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Capítulo 6

Auteur: Moky
Nessa noite, Mariana ficou acordada até o amanhecer, e ela mesma não sabia por quê. Talvez fosse porque o aquecedor do quarto queimava intensamente, diferente da cabana úmida, fria e sombria onde ela havia dormido durante três anos. Ou talvez porque as cobertas estavam secas, macias e quentes sobre seu corpo.

De todo modo, tudo parecia tão bom que Mariana sentia como se estivesse vivendo em outro mundo, irreal. Ela acreditava que ficaria na Lavanderia Imperial por toda a vida. Só quando o sol da manhã entrou pelo quarto, no dia seguinte, ela despertou como de um sonho e entendeu que havia realmente voltado.

Natália havia preparado roupas novas para ela, provavelmente compradas em uma loja de confecção. Ainda não serviam muito bem, mas ao menos as mangas cobriam os ferimentos em seus braços. Por isso, bem cedo, ela foi até o pátio da matriarca Lovante.

Naquele horário, a matriarca da casa, Cássia Lemes, estava em oração diante de uma estátua de divindade. Mariana, obediente, permaneceu à porta, sem intenção de interromper.

Mas, como se tivesse sentido sua presença, Cássia se virou de repente. Seus olhos logo se encheram de lágrimas, e ela disse:

— Voltou?

Essa palavra baixa carregava infinita tristeza.

Mariana não conseguiu conter as lágrimas. Ela entrou e se ajoelhou, cumprimentando:

— A neta ingrata Mariana saúda a avó.

— Venha, deixa eu olhar direito para você!

Cássia ainda estava ajoelhada diante do altar, mas estendeu as mãos para a neta. Mariana se aproximou de joelhos até seu lado, para que a avó pudesse vê-la bem. A mão magra e trêmula de Cássia passou suavemente por seu rosto.

— Está mais magra.

Três palavras bastaram para que as lágrimas de Mariana jorrassem. Ela se atirou no colo da avó, a chamando repetidamente de "vó", fazendo com que até as servas ao redor chorassem em silêncio.

Três anos antes, quando Amanda voltou, quase todos na Casa do Marquês Lovante se colocaram ao lado dela. Sentindo dor pelo que aconteceu com Amanda, a consolaram, se preocuparam com ela, diziam a ela que dali em diante todos a amariam.

Apenas Cássia havia percebido Mariana, parada num canto, sem saber como se portar. Foi ela quem disse que, não importava o que acontecesse, Mariana sempre seria sua netinha mais querida e obediente.

Depois que Mariana foi mandada para a Lavanderia Imperial, ela ouviu dizer que a avó chegou a ir pessoalmente ao palácio implorar à Imperatriz por ela, mas, antes de conseguir audiência, foi humilhada pela princesa e expulsa.

As servas do palácio zombaram da matriarca Lovante, dizendo que ela não reconhecia o próprio lugar. Mariana, furiosa, espancou aquelas servas insolentes. Quase foi morta pela supervisora por isso, mas não se arrependeu. Desde então, ninguém mais ousou falar mal da matriarca Lovante diante dela.

Avó e neta se abraçaram chorando por muito tempo, até que, pouco a pouco, as emoções se acalmaram. Cássia olhou para ela com ternura, dizendo:

— O importante é que voltou. Agora que a avó está ao seu lado, ninguém mais pode te fazer mal!

As mesmas palavras ditas por Natália, Mariana não acreditava. Mas, ditas por Cássia, aqueceram seu coração que esteve congelado por três anos. Ela assentiu com firmeza, olhando para o rosto cheio de rugas da avó, com uma pontada de dor no peito.

— Então a avó tem que viver muitos anos e sempre ficar com a Mari.

— Claro! — Cássia sorriu com lágrimas nos olhos.

Quando Natália trouxe Amanda para cumprimentar a Cássia, Mariana já havia tomado o café da manhã com a avó.

Ao ver as duas sentadas lado a lado, íntimas e carinhosas, Natália também ficou bem emocionada. Porém, as palavras que saíram de sua boca foram:

— Sogra, agora que Mari voltou, será que podemos decidir o casamento com a família Mendes?

Mariana estava sentada de lado, virada para a avó, e não olhou para Natália em nenhum momento. Ao ouvir aquilo, não teve qualquer reação, mas achou estranho: "Que relação teria a minha volta com o casamento de Amanda com a família Mendes?"

Cássia, então, apertou sua mão e perguntou com extrema doçura:

— Mari, diga para mim... Você ainda gosta de Kato?

Mariana ficou surpresa e, instintivamente, olhou para Amanda. Esta estava tensa, mas ao encontrar seu olhar, abaixou a cabeça como uma garotinha injustiçada. Natália, por sua vez, segurou a mão de Amanda e se inclinou em sua direção, como se temesse que Mariana a machucasse.

Os olhos de Mariana doeram. Antigamente, era ela quem estava sob a proteção de Natália...

Ela desviou o olhar. Dizer que não havia amargura seria mentira, mas já não importava mais.

Ela compreendeu a situação: o noivado com Kato ainda era de Amanda, mas Cássia, por piedade, se lembrava do quanto Mariana o amara, e por isso faria questão de lutar por ela, caso Mariana o quisesse. Amanda e Natália estavam tensas porque temiam ouvir um "sim".

Mas, claramente, não precisavam se preocupar. Mariana sorriu para a avó e disse:

— Avó, já não gosto mais do General Kato.

Do lado de fora, um pé que ia subir o degrau parou bruscamente. Dentro da sala, ouviu-se a voz de Cássia:

— De verdade? Mas você gostava tanto daquele rapaz da família Mendes...

— Coisas de adolescente sem juízo. — Mariana a interrompeu. — Além disso, o noivado da jovem herdeira Lovante com o jovem herdeiro Mendes não tem nada a ver comigo. Avó, meu sobrenome é Rossi.

Ela já havia contado à avó sobre a mudança de sobrenome. Mesmo assim, Cássia se sentiu magoada por ela. A velhinha abraçou Mariana e assentiu várias vezes, murmurando:

— Sim, Rossi é bom. Rossi é um bom sobrenome.

Não importava o nome. Para ela, Mariana sempre seria a neta mais querida.

Nesse momento, duas figuras entraram: Teodoro e Kato.

Desde que viu Mariana no dia anterior, Teodoro não sorriu mais. Agora, ao ouvir a conversa, seu rosto ficou bem sombrio. Ele se aproximou e cumprimentou a avó:

— Teo saúda a avó. — Em seguida, sem esperar resposta, ele se voltou para Mariana e a repreendeu. — O livro genealógico nunca foi alterado, que sobrenome é esse que inventou para si mesma?

Teodoro sabia que o pai de Mariana se chamava Rossi, mas ela havia crescido como filha do Marquês Lovante. Como ousava usar o sobrenome de outro homem? Para Teodoro, ela ainda era a herdeira mais velha da família Lovante.

Vendo o temperamento explosivo do filho, Natália franziu o cenho e ralhou:

— Teo! Fale direito!

Ele só então olhou para a avó e, percebendo sua expressão severa, conteve um pouco da raiva.

Então, a voz fria de Mariana soou, como uma adaga curta e afiada, cortando as máscaras de falsidade daquela casa:

— No segundo dia em que fui para a Lavanderia Imperial, o próprio Marquês Lovante disse ao Imperador que meu sobrenome era Rossi. Se o livro genealógico não foi alterado, então o Marquês cometeu o crime de enganar o soberano.
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