All Chapters of Nas Trilhas do Destino, Encontrei Você: Chapter 11 - Chapter 20

Sede do Grupo Campos, Belmira.No último andar, o escritório presidencial estava imerso em uma claridade limpa, filtrada por amplas janelas de vidro que, de cima, deixavam ver a cidade inteira. Lá embaixo, o trânsito pulsava como um organismo inquieto, mas aqui, a distância transformava esse frenesim em uma cena quase silenciosa.Atrás da imponente mesa, Daniel ouvia atentamente o relatório do assistente. O rosto permanecia impenetrável e a postura, impecável, mas um leve traço de fadiga nas sobrancelhas traía o fato de que havia acabado de sair de uma longa e exaustiva videoconferência internacional.— Sr. Daniel. — Começou Lucas, o assistente de óculos de armação dourada e voz sempre contida. — Sobre a restauração da pulseira de jade de sua avó, entramos em contato com os especialistas mais renomados de Serenita e Monteluz. Todos disseram que a peça sofreu danos irreversíveis. O rompimento foi completo, e o risco de comprometê-la ainda mais é alto demais para aceitarem o trabalho.El

O improvável acontecia, e não havia outra forma de descrever. Parecia mesmo um milagre.No dia seguinte à assinatura do contrato milionário, o celular de Rafaela não lhe deu descanso.A primeira ligação veio do fornecedor de madeira que, dias antes, garantia com toda convicção que um incêndio havia destruído todo o estoque.— Sra. Rafaela, tenho uma notícia maravilhosa! — A voz vibrava de empolgação, carregada de bajulação. — Nosso chefe conseguiu trazer às pressas um lote novinho de madeira nobre, ainda melhor do que a senhora havia escolhido. E, claro, pensei imediatamente na senhora. Já separei especialmente para o seu ateliê.Rafaela permaneceu imóvel, o aparelho colado ao ouvido, tentando assimilar o que havia ouvido. Antes que pudesse raciocinar sobre aquela súbita reviravolta, outra chamada entrou.Era o chefe de obras, o mesmo que havia desistido semanas antes, apoiado em desculpas frágeis.— Sra. Rafaela, me perdoe! — A voz soava embargada, carregada de culpa. — Foi um mal-ent

Depois que Clara deixou o ateliê, levando consigo o arranjo e a própria humilhação, o silêncio voltou a se instalar no pequeno pátio. O ar parecia mais leve, mas Camila ainda não conseguia esconder a irritação. Segurava a xícara de chá com tanta força que os dedos ficaram esbranquiçados, enquanto resmungava com indignação:— Aquela mulher é insuportável! Se você não tivesse me segurado, Rafa, eu teria arrancado aquela máscara de falsidade bem ali, na frente dela.Com a serenidade de quem aprendeu a escolher suas batalhas, Rafaela encheu novamente a xícara da amiga. O líquido se espalhou pelo fundo de porcelana, e sua voz saiu calma, quase num tom de consolo:— Não vale a pena gastar energia com gente assim. O que Clara queria era justamente me ver perder o controle, para depois ter o prazer de rir da minha reação. Eu não vou dar a ela essa satisfação.Por dentro, Rafaela sabia que, mais do que nunca, precisava se manter distante das intrigas e disputas mesquinhas que rondavam a famíli

Após se despedir de Daniel, Rafaela não começou o trabalho de imediato. Preferiu primeiro tomar um banho demorado, deixando a água morna levar consigo a tensão acumulada. Em seguida, escolheu um vestido de linho claro e simples, ideal para a liberdade de movimento e para a concentração de que precisava.Cruzou a casa em silêncio até chegar ao ateliê voltado para o sul, um espaço que havia sido planejado em cada detalhe para refletir exatamente os seus desejos. A luz da tarde atravessava as grandes janelas de vidro e se espalhava em faixas douradas sobre o assoalho de madeira, iluminando o ambiente como se fosse feito apenas para ela.Na bancada de trabalho, acendeu um incenso de sândalo. A fumaça azulada subiu em espirais finas, preenchendo o ar com um perfume amadeirado que purificava tanto o espaço quanto sua mente. Rafaela fechou os olhos, respirou fundo e, por alguns instantes, permitiu-se deixar que o ruído e a agitação se dissolvessem dentro dela. Quando os abriu novamente, se

Matheus ouviu em silêncio, a atenção firme na discípula enquanto ela expunha seu dilema. Quando ela terminou, ele inclinou levemente a cabeça e assentiu, com uma expressão de aprovação tranquila.— O fato de você perceber esse impasse mostra que não é apenas uma artesã de técnica apurada. Você é uma restauradora de verdade, capaz de enxergar além da execução mecânica do trabalho. — Ele fez uma pausa breve. Parecia pesar mentalmente alternativas e riscos. Então, retomou a fala, agora com mais convicção. — O método tradicional de restauração invisível não serve para este caso. Mas, já que a marca foi feita com laser... a solução também pode vir da luz.— Luz? — Rafaela piscou, surpresa, sem compreender de imediato o que ele queria dizer.— Sim. — A voz de Matheus ganhou um tom mais grave. — Há alguns anos, conversei com um colega da Academia de Ciências que trabalhava com materiais experimentais. Ele me falou sobre uma técnica chamada soldagem a frio. Consiste em usar pó de jade em escal