A Verdadeira Rainha da Elite Está Aqui!

— Enrico, você sabia? Aquela sua namoradinha tem mesmo talento. Acabamos de receber a notícia do Grupo MINEA: o contrato foi aprovado!

— Namorada? Não me faça rir. Quando foi que Enrico admitiu isso? E, convenhamos, uma mulher seria capaz de resolver tantos problemas assim? Ha! O plano de Enrico é mesmo genial!

O tom sarcástico era evidente. Do lado de fora da porta, Talita estacou com o dedo suspenso no ar. Ela segurava com força uma pasta em seus braços. Dentro dela estava o contrato que decidiria se o Grupo Araújo conseguiria abrir capital na bolsa de valores.

O Grupo MINEA, parceiro da negociação, sabia muito bem que haveria tempestades elétricas no dia seguinte, mas ainda assim insistiu que o contrato fosse assinado naquele dia.

Talita não teve escolha a não ser usar todos os contatos que tinha para pegar um voo alternativo. Apesar disso, acabou enfrentando uma tempestade no caminho de volta.

A cabine foi atingida por uma forte turbulência, o piloto perdeu a consciência, e foi ela quem, arriscando a própria vida, conseguiu salvar as pessoas a bordo. Talita não revelou sua identidade e pediu que fosse mantida em sigilo. Assim que o avião aterrissou, correu para entregar o contrato, intacto, nas mãos de Enrico.

Ao chegar, soube pela secretária que Enrico estava em um clube. Então, foi direto para lá. Contudo, ao chegar à porta do camarote, ouviu aquela conversa.

O que veio em seguida foi ainda mais humilhante. A voz de Enrico soou do outro lado da porta, após uma pausa breve, com um tom frio e indiferente:

— Eu nunca toquei nela.

Aquele único comentário parecia ansioso para cortar qualquer vínculo com Talita, como se ele quisesse se livrar de qualquer associação que pudesse manchar sua reputação. Foi também uma confirmação indireta de que ela não era sua namorada. As palavras provocaram gargalhadas no camarote.

— A propósito, Enrico, e o casamento com a família Pinto? Ouvi dizer que Flora Pinto voltou para o país recentemente!

Talita ficou paralisada ao ouvir isso.

Flora. A verdadeira herdeira da família Pinto. A mulher que estava realmente noiva de Enrico.

No passado, quando a identidade falsa de Talita como herdeira da família Pinto foi desmascarada, descobriu-se que ela havia sido trocada na maternidade. Seus verdadeiros pais eram provavelmente camponeses, cujo paradeiro ainda era desconhecido. Tudo o que sabiam é que tinham o sobrenome Esteves.

Após o escândalo, Talita foi expulsa da família em desgraça e, sem ter para onde ir, foi acolhida por Enrico, com quem mantinha um relacionamento há três anos. Por isso, ela sempre foi completamente devota a ele, mesmo sabendo que ele nunca mencionara casamento.

Talita acreditava que o problema era o momento, mas agora percebia que Enrico nunca teve intenção de se casar com ela. A mulher que ele queria desde o início era Flora, a verdadeira herdeira da família Pinto. Mesmo sabendo o que Flora havia feito com Talita no passado.

Antes que pudesse processar tudo, a conversa dentro do camarote deu a resposta que ela não queria ouvir.

— Claro que vai casar com ela. Afinal, Srta. Flora é a verdadeira filha da família Pinto. E aquela impostora? Foi só para se divertir. Se não fosse por ela ser um pouco competente e conseguir resolver algumas coisas para Enrico...

O som das palavras parecia ecoar na cabeça de Talita, deixando-a atordoada. Ela mal conseguia ouvir o que mais estavam dizendo. Suas pernas fraquejaram, e ela quase caiu. Apoiando-se no batente da porta, tentou se recompor. Após um momento, forçou-se a se acalmar.

— Uma pessoa como ela já teve sorte de espreitar a vida no topo e aproveitar tantos privilégios por anos. Isso já é mais do que ela merece!

— Mas, se ela insistir em continuar se metendo...

Talita não esperou mais. Com um movimento brusco, empurrou a porta. O som repentino fez todos no camarote se virarem, surpresos. Por um instante, o ambiente ficou em silêncio, e os rostos de todos se congelaram.

— Cu... cunhada, você... você está aqui? — Gaguejou um dos amigos de Enrico.

— O que você está fazendo aqui? — Enrico interveio, franzindo a testa e cortando qualquer tentativa de Talita de responder.

Talita apertou os lábios. No camarote estavam os amigos de infância de Enrico, pessoas com quem ela estava acostumada a lidar. Mas ela sabia que, apesar de chamá-la de "cunhada" na frente de Enrico, eles nunca a respeitaram de verdade. Isso não a incomodava mais.

O que realmente a perfurou foi a indiferença de Enrico. Mesmo vendo que ela estava com a roupa de viagem, os braços ainda marcados e sem curativos após o acidente, ele não demonstrou nenhuma preocupação. Apenas irritação por ter sido interrompido.

Com o coração apertado como se estivesse sendo esmagado, ela respirou fundo e, depois de um momento de silêncio, esboçou um sorriso forçado. "Tão preocupado que eu vá me agarrar a você, não é?", pensou. Então, com um tom calmo, falou:

— Sr. Enrico, este é o contrato assinado com o Grupo MINEA. Vim entregá-lo pessoalmente.

Sua postura indiferente e resignada fez os amigos de Enrico rirem ainda mais. Para eles, Talita sempre foi assim: nunca importava o quanto Enrico a tratasse mal, ela sempre fingia não ver, sempre o agradava, sempre fazia tudo por ele.

Ian Gama, um dos amigos, deixou escapar uma risada desdenhosa:

— Ha! Enrico, você é mesmo um mestre. Como conseguiu treinar uma... uma cunhada tão obediente assim? Ensina o segredo pra gente, vai!

Era justamente o homem que havia dito momentos antes:

“Isso já é mais do que ela merece.”

O comentário descarado de Ian fez todos no camarote soltarem risadas altas e zombeteiras. Apenas Jean Teixeira permanecia com a testa franzida, visivelmente incomodado.

Os risos ensurdecedores ao redor já não alcançavam mais Talita, que parecia imune ao ambiente. Ela olhou para Enrico, e naquele instante, toda e qualquer centelha de afeto que ainda pudesse restar em seus olhos desapareceu por completo.

— Isso é tudo que eu poderia fazer pelo Sr. Enrico. Enrico, vamos terminar. — Sua voz não era alta, mas carregava uma firmeza inabalável.

Assim que as palavras saíram de sua boca, o silêncio tomou o lugar. Por um breve momento, ninguém se mexeu, até que o camarote explodiu novamente em gargalhadas ainda mais altas.

Talita, no entanto, permaneceu impassível. Sem olhar para trás, virou-se e saiu do camarote. Enquanto sua figura desaparecia pela porta, Ian finalmente percebeu algo incomum na situação. Tentando aliviar a tensão, perguntou meio hesitante:

— Enrico, ela foi embora de verdade. Você não vai atrás dela para explicar?

— Explicar o quê? — Antes que Enrico pudesse responder, outro amigo seu o interrompeu, com um tom cheio de convicção. — Não se esqueça de como ela implorou para ficar com o Enrico no passado. Uma impostora que roubou 18 anos da vida de outra pessoa, uma vira-lata que todos desprezam. Sem o Enrico, como ela vai sobreviver? Eu aposto que, antes de amanhecer, ela vai voltar chorando e implorando pelo perdão dele.

Enrico girava o vinho em sua taça com seus dedos longos e elegantes, observando vagamente o líquido vermelho dançar. Seu olhar voltou-se por um instante para a porta por onde Talita havia saído, mas logo desviou, e um leve sorriso frio curvou-se em seus lábios.

Ninguém conhecia melhor do que ele a dependência que Talita tinha dele. Uma mulher sem lar, sem rumo, jamais teria coragem de deixá-lo. Para ele, era apenas uma pequena birra. "Ela não tem motivo para estar tão chateada assim", pensou.

— Esqueçam isso. Vamos beber. — Disse Enrico, com um tom indiferente.

Os risos e a algazarra recomeçaram, e todos logo esqueceram o ocorrido.

Do lado de fora do clube, Talita chamou um carro e foi direto para a mansão Ócais. Assim que chegou, tomou um banho, limpou e tratou os ferimentos no braço, e começou a arrumar suas coisas. Sua decisão já estava tomada: não tinha mais motivos para permanecer.

Quando sua verdadeira identidade foi revelada, a família Pinto a acusou de ter arruinado a vida da verdadeira herdeira, Flora, que havia crescido em um orfanato e sofrido todos aqueles anos. Como punição, não apenas a expulsaram e a proibiram de usar o sobrenome Pinto, mas também a forçaram a devolver cada centavo que haviam "investido" nela durante sua vida.

Flora, em particular, havia feito coisas terríveis com ela. Coisas que até hoje assombravam Talita, transformando-se em pesadelos recorrentes. Na época, Talita se tornou uma pária, alvo de desprezo e ódio generalizado. Amigos, conhecidos, até mesmo aqueles que ela considerava próximos, a abandonaram sem hesitação.

Foi Enrico quem a tirou das ruas, quem a acolheu quando ela não tinha mais ninguém. No momento mais sombrio de sua vida, ela o viu como um salvador e depositou nele toda a sua fé e amor.

Mas agora…

O contrato que Talita havia arriscado a vida para trazer de volta seria sua última dívida paga. Para ela, aquilo encerrava qualquer laço que ainda pudesse existir entre eles.

Quando finalmente terminou de arrumar as malas, encontrou algo guardado no fundo do armário que a fez hesitar. Seus dedos tremeram ao tocar os troféus que haviam sido escondidos ali. Eles eram as marcas de um passado brilhante, de quando ela era conhecida como uma prodígia.

No auge de sua juventude, Talita havia recusado a oferta do renomado Professor Felipe, que enxergava seu talento e estava disposto a financiá-la em sua formação, independentemente de sua origem humilde. Ele até havia oferecido isenção total de taxas para que ela continuasse seus estudos. Mas, por Enrico, ela rejeitou tudo, quebrando o coração de alguém que realmente acreditava nela.

Agora, olhando para trás, ela entendia o erro que havia cometido.

Depois de alguns momentos de reflexão, Talita colocou os troféus na mala, fechou o zíper e, com firmeza, carregou suas coisas para fora da mansão.