Depois de assistir ao vídeo que Teresa havia trazido, Margarida percebeu algo estranho. Mesmo expulsa por Guilherme e perdendo de uma só vez a posição que havia defendido por tantos anos, Marina ainda não parecia derrotada. Leonor estava completamente perdida, agitada como uma mosca sem cabeça, mas Marina seguia serena, até capaz de soltar frases cheias de pretensão como "o mundo dá voltas". Era evidente que ela não se via acuada, muito menos sem saída. Marina tinha alguém por trás, alguém poderoso, pronto para ampará-la.Mas quem seria essa pessoa?Instintivamente, Margarida lançou um olhar a Vicente. Ele, porém, se mantinha impassível, a expressão calma demais, como se já soubesse exatamente quem era esse protetor oculto. Apertando levemente os lábios, ela decidiu não perguntar nada. Se Vicente estava tranquilo, não cabia a ela insistir. Guardando o celular da amiga, voltou ao assunto principal:— Teresa, já que você voltou, vamos arrumar nossas coisas. Quero sair daqui ainda hoje
— E o mais importante de tudo é que você ainda ousa falar sobre a roda da vida girando. Que piada ridícula. — Lorenzo continuou, a voz firme e carregada de ironia, cada sílaba escorrendo veneno. — Marina, a sua roda da sorte já girou há mais de vinte anos. Quando o destino fechou os olhos e, injustamente, te deu uma chance. Desde então, a cada ano, essa roda só se afastou mais de você, e agora, neste exato momento, sua sorte está completamente seca, morta.Ele se inclinou levemente, o olhar afiado como lâmina, e cada palavra saiu gotejando desprezo:— O que o Sr. Guilherme fez hoje foi apenas arrancar das suas mãos aquilo que nunca foi seu. Mas a verdadeira colheita... a verdadeira retribuição ainda nem começou.A mensagem era clara. Marina podia pensar que ela e Leonor já haviam chegado ao fundo do poço, mas não, aquilo não era o fim, era apenas o começo. Vicente ainda tinha contas a acertar, e não apenas com as duas, mas também com aquele filho covarde, Luciano, que até hoje se esco
Era claro que Teresa prezava a amizade acima de tudo, mas diante de um espetáculo daqueles, o tipo de cena que nem pagando alguém teria a chance de presenciar, sair correndo seria praticamente um crime contra a humanidade. Além disso, não havia vingança mais doce do que ver Marina e Leonor, as duas cobras venenosas que tanto haviam feito Margarida sofrer, sendo chutadas para fora como lixo. Para Teresa, aproveitar o momento e rir na cara delas era a maior prova de amizade que poderia dar à amiga.Sem pensar duas vezes, largou o Lorenzo boquiaberto no carro e correu em disparada, com a língua mais afiada do que nunca.— Olha só quem temos aqui! — Ela gritou, o sarcasmo escorrendo em cada sílaba. — Essas duas cadelinhas expulsas de casa não seriam justamente as que viviam se gabando de ser a senhora Almeida e a queridinha herdeira Leonor? Mas o que aconteceu, hein? Como é que acabaram nesse estado miserável, com malas jogadas na porta como se fossem lixo? Isso é moda nova, é? Algum jog
Teresa sentia o nariz arder de tanta culpa, e a voz trêmula quase se quebrava enquanto despejava sua raiva sobre Lorenzo:— A culpa é toda sua! Você, que ficou me enchendo, me confundiu toda, e acabei dando ouvidos às suas besteiras! Sou a pior amiga do mundo. Como pude fazer isso com a Margarida?Sem entender como ela havia conseguido sozinha chegar a essa conclusão, Lorenzo coçou a cabeça, perdido.— Tá, eu admito, puxei mais para o lado do Vicente... mas também não menti, né? No fundo, você só quis ajudar os dois como casal. Isso não é trair sua amiga, vai.— Como não é? — Teresa bateu no painel do carro, dizendo com a voz embargada. — Atrasei tempo demais, não levei a Margarida embora dali na hora que devia. Isso é sim uma falha minha! O Vicente já tem um batalhão de gente puxando o saco dele. A Margarida só tem a mim! Sou a única amiga de verdade dela, então tenho que respeitar a vontade dela. Agora mesmo vou buscá-la e tirar ela daquela casa. Agora!Lorenzo arregalou os olhos, qu
— Margarida, não tenho para onde ir. — A voz de Vicente soava grave, carregada de súplica, cada palavra revelando a angústia que o sufocava. — Ontem passei o dia inteiro andando de um lado para o outro, encontrei tanta gente, rodei tantos lugares. Será que posso dormir aqui no chão, só por duas horas? Só duas horas, depois vou embora.Ele estava parado à porta, imponente como sempre, mas, ao mesmo tempo, parecia um cão grande e perdido, sem rumo, implorando apenas por um teto sob o qual pudesse se abrigar da tempestade. Cada palavra vinha carregada de cuidado, como se temesse que qualquer tom mais duro fosse suficiente para afastá-la ainda mais.Ao vê-lo invadir o quarto sem permissão, Margarida havia franzido a testa instintivamente, mas, quando escutou a súplica, sua expressão suavizou um pouco, ainda que relutante.— Sr. Vicente, não precisa se rebaixar assim. Sei que você passou por muita coisa ontem, nunca quis impedir que descansasse. Mas esta casa é enorme. Por que exatamente a
Na nova casa.Margarida e Vicente já tinham ouvido falar da confusão que explodia na família Almeida, mas nenhum dos dois demonstrava qualquer intenção de ir até lá presenciar o espetáculo. Margarida já havia tomado a decisão de se divorciar. Logo, em sua visão, não teria mais ligação alguma com aquela família e não fazia sentido se envolver em um circo que já não lhe dizia respeito. Vicente, por sua vez, porque se Margarida não queria ir, muito menos ele iria. No coração dele, nada era mais importante do que ela. Além disso, Marina e Leonor não estavam morrendo, apenas sendo expulsas por Guilherme. Se fosse o fim definitivo daquelas duas, aí, sim, talvez valesse a pena aparecer para conferir a cena.Quem quase explodiu de curiosidade foi Teresa.— Meu Deus do céu! Aquelas duas ridículas, uma sempre pagando de fina, a outra se achando a grande herdeira, agora vão ser chutadas da família Almeida! Um espetáculo desses não acontece todo dia, não posso perder de jeito nenhum! — Ela excla