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Capítulo 2

Author: Primavera Aconchegante
Ninguém sabia o motivo, mas, talvez por Talita nunca ter dito algo tão direto, a imagem dela deixando o local com os olhos cheios de lágrimas continuava a ecoar na mente de Enrico. Ele se sentia irritado. Após beber várias taças de vinho tinto, finalmente conseguiu sufocar a estranha inquietação que o consumia.

Foi então que Ian apareceu de repente com o celular na mão e uma expressão de empolgação.

— Enrico, o voo de Talita não era esse aqui? Acabou de virar notícia!

Enrico lançou um olhar rápido para a tela do celular. Lá estava estampada uma manchete:

[Segundo relatos, o voo AT580 enfrentou uma grave crise hoje ao meio-dia. O piloto desmaiou durante o trajeto, mas, graças à intervenção de uma passageira misteriosa, o avião conseguiu pousar em segurança. As causas do incidente ainda estão sendo investigadas...]

Ao ouvir isso, os outros presentes se aproximaram, curiosos. Assim que viram a notícia, começaram a comentar, cada um mais impressionado que o outro.

— Isso foi assustador! Um vento tão forte que partiu uma das asas do avião, mas ele ainda conseguiu pousar. Definitivamente foi obra divina.

— O jornalista mencionou que uma passageira misteriosa ajudou muito. Será que alguém conseguiu filmar o rosto dela?

— Disseram que é uma mulher. Mas, pelo que vi, as imagens das caixas-pretas estão confusas. Vou procurar os vídeos que já foram postados online.

Enquanto todos conversavam, Enrico, de repente, lembrou de algo. Ele pegou o contrato que tinha jogado de qualquer jeito no sofá mais cedo. No canto inferior direito do envelope havia algumas manchas de sangue seco. "Talita se machucou?", pensou ele.

— Achei! — Gritou Ian, interrompendo os pensamentos de Enrico. Ele olhou para o lado e viu o vídeo. Nele, aparecia apenas o perfil da passageira, capturando seu corpo de lado: uma cintura fina, pernas longas e um traje que parecia estranhamente familiar.

— Essa pessoa lembra a Talita, não acha? — Alguém comentou.

Ian riu alto e debochou:

— Não viaja! Todo mundo sabe que a Talita é só um brinquedinho do Enrico, uma espécie de animal de estimação. Ela tem talento para finanças, mas é só isso. Acha mesmo que ela teria esse tipo de habilidade?

Aquela frase fez todos rirem e esquecerem qualquer suspeita. Até o próprio Enrico descartou a ideia.

— Continuem procurando. Quero ver se tem algum vídeo mais claro. — Disse Ian, ainda animado. — O corpo dela é incrível. Preciso saber como ela é de frente.

Enrico, perdendo o interesse, passou o polegar pelas manchas de sangue seco no envelope. Tudo parecia mais amargo agora, até mesmo o vinho que acabara de beber. Ele franziu a testa e puxou o nó da gravata, incomodado.

— Divirtam-se. Tenho coisas para fazer. — Disse ele, levantando-se e saindo.

Se ela tinha se machucado por causa disso, ao menos deveria ficar grata por ele voltar mais cedo. Quando Enrico chegou à mansão Ócais, já passava das dez e meia da noite.

Para sua surpresa, a casa estava completamente às escuras. Ao entrar, não encontrou Talita na sala de estar. Não havia sinal dela na cozinha ou na sala de jantar. Nenhum cheiro de café ou de comida quente. Isso nunca tinha acontecido antes.

— Cada vez mais geniosa. — Murmurou Enrico para si mesmo.

Ele subiu as escadas com o envelope em mãos e parou diante da porta do quarto de Talita. Bateu várias vezes, mas ninguém respondeu. Irritado, decidiu abrir a porta com a chave, apenas para descobrir que ela nem sequer estava trancada.

— Já chega dessa birra! — Disse ele, entrando.

O perfume familiar dela ainda pairava no ar, mas a cama estava vazia.

— Está tentando fugir de casa? — Enrico riu de raiva, puxando a gravata enquanto pegava o celular para ligar. No entanto, a irritação o dominou, e ele jogou o aparelho na cama.

— Quero ver quanto tempo você vai durar. — Resmungou ele, decidido a não ceder. Ele não permitiria que ela se aproveitasse de sua paciência.

Naquele momento, em um luxuoso condomínio na área nobre de Cidade Kioto, na mansão do leste, Talita estava sentada no sofá da sala de estar, sendo confortada por um homem alto e elegante.

— Calma, querida. Não chore mais. Estamos falando de um homem desprezível. Eu já tinha te avisado, não tinha? Você devia ter terminado com ele há muito tempo. Ele não é bom o suficiente para você. — Disse o homem, abraçando-a de forma protetora.

A verdade era que, seis meses atrás, a família Esteves, uma das mais ricas de Cidade Chimolo, havia encontrado Talita.

Eles revelaram que os pais dela não eram camponeses, mas, na verdade, a filha e o genro do fundador da família Esteves, que era a família mais rica da região!

Apesar de os pais de Talita terem falecido tragicamente, seus avós maternos e os quatro tios nunca haviam desistido de procurá-la. Durante todos esses anos, eles não economizaram esforços para encontrá-la.

Eles disseram que Talita poderia voltar para a família a qualquer momento, mas, na época, ela recusou. Tudo por causa de Enrico. Mal sabia ela que a humilhação que receberia dele chegaria tão rápido.

Após desabafar suas emoções, Talita sentiu-se um pouco envergonhada. Ela foi até o banheiro, lavou o rosto e voltou para a sala de estar, sentando-se no sofá em frente ao tio mais velho, Jorge Esteves.

— Tio, eu ainda não quero voltar para a família Esteves. Há alguns anos, decepcionei meu professor. Quero voltar, terminar meus estudos e, além disso, há alguns rancores que quero resolver pessoalmente!

Afinal, desde que nasceu, Talita nunca teve contato com a família Esteves. Embora os últimos seis meses ao lado deles a tenham feito sentir profundamente o calor de ter uma família, ela ainda não conseguia esquecer que a família Pinto, que a criou por dezoito anos, foi capaz de abandoná-la sem hesitar. Se ela voltasse para a família Esteves sem ter conquistado nada, como poderia encarar tudo aquilo?

Ela respirou fundo, apertando o nariz. Seus olhos ainda estavam vermelhos, mas o brilho calmo e decidido em seu olhar era inconfundível.

Jorge demonstrou aprovação em seu semblante. Ele admirava a determinação da sobrinha, que não buscava apoio fácil e mantinha a cabeça erguida mesmo após sofrer tantas injustiças.

"Ela é realmente uma Esteves!"

Jorge não a repreendeu, respeitando a escolha de Talita. Desde que fosse isso que ela desejava, ele e a família estariam prontos para apoiá-la. A mansão em que estavam era uma propriedade dele naquela região, comprada especialmente para Talita. Sem hesitar, Jorge entregou as chaves a ela e imediatamente deu ordens para iniciar o processo de transferência.

— Esta casa agora é sua. Se você não quer voltar, fique aqui. — Disse Jorge.

Após conversarem sobre outros assuntos, Jorge lembrou-se de alguns compromissos e partiu, deixando a governanta, Rosa, encarregada de cuidar de Talita.

A mansão costumava ser silenciosa e vazia. Agora, Talita era a única residente.

Depois de organizar seus pensamentos, ela foi para o escritório que Jorge havia montado exclusivamente para ela. Sentada em frente ao tablet, seus dedos deslizavam rapidamente pela tela enquanto lia os documentos que havia pesquisado.

— Projeto de desenvolvimento do chip B13 pelo professor Felipe dos Santos, doutor e orientador da Academia de Aviação... — Leu ela em voz baixa.

Felipe, seu antigo professor, devia estar profundamente decepcionado com ela. Na época, quando ela recusou a oportunidade de continuar os estudos, ele tentou convencê-la várias vezes. Para evitar questionar sua decisão, Talita cortou todos os contatos com ele de forma abrupta.

Nos últimos dois anos, para ser útil a Enrico, ela havia mergulhado de cabeça no mundo das finanças e dos investimentos, abandonando sua verdadeira paixão. Nunca mais havia tocado em nada relacionado à aviação. Aquele incidente com o desastre aéreo, dias atrás, foi a primeira vez, em muito tempo, que ela teve contato novamente com algo relacionado ao espaço aéreo. A sensação de adrenalina e empolgação que sentiu permaneceu viva em sua memória.

"Se já está provado que escolhi o caminho errado, é hora de corrigir meus erros. Ainda há tempo. Quero ser novamente a Talita que fui antes, mesmo que isso signifique enfrentar inúmeras dificuldades."

Determinada, Talita continuou pesquisando sobre o projeto B13 até tarde da noite, antes de finalmente ir para a cama. Dormiu profundamente.

Na manhã seguinte, Talita acordou decidida. Com os documentos sobre o B13 organizados, ela foi direto ao Instituto de Pesquisa Aeroespacial de Kioto.

Vestindo uma camisa branca simples e jeans, com os longos cabelos presos em um rabo de cavalo prático, Talita estava impecável. Seu rosto, sem maquiagem, transmitindo frescor e determinação.

No entanto, assim que entrou no campus, deparou-se com a última pessoa que queria encontrar.

Flora!
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