Augusto encarava Vicente sem qualquer disfarce na expressão. A máscara havia caído de vez; agora não havia mais pose, nem tentativa de suavizar as palavras. Era pura hostilidade, dita sem rodeios.As palavras bateram em Vicente como um golpe seco. Seu rosto endureceu, e o olhar que lançou a Augusto carregava um frio cortante, como se já o enxergasse morto diante de si.Percebendo que a tensão estava prestes a transbordar, Carlos tentou se meter no meio, ainda lançando um tom de reprovação para Augusto:— Augusto, que absurdo é esse? Todo mundo aqui sabe como o Vicente é correto! Ele ama de verdade a Margarida, jamais faria nada para machucar ela!Augusto ajustou os óculos de armação dourada e soltou um riso curto, com um quê de desprezo.— Ama? Ama, sim... Mas é exatamente por amar tanto que ele é o mais provável de perder a cabeça e fazer uma loucura. Esse homem é capaz de tudo. É frio, calculista. Sabia o que a dona Luísa fez com a Margarida e matou ela daquele jeito só para se vinga
Ninguém ali parecia ter previsto aquela cena, ou talvez já a temessem em silêncio, mas, no fundo, o impacto foi inevitável, pois Augusto e Carlos também estavam presentes.Como duas das pessoas mais importantes na vida de Luísa, cada um reagia à perda de forma distinta. Carlos permanecia ao lado do corpo, o semblante carregado de uma tristeza tão intensa que chegava a beirar o exagero, como se quisesse que todos percebessem o sofrimento dele. Já Augusto, ao contrário, não forçava nenhum papel. Ele se mantinha sério, com um olhar que não escondia o peso da realidade, mas também sem fingir luto.Em determinado momento, Margarida percebeu que aquele velho hábito de Augusto havia desaparecido por completo. O sorriso constante e a postura de homem elegante já não estavam mais lá. No lugar, a frieza e a sombra em seu olhar se mostravam sem disfarces, combinando com a atmosfera densa daquele necrotério.Ainda assim, quando seus olhos encontraram os de Margarida, algo pareceu se acender dentr
O que passava na cabeça do Lorenzo naquele momento? Se fosse outra pessoa se metendo como amante, ele até tiraria sarro. Mas quando era ele próprio a fazer o papel de amante, parecia achar tudo divertido.E esse jeito de pensar... Bom, todo mundo sabia de onde veio. Foi influência direta do Vicente.Só que, ouvir o Lorenzo, um cara descarado até o último fio de cabelo, dizendo que estava aprendendo com ele, foi quase demais. Até o Vicente, que sempre mantinha a postura séria e madura, ficou por um segundo sem saber se ria ou se engolia a reação.Mesmo assim, como o Lorenzo tinha se saído bem naquele dia, Vicente resolveu não cortar o barato dele. Mas deixou um alerta:— Lorenzo, quando o assunto for você, a Teresa e o Caio... para de confiar cegamente só no que o Caio te fala, cara. Mesmo sendo seu irmão de sangue, às vezes é bom lembrar que ele também pode ser um competidor.— Que papo é esse, Vicente? — Lorenzo franziu a testa, estranhando. Entre amigos de longa data, ele tinha a ma
— Beleza, te levo até o necrotério. Fico com você o tempo todo. Se em qualquer momento bater um mal-estar, me avisa na hora. Só precisa trocar de roupa agora, porque lá fora está frio e não quero que você acabe pegando uma gripe, tá? — Disse Vicente, com um tom carinhoso.— Tudo bem, já vou trocar. — Respondeu Margarida.Ao ver o rosto de Vicente mais relaxado, sentiu o coração aquietar.Naquele instante, a enfermeira entrou trazendo um conjunto de roupa de sair.Margarida nem cogitou circular pelo hospital de avental. Seguiu a enfermeira até o banheiro e trocou tudo rápido para não perder tempo.Dessa vez, Vicente não a acompanhou. Assim que Margarida entrou no banheiro, ele deixou o quarto, pegou o celular e fez uma ligação.Do outro lado, a voz de Lorenzo atendeu sem rodeios:— Vicente, você está no hospital ainda, né? E a Margarida, está bem mesmo? O bebê também?— Está estável, e o bebê está ótimo. — Respondeu Vicente, num tom firme. — Mas daqui a pouco vamos para necrotério. Cons
— Como assim? O que quer dizer com isso? — Margarida encarou Vicente com intensidade, surpreendida, tentando sem sucesso decifrar o verdadeiro sentido das palavras dele.Ainda forçava um sorriso tênue, como se quisesse provar a si que estava apenas imaginando coisas. Mas a tentativa se esvaiu de repente, e no lugar daquela expressão leve surgiu uma tensão rígida, prestes a se desmanchar.Ele tinha realmente dito que Luísa estava morta?Quando soube que o pai havia caído do penhasco, tudo o que Margarida desejava era que Luísa pagasse pelo que havia feito, que fosse julgada e cumprisse pena, enfrentando cada consequência até o último dia. Morte... isso era completamente diferente.A sensação foi como se o chão desaparecesse sob seus pés. O corpo, já enfraquecido, cedeu por um instante, e só não caiu porque Vicente, atento, a segurou com firmeza. Mesmo assim, ela permaneceu consciente, embora o mundo girasse e um enjoo sufocante tomasse conta. Respirou fundo até conseguir murmurar:— Ela
Antes mesmo de Margarida engravidar, Vicente já sonhava em ter uma filha com ela, de preferência parecida com a própria Margarida. Assim, ele poderia compensar o arrependimento de não ter estado ao lado dela desde a infância, tratando a menina como uma pequena Margarida, protegendo-a e cuidando dela com todo o carinho que sempre quis oferecer.Ao ouvir isso, Margarida parou por um instante. No fundo, também esperava que o bebê fosse uma menina, mas desejava que se parecesse mais com Vicente. Assim, talvez pudesse apagar um pouco da lembrança da infância difícil e solitária que ele suportou, criando a criança como se fosse um pequeno Sr. Vicente, guardando-a com o mesmo esforço e ternura que ele merecia ter recebido.Naquele instante, o ar se encheu de uma calma quente e silenciosa. Margarida deixou de lado, por um momento, os segredos que ainda escondia dele, e seus lábios se curvaram num sorriso sereno enquanto o fitava.— Não importa se o bebê for menino ou menina. O que eu mais quer