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Capítulo 8

Author: Nina Prado
A confusão foi tão grande que logo chegou aos ouvidos do gerente-geral do Jardim Imperial.

O homem correu às pressas, o suor escorrendo pela testa.

— Sr. Henrique, isto….

O olhar de Henrique cortou-o como lâmina.

— Uma amiga minha desapareceu. — A voz saiu plana, mas carregada de autoridade. — Esvaziem o local. Agora.

— Esvaziar…?

As pernas do gerente tremeram. Esvaziar o clube inteira significava um prejuízo enorme. Mas, diante de Henrique, um homem que fazia o mundo dos negócios tremer com um único gesto, quem ousaria dizer não?

Restou-lhe apenas assentir com rapidez e curvar-se em reverência.

— Sim, Sr. Henrique. Vou providenciar de imediato.

Enxugando o suor, o gerente criou coragem e empurrou a porta do salão onde Cristiane estava.

Lá dentro, o ar carregava uma tensão sutil. Alexandre segurava uma taça de vinho, o olhar irônico fixo em Marcelo sugeria uma conversa importante.

— Senhores, mil desculpas por interromper. — O gerente forçou um sorriso, mas a voz tremia. — Tivemos um imprevisto no clube. Precisamos esvaziar o local temporariamente. Por favor, compreendam….

Hesitou um instante e completou:

— Esta refeição, claro, ficará por conta da casa.

Uma mesa inteira interrompida no meio do jantar? Quem ficaria satisfeito? Alguns acompanhantes de Alexandre já mostravam irritação.

O rosto de Marcelo, até então sereno, escureceu assim que ouviu "esvaziar o local".

"Henrique?

O que ele estava tentando? Além dele, quem teria poder para forçar o clube a fechar as portas?"

No assento principal, Alexandre pousou o copo com calma calculada. O tilintar leve do vidro na mesa soou como ameaça.

Ele soltou uma risada curta e fria. Já adivinhara a autoria da manobra, mas o método lhe pareceu baixo demais.

— O prestígio do nosso querido Henrique é realmente impressionante.

Virou o rosto e, com voz calma, porém afiada como lâmina, ordenou ao João:

— Vá. Compre este clube para mim. — Uma ordem simples, carregada de pressão sufocante. — A partir de hoje, será o refeitório dos funcionários do Grupo Martins.

O ar se cortou em desafio. Era uma declaração de guerra dirigida a Henrique.

O gerente quase perdeu o fôlego. Engoliu em seco e apressou-se:

— Sr. Alexandre, por favor, não se irrite! É que… Ainda há pouco, o Sr. Henrique já incorporou o restaurante ao Grupo Carvalho….

O silêncio congelou o ambiente.

Os olhos de Alexandre brilharam, gelados como facas.

Marcelo franziu o cenho com força e levantou-se.

— Sr. Alexandre, peço desculpas. Preciso verificar o que está acontecendo.

Ele tinha de descobrir qual era o jogo de Henrique. Antes de sair, deixou uma ordem clara ao gerente:

— Ninguém incomode esta mesa. Nenhum deles.

— Sim, sim, claro. — O gerente quase se atrapalhou na resposta.

A porta se fechou atrás de Marcelo.

Cristiane segurava o copo de água, os dedos ficaram esbranquiçados de tanto apertar.

"Henrique… O que você está tramando agora?

Esvaziar o clube. Comprar o restaurante. Era só um jantar, e mesmo assim aquele homem vinha para enlouquecer tudo."

Um aperto inexplicável tomou-lhe o peito.

Do outro lado, Henrique praticamente arrombou a porta da sala de descanso dos funcionários.

A cena diante dele contraiu-lhe as pupilas, o coração quase parou.

Maria estava prensada contra a parede por um homem de uniforme de garçom. Ele a segurava pelo pescoço com uma mão e, na outra, brandia uma faca de frutas. Os olhos ardiam em loucura, o rosto distorcido, a boca murmurando palavras desconexas.

Um fanático.

O rosto de Henrique empalideceu por um segundo, antes que uma fúria avassaladora o tomasse.

Moveu-se como sombra, rápido demais para qualquer reação do agressor.

Um chute violento.

O homem voou como boneco de pano, bateu na parede e despencou, contorcendo-se no chão.

A faca tilintou no piso.

As forças de Maria se esvaíram, e ela desabou.

Ao ver Henrique, as lágrimas jorraram.

Ela se arrastou até ele e se lançou em seus braços, agarrando-se com desespero, soluçando sem ar.

— Rick… Eu achei… Eu achei que ia morrer.

O corpo dela tremia por inteiro, a pele, pálida como papel, mal sustentava o próprio peso.

Henrique a apertou contra o peito, sentindo cada tremor como facadas no próprio coração.

Acariciou-lhe as costas com cuidado. A voz saiu mais suave do que nunca, carregada de proteção:

— Já passou, Mia. Já passou. Eu estou aqui.

Se tivesse chegado um segundo mais tarde…

Ele não ousava imaginar o desfecho.

Nos olhos de Henrique brilhou um ódio feroz, profundo, assassino.

Com todo o cuidado, ergueu Maria nos braços.

Ela, como uma gatinha assustada, encolheu-se contra ele, o rosto escondido em seu peito, buscando o calor e a segurança de que tanto precisava.
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