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capítulo 4

Author: NaMedida
Fabrício empurrou a tigela de mingau na minha direção, visivelmente contrariado:

— Valentina, por que você tá tão difícil ultimamente? Vai me dizer que realmente não quer mais fazer a cerimônia? A mesma que você sonhou durante cinco anos?

— Ou será que quer me empurrar pros braços da Mafalda, só pra transformar aquelas suas suspeitas infundadas em realidade?

— Vai, toma o mingau, tá bom? Hein?

Fiz um gesto de recuo. Não queria discutir. Não naquele momento, não quando qualquer atrito poderia virar uma tempestade.

Sabia que ele estava usando o casamento como chantagem pra me dobrar.

Era assim que ele sempre funcionava. Mas desta vez eu não cederia.

Só que no rosto, não deixei transparecer. Disse apenas que beberia mais tarde, quando esfriasse.

Fabrício pareceu satisfeito, achando que eu havia cedido mais uma vez. Levantou-se, tranquilo, e saiu do cômodo.

Entrou no quarto da Mafalda. Pela fresta da porta, ouvi a voz dele ao telefone:

— Achei a de renda branca, a de tule rosa… Mas aquela preta de seda que você falou, não tá aqui.

— No fundo da gaveta? Ah, achei! Mas desde quando você tem essa peça preta? Nunca vi.

Do outro lado da linha, uma risadinha manhosa.

E Fabrício, com um cuidado quase devoto, levou a peça de lingerie preta até o rosto, aspirando o cheiro, sorrindo satisfeito.

Eu estava parada na porta, sentindo o estômago revirar.

Quando ele me notou, saiu do quarto com o rosto tenso, tentando disfarçar:

— Não pensa besteira. A Mafalda vai ficar uma semana no hospital e pediu pra eu trazer roupas limpas. Ela tem alergia a essas roupas descartáveis que dão por lá.

Entregou-me uma sacola e, num tom ríspido, ordenou:

— Aqui estão as roupas íntimas que ela tirou antes de ir pro hospital. Lava tudo, capricha, e pendura direitinho no varal exclusivo dela na varanda.

Franzi a testa, sem pegar a sacola.

Ao notar minha resistência, ele me empurrou com força, a expressão carregada.

Fabrício explodiu, a voz carregada de raiva:

— Valentina, eu fui tolerante demais com você! Nem isso você consegue fazer? Pra que eu preciso de você então?

— Se não quiser lavar, eu lavo. Desde criança sou eu quem cuida das roupas íntimas da Mafalda. Ainda bem, porque suas mãos sujas só iam manchar as calcinhas dela!

Com a sacola nas mãos, Fabrício entrou mancando no banheiro. Quando saiu, soltou apenas:

— Daqui a sete dias a Mafalda recebe alta. Vou ficar com ela. Justo no dia da alta é o dia da nossa cerimônia. Eu volto pra te buscar e te levar pro local do casamento. Até lá, fica quieta em casa. Não me arrume confusão. Você sabe que cancelar o casamento pra mim é só uma questão de falar.

Assenti com a cabeça e o vi sair.

Naquele mesmo dia, vi Mafalda postar uma foto nas redes sociais: sobre o lençol branco do hospital, uma lingerie roxa provocante.

"Fabrício me deu outra lingerie nova. Ele disse que já sabe de cor o meu tamanho."

Sorri, cliquei no curtir e fiz um print.

Ela exibiu essa intimidade por seis dias seguidos.

Só no último dia o tom mudou:

"Por me salvar e cuidar de mim, Fabrício atrasou o tratamento da perna ferida e ficou com uma sequela permanente. Mas não tem problema. Eu vou cuidar dele pro resto da vida."

E eu também não fiquei parada. Fui apagando cada vestígio meu daquela casa.

Na manhã do casamento, coloquei meu vestido de noiva no quarto da Mafalda.

Em seguida, enviei para Fabrício todos os prints que guardara e bloqueei cada contato dele.

Depois, arrastei minha mala, entrei num táxi e segui direto para o aeroporto.
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