meio sem jeito, como se estivesse com vergonha.

Jaqueline ficou lá, comendo seu pão com ovo mexido e queijo, sem dar atenção.

A assistente se sentiu meio chateada por ser ignorada, mas não tinha muito o que fazer com a senhora.

Antes, a Sra. Jaqueline fazia tudo que o Sr. Edson pedia.

Mas, naquele momento, parecia que ela não queria mais nem olhar para ele.

Na verdade, a assistente também achava que o Sr. Edson tinha exagerado. Como podia pedir para a esposa oficial cuidar da amante?

Ela não falou mais nada e logo se despediu para sair.

Depois que Jaqueline terminou o café, ela comprou umas coisas para casa pela internet e mandou entregar no novo apartamento.

Assim que terminou a compra, Edson a ligou pelo WhatsApp.

Quando ela atendeu, a voz dele chegou cheia de acusações:

— Jaqueline, você passou dos limites! A Violeta se machucou por sua causa, você tem que ir no hospital pedir desculpas e cuidar dela.

Jaqueline respondeu com sarcasmo:

— Ela caiu sozinha, não tem nada a ver comigo. E se eu não for?

Ao ouvir as palavras dela, Edson ficou ainda mais bravo.

Antes, Jaqueline sempre obedecia a ele em tudo, nunca tinha lhe desafiado daquele jeito.

Ele rosnou com raiva:

— Jaqueline, não esquece quem te sustenta! Faça o que eu mando!

Jaqueline também ficou com raiva.

Ela já tinha feito tanta coisa por ele, ajudado ele a se reerguer, e ele a ofendia assim naquele momento.

Ela não quis falar com o Edson, simplesmente desligou a chamada dele no WhatsApp e o bloqueou.

Antes, quando Edson tinha bloqueado o número dela, ela ficou com o peito apertado, tão triste que passou várias noites sem conseguir dormir.

Mas naquele momento, bloqueando ele no WhatsApp, ela sentiu que finalmente respirou aliviada.

Pouco depois, a assistente do Edson ligou para ela de novo.

Jaqueline bloqueou e desligou o celular.

Finalmente, o mundo ficou em paz.

Pensando no trabalho que teria depois, ela decidiu comprar algumas roupas e sapatos adequados.

Então ela foi até o shopping.

Edson dava para ela trinta mil reais por mês de custo de vida e cinco mil de mesada extra, conforme ela solicitava.

Se precisasse acompanhar ele em eventos importantes, teria que pedir uma verba extra para comprar roupas novas.

As bolsas de grife e as joias no armário eram só para ela usar, mas não eram dela de verdade.

Depois de pagar comida e outras coisas básicas, ainda sobrava um pouco do dinheiro.

Em três anos, ela conseguiu juntar mais de cinquenta mil.

Ele sempre foi muito mão de vaca com cada centavo que gastava nela. Nem chegava a ser um décimo do que ele gastava em só uma bolsa para Violeta.

Toda vez que pedia dinheiro para ele, ela se sentia envergonhada.

Mas ele nunca ligava para o que ela sentia.

Com as atitudes dele, ela tinha certeza de uma coisa: ele não a amava.