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Capítulo 0008

Author: Ana Luiza Mendes
Patrícia agradeceu, pegou as frutas e os presentes e seguiu direto para o quarto do hospital.

Ao abrir a porta, encontrou a figura frágil e abatida da avó na cama. Sentiu o nariz arder e os olhos se encheram de lágrimas.

— Vovó! — Apressou-se em se aproximar, escondendo a emoção atrás de um sorriso carinhoso. — Estava morrendo de saudades!

— Paty! Minha boba, eu também senti sua falta. — Rafaela Borges segurou o rosto da neta com as mãos trêmulas, emocionada. — A viagem foi cansativa? Olha só, parece que você emagreceu.

— Nem um pouco cansativa, vovó. — Patrícia balançou a cabeça, mantendo o sorriso. — Vovó, agora eu trabalho no Grupo Santana. O salário é ótimo e os benefícios são incríveis! Olha o que eu trouxe para você. Esses são produtos típicos que peguei durante minhas viagens a trabalho, tudo presente do novo resort da nossa empresa.

Patrícia estava dizendo a verdade.

Os produtos realmente eram brindes distribuídos pelo resort aos funcionários.

Nas últimas semanas, por causa de Fabiano, seu estado emocional havia despencado, e ela emagrecera bastante. Inventou que estava viajando a trabalho para evitar visitar a avó no sanatório, temendo preocupá-la.

Agora, aproveitando que tinha voltado do resort e que suas bochechas haviam recuperado um pouco de volume, finalmente criou coragem para levar os produtos típicos e visitar a avó.

Para Patrícia, sua avó era a pessoa mais importante do mundo.

Sua mãe falecera quando ela ainda era criança. Pouco depois, seu pai se casou novamente e trouxe para casa uma meia-irmã, alguns meses mais nova.

A convivência em casa se tornou insuportável. Sem o carinho da avó, Patrícia não sabia como teria sobrevivido.

Ela se lembrava claramente do dia em que a doce e gentil Rafaela apareceu em sua casa com uma faca de cozinha, os olhos vermelhos de raiva. Sem hesitar, tirou Patrícia daquela casa, quando ela estava quase morrendo de fome.

Sem Rafaela, Patrícia não teria chegado tão longe.

Agora, porém, a saúde da avó estava se deteriorando rapidamente por causa de uma doença grave. Internada em um sanatório, ela precisava de cuidados médicos e monitoramento constante.

Patrícia queria ficar ao lado dela o tempo todo, mas a realidade não permitia.

Além disso, na Cidade A, onde cada metro quadrado valia uma fortuna, o custo do sanatório era exorbitante.

Por sorte, o Grupo Santana a contratou no momento mais difícil. Apesar das dificuldades, o bom salário permitia que ela se arca com o tratamento da avó.

Perder aquele emprego era algo que Patrícia sequer pensava.

— Você sempre foi assim… — Rafaela suspirou. — Só traz boas notícias e guarda os problemas para si mesma…

Ela fez uma pausa, lançando um olhar desconfiado para a porta. Quando não viu ninguém entrar, franziu a testa, preocupada:

— Ultimamente, você nem tem falado do Fabiano nas nossas conversas. Ele está muito ocupado? Como estão vocês dois? Não brigaram, né?

O coração de Patrícia apertou.

Esse era mais um motivo pelo qual ela adiava a visita: temia as perguntas sobre Fabiano.

Fabiano e ela cresceram juntos. Embora ele parecesse ser um homem íntegro, sabia como conquistar as pessoas, especialmente Rafaela, que o adorava e praticamente o considerava seu futuro neto-genro.

Como poderia contar que ele não só a traiu, mas que estava prestes a se casar com outra mulher?

Ela não podia contar a verdade, com a saúde da avó tão frágil, qualquer choque seria completamente inadmissível.

Rafaela percebeu algo na expressão de Patrícia e imediatamente ficou preocupada:

— Vocês brigaram mesmo? Paty, a convivência exige paciência e compreensão. Conheço o Fabiano desde criança. Com ele ao seu lado, fico mais tranquila.

A inquietação de Rafaela foi tanta que os aparelhos começaram a emitir um som de alerta, e ela começou a tossir intensamente.

Patrícia, temendo que a saúde da avó piorasse, apressou-se a tranquilizá-la:

— Vovó, por favor, calma! Não se preocupe. Eu e o Fabiano não brigamos. Ele só está muito ocupado com o trabalho. O Grupo Miranda teve alguns problemas, por isso ele não pôde vir comigo desta vez. Eu vim direto do trabalho para cá. Está tudo bem entre nós, eu prometo.

Patrícia falou com a voz suave e firme, tentando acalmá-la.

— Tem certeza? — Rafaela apertou a mão da neta, buscando uma confirmação sincera. — Paty, você sabe que não pode mentir para mim…

Patrícia engoliu em seco, mas fez um gesto afirmativo com a cabeça.

— Tenho, sim, vovó.

— E o Grupo Miranda? Está tudo bem por lá? — Rafaela ainda parecia preocupada.

— Não se preocupe, é só um pequeno problema. Eu confio que o Fabiano vai resolver tudo direitinho. — Patrícia forçou um sorriso, sabendo que estava mentindo para a avó.

Com essa explicação, Rafaela finalmente relaxou, e os números no monitor ao lado da cama estabilizaram.

— Que bom… — Rafaela segurou a mão de Patrícia com carinho. — Da próxima vez que vier, traga o Fabiano. Tenho algo importante para conversar com vocês.

— Está bem, vovó. — Patrícia assentiu, amargurada.

Ela não ousou contrariar a vontade da avó, temendo que a cena de antes se repetisse.

Patrícia permaneceu no sanatório até o fim do horário de visitas.

Quando saiu, o céu já estava escuro e o vento frio cortava seu rosto.

Patrícia se encolheu dentro do casaco, segurando o celular com as mãos trêmulas, hesitando entre ligar para Fabiano e pedir para ele ajudá-la a encenar uma situação.

Dessa forma, ela conseguiria acalmar a avó, fazendo com que não se preocupasse tanto e, quem sabe, até se sentisse mais tranquila.

Na próxima vez, se precisasse vir sozinha, com certeza não conseguiria dar conta da situação.

A enfermeira havia avisado que o estado de Rafaela piorara nos últimos dias e que qualquer abalo emocional poderia ser perigoso.

Além disso, as palavras sérias da avó, que claramente queria lhe deixar algumas orientações sobre o que aconteceria após sua partida, tornaram a conversa ainda mais grave.

Pensar nisso fez as lágrimas de Patrícia escorrerem pelo rosto.

Ela não conseguia sequer imaginar como seria sua vida sem a avó. O que restaria para ela, se perdesse alguém tão importante?

Pegou o celular e, ao ver o número de Fabiano, estava prestes a ligar, quando o aparelho vibrou.

Ao ver quem estava ligando, uma onda de pânico tomou conta dela. Ela respirou fundo antes de apertar o botão para atender.

— Onde está? Por que ainda não voltou para casa?

A voz clara e fria de Roberto atravessou a noite gelada, chegando aos ouvidos de Patrícia e, inexplicavelmente, fazendo seu nariz arder.

Antes, só a avó se preocupava em saber onde ela estava e quando voltaria para casa.

Mesmo sabendo que Roberto não estava realmente interessado, ela não pôde deixar de sentir uma pontada no peito, como se, por um momento, houvesse alguém se importando com seu paradeiro.

Pelo menos, isso a fazia sentir que não estava tão sozinha.

Na Mansão das Águas Tranquilas, Roberto olhava com expressão sombria os documentos recém-entregues.

A foto na capa do arquivo mostrava uma Patrícia bem mais jovem do que a atual, mas o sorriso em seu rosto ainda permanecia radiante e puro.

Ele leu atentamente as palavras nas páginas, suas sobrancelhas espessas se franzindo de preocupação.

Perdeu a mãe ainda criança, foi expulsa de casa pela madrasta da família Bastos e cresceu ao lado da avó.

Roberto mal podia imaginar como alguém que enfrentou tantas adversidades ainda conseguia manter aquele sorriso.

Foi quando a voz suave, levemente nasalada, do outro lado da linha o trouxe de volta ao presente.

— Sr. Roberto, estou a caminho… Já estou chegando…
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